Entrevista de Carlos Loureiro a Vítor Vaqueiro en Noticieiro Galego:
“(…) – Noticieiro Galego (NG): Falarmos da poesía galega dos anos 70-80 é falarmos dunha das súas etapas cume e ademais dunha clara transición poética que ía da man dos cambios sociais. Que lembras daquel movemento poético que tanto supuxo para a nosa lírica contemporánea?
– Vítor Vaqueiro (VV): Em realidade eu sempre fui uma pessoa com pendor a me isolar de movimentos e grupos literários, o qual não quer dizer, como bem sabem as pessoas que me conhecem, que militasse no individualismo ou na insolidariedade. As minhas amizades sempre estiveram condicionadas pola relação pessoal e não pola questão da escrita, ainda que teria de sinalar que a literatura me deu excelentes, embora escassas, amizades que sigo a conservar no dia de hoje. Provavelmente o que lembro com maior claridade, do ponto de vista pessoal, foi a posta em marcha da AELG, o I Congresso de Poio no ano 1981 e os começos da revista Escrita —junto com Afonso Pexegueiro, Alberto Avendaño, Margarita Ledo e Pepe Cáccamo— a qual, infelizmente, faleceu ao cabo de dous anos por falta de generosidade, de visão cultural e de perspectiva de futuro e de cujo falecimento todas as pessoas que protagonizamos o seu nascimento somos, em diferentes proporções, culpáveis.
– NG: Erades conscientes que estabades a crear un novo elo na nosa lírica cara unha clara renovación e universalización?
– VV: Não é fácil essa resposta, porque me estás a perguntar por ocorrências de há quase quarenta anos. Ora, há uma questão que compre considerarmos: não gostávamos do panorama da poesia galega, com forte pegada de social realismo. Deixa-me que pense na gente da minha idade, concretamente em algumas pessoas, cuja amizade se remonta décadas atrás e que vivêramos os acontecimentos do 68 em Compostela: vou escolher um par delas: Xabier Paz e Pepe Cáccamo; em certa maneira, também dum excelente leitor de poesia que, porém, nunca chegou a publicar livro nenhum, Xulio Taboada. Há que considerar que líamos a Vallejo, a Eliot, a Ory, a Cesaire, a Quasimodo, a Valente, a Pound ou a Ferlinghetti e, como compreenderás, o que estava a ocorrer na poesia galega, com uma legião de imitadores de Celso Emilio, resultava um pouco alheio a nós. O qual não quer dizer desprezo polo que outras pessoas faziam, mas constatar um diferente ponto de vista estético. Mesmo essa pegada de social-realismo é mui presente no meu primeiro livro, Lideiras entre a paisaxe, o qual implica que não era fácil desprender-se da pressão ambiental, por muito que desejássemos fugir dela. (…)
– NG: No 2004 a túa obra poética foi recolleitada por “Espiral Maior” so o título Traxectorias. Obra poética (1977-2002). Sentiches que esta recompilación xa era algo máis ca unha simple obra? Un recoñecemento e unha mostra para futuras xeracións?
– VV: Quando a um se lhe oferece a possibilidade de publicar toda a obra produzida até um determinado momento, pensa-se, inevitavelmente, em termos de balanço, de feche de um ciclo. Traxectorias era o resumo de 25 anos de atividade poética, ainda que não continuada. Era também a possibilidade de dar a conhecer dous livros, um deles inconcluso, A fenda no horizonte, e outro o que era uma primeira entrega dum projeto ainda em percurso: Teoria do coñecemento, que formulava, e segue a formular, uma proposta que eu já tratara, como é a questão de um livro de poemas em prosa —se calhar em falsa prosa—. E é, finalmente, a constatação de que, como sinala o limiar, alguns poemas são “não só de conceição abjeta, mas de execução execrável”, porque o transcurso do tempo é equivalente —se queremos mover-nos num plano terráqueo — a uma térmita gulosa que todo engole ou —de desejarmos níveis cósmicos— a um buraco preto que consome todo quanto se achega ao seu horizonte de acontecimentos. A publicação duma recompilação é também, se sabemos interpreta-la, um brilhante antídoto contra a soberba. (…)
– NG: Por certo que esta obra [Palavras a Espártaco] veu acompañada da polémica normativa… Até que punto aínda hoxe o noso idioma e a nosa administración lingüística non foron capaces de deixar de antepoñer a forma linguística á calidade literaria?
– VV: Não é que a administração linguística não fosse quem de deixar de antepor, senão que não desejou tal cousa. Em realidade, ainda que se queira encobrir a verdade, a polêmica normativa tem um forte caráter ideológico e político. Existe uma posição por parte do poder que poderíamos qualificar como estadual, que se resome em: “esta é a normativa e há que cumpri-la” que, no fundo, é muito semelhante à que hoje existe no Estado a respeito de Catalunya: “esta é a Constituição e há que cumpri-la”. Outro possível ponto de vista, mais democrático e menos prepotente, poderia ser: “bom, existe um problema, existem diferentes pontos de vista a respeito disto; vamos sentar e falar”. Convém não esquecer que a norma atual tem os seus alicerces na ditadura e é orientada por uma pessoa, Constantino García, que nem é galego, nem vivera na Galiza, nem tinha nenhuma publicação em galego. São justamente as circunstâncias derivadas duma situação de ditadura as que possibilitam o acesso à direção da política linguística a Garcia e afastam Carvalho Calero, que, comparado com o asturiano, é um gigante no conhecimento da Galiza, da sua língua e cultura, mas que tinha o pequeno (hehe) problema de ter sido encarcerado e sofrido represálias polo franquismo. E hoje, por muito que se queira negar, a situação a respeito das pessoas que não aceitamos a norma escrita oficial só se pode definir em termos de censura. Uma situação como a que se deu no prêmio Victoriano Taibo seria intolerável dentro da cultura espanhola, francesa ou alemã. Que alguém merecedor dum prêmio seja despossuído do mesmo pola grafia com que está escrito é algo que teria de repugnar uma mente com estrutura minimamente democrática. E a prova mais evidente de que existe uma posição de criar pejas à relação com a língua e a cultura portuguesa é que, a dia de hoje, no mundo da informação e a comunicação, na Galiza não é possível apanhar a TV portuguesa se uma não está filiado a uma plataforma digital e é muito difícil acessar a obras literárias ou científicas escritas em português. Em resumo, acho que esta norma é a que caberia esperar do “Estado das autonomias”. (…)
– NG: E daquela entremos no Vítor Vaqueiro narrador… Por que este cambio de xénero literario? Que achaches no narrativo que ao mellor xa non che fornecía o verso?
– VV: Penso que a resposta anterior contesta em parte o que me formulas, já que a minha olhada cara o mundo narrativo véu dada por uma impossibilidade poética e não por uma decisão espontânea nem premeditada. No que atinge a segunda direi que o narrativo fornece possibilidades que o poético não tem, da mesma maneira que o poético outorga hipóteses das que carece o narrativo. São dous meios diferentes, um mais oblíquo, outro mais direto. Provavelmente o narrativo permitiu-me aprofundar com uma maior extensão nos aspetos autobiográficos da infância e adolescência, e na definição literária quer de Vigo, quer de Ferreira do Condado. (…)”