A casa das moças narcotizadas, por Susana Sánchez Arins

DesdeSusana Sánchez Arins AELG a A Sega:
“Lemos A casa das belas adormentadas para o clube de leitura. Conhecia o título por fazê-lo parte da coleção de Rinoceronte Editora, mas nunca cheguei a pegar nele. Tocava ler e lim. Recorreram os meus olhos as primeiras páginas e fiquei chocada. (…)
Evocação da mocidade, agressão sexual, arremedo de companhia, agressão sexual, gozar da contemplação da beleza, agressão sexual, a tentação duma última aventura, agressão sexual, deixar-se levar pola nostalgia, agressão sexual, dormir abraçado a um corpo suave, cálido e novo, agressão sexual, superar a timidez e a tristura que causa ensinar o corpo avelhentado, agressão sexual, o fervor mesmo religioso, agressão sexual, a absolvição de um passado turvo, agressão sexual.
É possível que só nosoutras vejamos uma agressão sexual no fato de dormir (sem permissão) com uma mulher inconsciente ? Ninguém mais leu uma agressão sexual no ato de mirá-la sem permissão, de admirá-la sem permissão, de acarinhá-la sem permissão, de uli-la sem permissão, de mexê-la sem permissão? Nenhuma das recensões, comentários, recomendações, que li sobre o livro reflexiona sobre isto, ou chama a atenção sobre isto, ou simplesmente explicita isto no seu discurso.
Todas oferecem uma “asepsia descritiva” que a mim me provoca arcadas, vontade de ghomitar todo o cânone literário que levo anos suportando sem mastigar nem reagir. (…)”