Artigo de Susana Sánchez Arins na Plataforma de Crítica Literaria A Sega:
“Gostamos das narrativas carcerárias. Tenham o formato que tenham. Cinema, serial televisivo, banda desenhada, romance. É, entre os cronotopos batjineiros, um dos mais atrativos e românticos: todo um mundo reduzido a uns metros quadrados. A mais grande miséria e a mais imensa generosidade. A utopia da fuga possível. A luita e a dignidade. Sim. Gostamos de narrativas carcerárias.
E a ela se acolhe María Xosé Queizán na sua coleção de contos Sentinela, Alerta! para contar-nos a ditadura. As ditaduras. Que melhor maneira de representar a represão, a tortura, a arbitrariedade, a desumanização, que referi-la desde as relhas da prisão, desde as grades que degradam as pessoas até fazê-las sentir-se imundas. (…)
Três contos, o que dá título ao volume o os dous centrais na organização do volume, marcam esta leitura feminista: Sentinela, Alerta!, Lei de fuga e Folga de fame. Contos carcerários, seique. Mas não só de penais.
Os dous primeiros acolhem-se à mesma estrutura: contar duas histórias em paralelo.
Em Sentinela, alerta! essa voz, grito dado a cada hora polos guardas da prisão, marca o passo do tempo e a conexão com o mundo das protagonistas: o preso levado ao poço, espaço fechado de tortura, e a mulher do direitor do cárcere, que chegou tarde de fazer a compra.
Em Lei de fuga são-nos contados dous planos paralelos: o do grupo de presos que prepara a evasão do cárcere e a da mulher que decide pedir o divórcio. (…)
O meu conto de preferência é o titulado Folga de fame. Central na estrutura do livro, junto com o de Lei de fuga. Eu creio que intencionadamente. Se em Lei de fuga é escenificado o fracaso da luita contra a opresão, Folga de fame mostra o caminho da liberdade. Um caminho que questiona todas as estratégias e estratagemas da luitas revolucionárias clássicas. (…)”