Entrevista a Teresa Moure na revista Palavra Comum:
“- Palavra Comum (P): Que é para ti a literatura?
– Teresa Moure (TM): Uma forma de expressão artística sem alto investimento. Se tivesse dinheiro seria escultora; se tivesse ainda mais dinheiro preferiria dirigir filmes…. Também é uma forma de digerir a realidade, de suportar o sofrimento da existência. Psico-análise de baixo custo. Vou vendo que o da economia tem bastante a ver com o meu pendor para a literatura…
– P: Como entendes (e praticas, no teu caso) o processo de criação literária -e artística, em geral-?
– TM: Normalmente sabemos pouco do processo de criação, onde intervêm, junto às propostas estéticas ou ideologias, também as feridas que arrastamos… Digamos que quando uma ideia me persegue durante um tempo –uma personagem, uma história–, quando aparece reiteradamente, torna para mim matéria literária. E essa matéria, obsessiva, à medida que a trabalho com palavras, desdramatiza-se e visa conseguir a forma dum videoclipe mental que depois só tenho que transcrever. A criação apenas consiste, portanto, em fazer uma massagem à ideia. O interessante é que esse processo serve para amaciar-me por dentro. (…)
– P: Palavra Comum: Que opinião tens sobre o sistema literário galego a dia de hoje?
– TM: A literatura galega, de finais do século XIX até hoje, é um produto de resistência contra-cultural, um projeto coletivo que define o nós galego frente ao poder do espanhol. Por isso, embora a marginalização da língua nas estruturas de poder, a literatura galega tem-se revelado como original e poliédrica: pense-se na ferocidade de Blanco-Amor frente ao contexto da literatura realista espanhola do seu tempo ou, mais atrás, na radical modernidade de Rosalia de Castro frente ao Romanticismo Hispano. A dia de hoje a literatura galega continua a ser, em boa medida, uma arma para a resistência, e para a dissidência. Nesse sentido, o principal perigo é o da castração. Se a língua não conquistar espaços sociais dinâmicos e reais, se não passar efetivamente à seguinte geração, o risco é vir a dar num território domesticado, que ocupe espaços educativos de formação –o género infantil e juvenil mais ou menos doutrinal, leituras para os liceus, com temas apropriados e pouca extensão–. Porém, entendo que o conjunto de escritores e escritoras temos ao nosso favor o facto de estarmos a nos identificar com uma língua desprestigiada, o que nos torna em ativistas sociais. Não estou a falar simplesmente da literatura “de compromisso”, mas de algo mais elementar: num momento de crise da objetividade e das verdades únicas, a literatura numa língua acossada pelo poder produz uma condição de subalternidade que é, em si própria criativa. É uma forma de “negritude”, de exclusão, como o foram o Black Power ou o movimento Queer. Também como eles, corre o risco de se acomodar e atraiçoar as origens. (…)”