Maternosofía: suficiência racional vs. instinto maternal”, por Susana Sánchez Arins

Desde A Sega:
“A maternidade, vista do ponto das mães, é uma dessas grandes ausentes no repertório literário galego, cousa lógica, se atendemos á (minguada) presença feminina nesse repertório. Por isso agradecem-se textos que abordem essa temática, e de entrada merecem ser celebrados. Até que os lemos.
Haverá quem diga que é por não sermos mães nem termos intenção de o ser. Mas não. É por aguardarmos deles sensações que não nos são transmitidas, questionamentos que não encontramos, análises não realizadas, tabus que não são tocados e mesmo literaturizações que não achamos. E a decepção acompanha a leitura enquanto esta avança.
Beatriz Gimeno perguntava-se há pouco se a maternidade mudou para seguir a ser o mesmo discurso prescritivo obrigando-nos a ser mães, embora mães modernérrimas.
E esta lampedusiana sensação é que me estremeceu durante a leitura de Maternosofía.
A base da decepção está na leviandade: a autora para em conflitos superficiais que mantenhem ocultos os substanciais, os que afectam à configuração da identidade das mulheres e ao mantemento da ordem social no seu conjunto. E isto contado desde o feminismo práctico (pág. 34).
Inma López Silva constrói o seu discurso em base á dicotomia que preside este artigo: a sua racionalidade perante ao cacarejado instinto maternal com o que somos educadas e coagidas as mulheres desde tempos imemoriais. E é marcada a obsessão em não deixar que a gravidez anule ou embote esse seu espírito lógico. Não animal. Não mulheril. Esta oposição recorre todo o texto: E malia non sentir esa emoción inexplicábel da que falan as sentimentais, e ser capaz dun xeito perfectamente racional de describir o que sinto… (pág. 75).
Mas, insistimos, esse conflito não deixa de ser banal, evidenciando no avanço do discurso a asunção como naturais de toda uma série de atitudes e comportamentos, nunca questionadas, e que em realidade, apontalam e fortalecem a discriminação estrutural das mulheres. (…)”