Compostela: 50 anos do 25 de Abril

Óscar Senra Gómez: “André é uma história independente que cria espaços diferenciados e atrai novas personagens”

Entrevista de Tiago Alves Costa a Óscar Senra Gómez en Quiasmo:
“(…) – Quiasmo (Q): Como surgiu a ideia para o romance André e quais foram as motivações que te levaram a escrevê-lo?
– Óscar Senra Gómez (OSG): Por um lado, nasce como o final de uma trilogia, dá continuidade a algumas das histórias de Sete dias com Elisa e 1928 km, ao mesmo tempo é uma história independente que cria espaços diferenciados e atrai novas personagens. Ainda que com ele dou por finalizada esta espécie de saga, André não chegou para resolver as dúvidas que deixaram no ar os anteriores livros. Acho que contribui com novas tribulações, em vez de certezas. Por outro lado, esta que intitulei de ‘Trilogia de Vedra’, surgiu da necessidade de afastar-me da minha zona de conforto e de indagar sobre assuntos que me interessam, como a masculinidade hegemónica ou o idadismo.
– Q: A história decorre em locais tão diferentes como Vedra e Oslo. Como conseguiste integrar esses ambientes de forma coesa na narrativa?
– OSG: Ainda que afetam, os locais são secundários no desenvolvimento da história. Ao focar a atenção nas pessoas, é mais fácil moverem-se de um lugar para o outro sem por isso causar estranheza. De facto, no livro aparecem também Adina, paróquia de São Genjo de onde é Elisa, a protagonista principal da trilogia, Ålesund, de onde era Simen, o seu companheiro, ou Santiago de Compostela, onde conviveram durante décadas antes de decidirem viver em Vedra. No anterior romance, 1928 km, acontecia algo similar, Vedra partilhava protagonismo com Bruxelas. Não procuro um contraste cidade-rural. Esses espaços tão diversos são também um reflexo da realidade de muitas pessoas.
– Q: André aborda uma acusação grave ocorrida há cinquenta anos atrás, que agitou a família Fredberg. Qual a mensagem que pretendes transmitir aos leitores ao explorar temas como justiça e memória?
– OSG: Vejo este livro como uma indagação que não finaliza com um juízo que feche a história e faça mais agradável a leitura. São de poucas certezas. Em parte queria evitar julgar as personagens, também não condicionar a quem lê dirigindo-o para uma solução. Não quero dizer com isso que justifique a quem é acusado. Nem sequer é esse o fundo da questão. Justiça e memória são duas das palavras que acompanham a trilogia toda, mas como um questionamento, como fazia Elisa no primeiro romance, Sete dias com Elisa, perseguindo o significado da felicidade. (…)”