“A arte de servir o chá”, por Susana Sánchez Arins

Artigo de Susana Sánchez Arins desde A Sega:
Tea rooms é o nome da pastelaria. Tea rooms é o título do romance. Um romance escrito por uma mulher e protagonizado por mulheres. E fazemos a nossa inferência, e pensamos nessas donas de casa desesperadas da tevê, que combinam nas tardes para tomar um chá e revisar as suas medíocres vidas. Porém a escritora encontra mais interessante focar a sua obra noutras mulheres, e por isso completa o título com um Mujeres obreras.
E lemos. E ficamos surpresas. Porque damos com um romance que não estudamos que existira, hispanistas que somos, nem no liceu, nem na faculdade, nem sequer nos estudos de posgrau. Nunca.
Luisa Carnés dá às cinco mulheres do seu texto a acolhida que lhes nega o salão de chá em que trabalham. Seja no balcão ou na limpeza, as protagonistas do romance são mulheres que suportam condições laborais indignas, quase escravagistas, no Madri de 1933. Cada uma das personagens que constrói a autora tem as suas características pessoais e as suas circunstâncias vitais, embora quase todas partilhem uma condição: a pobreza. Esta faz-se mais patente polo espaço de trabalho: um lugar onde a rapariga que sabemos não pôde tomar o pequeno almoço, deve servir doces e pasteis sem pensar em levar nenhum à boca. Que mesmo deve atirar os que já não são frescos sem botar-lhes a mão, razão de despedimento. Um lugar onde a pessoa que mal-come deve contemplar em respeitoso silêncio como petiscam sem vontade as gentes de bem. (…)”