A Asemblea Xeral da Asociación de Escritoras e Escritores en Lingua Galega ratificou José Luandino Vieira como Escritor Galego Universal en 2021, desde o profundo respecto e afecto á súa persoa e a valoración da altísima calidade literaria da súa obra.
O nomeamento foille comunicado formalmente ao autor desde a AELG.
Nas anteriores edicións, recibiron este nomeamento as escritoras e escritores Mahmud Darwix, Pepetela, Nancy Morejón, Elena Poniatowska, Juan Gelman, Antonio Gamoneda, José Luis Sampedro, Lídia Jorge, Bernardo Atxaga, Luiz Ruffato, Pere Gimferrer, Hélia Correia, Isabel-Clara Simó, María Teresa Horta e Mariasun Landa.
A foto do autor é de Rui Sousa.
Reproducimos a continuación este texto sobre o autor, elaborado por Carlos Quiroga:
“A Associação de Escritores e Escritoras em Língua Galega, na sequência da sua firme tradição, acordou em assembleia geral proclamar em 2021 o angolano José Vieira Mateus da Graça, conhecido por José Luandino Vieira, Escritor Galego Universal, nosso par, nosso irmão.
Exigências de excelência literária e compromisso ético ultrapassam, no caso, qualquer expectativa. Luandino nasceu em Lagoa de Furadouro, Vila Nova de Ourém, em 1935, acompanhando os pais para Angola aos três anos. Seguiu estudos primários e secundários em Luanda e envolveu-se no movimento de libertação nacional, escolhendo o nome de Luandino como homenagem a Luanda. Acusado de ligações políticas com o Movimento Popular de Libertação de Angola, MPLA, foi preso em 1959 pela PIDE, no chamado “processo dos 50”. Voltaria ser detido em 1961, desta vez condenado a 14 anos de prisão e medidas de segurança. Transferido em 1964 para o campo de concentração do Tarrafal, Cabo Verde, passou aí oito anos, até obter em 1972 o regime de residência vigiada em Lisboa. Em 1975, após a independência do seu país, nacionalizou-se angolano. Regressou a Luanda em 1975, onde exerceu cargos diretivos no MPLA e foi presidente da Radiotelevisão Popular de Angola. Membro fundador da União dos Escritores Angolanos, exerceu funções de secretário-geral deste organismo desde a sua fundação em 1975 até 1992. E agora, desde há alguns anos, é nosso vizinho, perto do pai Minho, correligionário e já para a vida Escritor Galego Universal.
Luandino Vieira foi distinguido com prémios maiores e melhores, como o da Sociedade Portuguesa de Escritores (1965), da Sociedade Cultural de Angola (1961), da Casa do Império dos Estudantes de Lisboa (1963) ou da Associação de Naturais de Angola (1963). A partir de 1972, residindo em Lisboa, iniciou a publicação da sua obra, na maior parte escrita nas prisões por onde passou. Recusou em 2006 o Prémio Camões, o maior galardão literário para a língua portuguesa, “por motivos íntimos e pessoais”, que pareciam prender-se com o seu silêncio. Quebrado este com O livro dos rios, novo romance que até iniciou uma trilogia intitulada De rios velhos e guerrilheiros.
A sua obra, numa primeira fase e até 1962 (reunida em Vidas novas), é de conformação mais clássica, dando passagem com a escrita de Luuanda a uma segunda etapa, absolutamente renovadora. Nela, em que também se insere Nós, os do Makulusu, é quando começa a inserir marcas de angolanização da língua portuguesa, subvertendo a norma padrão e adotando registos populares, orais e tradicionais africanos. A sua voz literária encontra a partir daqui um tom singular. As estórias que escreve, mais longas que o conto sem alcançar as dimensões da novela ou romance, podem invocar o molde do mussosso, narração com peripécias frequentes, fábula ou narrativa moral africana tradicional. Porque o que Luandino faz a partir deste momento é uma deconstrução da língua erudita do colonizador, inseminando quimbundo a nível de vocábulos crioulizados, mesmo neologismos, prolongando a oralidade, tocando até na sintaxe.
Para além de colaborações jornalísticas, disseminadas nalguns meios da segunda metade do século passado, Luandino Vieira é autor destas obras:
Romances:
A vida verdadeira de Domingos Xavier (1961 e 2003).
João Vêncio. Os seus amores (1979 e 2004).
Nosso Musseque (2003).
Nós, os do Makulusu (1974 e 2004).
O livro dos rios (2006).
O livro dos guerrilheiros (2012).
Contos:
A cidade e a infância (1957 e 1986).
Duas histórias de pequenos burgueses (1961).
Luuanda (1963 e 2004).
Vidas novas (1968 e 1997).
Velhas histórias (1974 e 2006).
No antigamente, na vida (1974 e 2005).
Macandumba (1978 e 2005).
Lourentinho, Dona Antónia de Sousa Neto e eu (1981 e 1989).
História da baciazinha de Quitaba (1986).
Infanto-Juvenil:
Kapapa: pássaros e peixes (1998).
À espera do luar (1998).
A guerra dos fazedores de chuva com os caçadores de nuvens. Guerra para crianças (2006).
Memórias:
Papéis da prisão (2015).
Tradução:
A Laranja Mecánica, de Anthony Burgess (1973).
A escolha e proclamação, por parte da Associação de Escritores e Escritoras em Língua Galega, de José Luandino Vieira, Escritor Galego Universal, nosso par, nosso irmão, neste ano de graça de 2021, aclama um criador e autor, digníssimo referente na defesa da dignidade humana.”