Entrevista de Montse Dopico a Teresa Moure en Praza:
“(…) – Praza (P): A intervención utilizava os diários para contar a história desde diferentes pontos de vista. Algo semelhante passa em Uma Mãe Tão Punk. Por que?
– Teresa Moure (TM): Utilizo muito o dos diários, sim. No caso de Uma Mãe Tão Punk porque a acção começa quando Sara está morta. Tem, assim, algo de thriller, de romance policial, pois tenta explicar o que se passou. Interessava-me colocar a personagem do ponto de vista do fim, da derrota. Como está morta, a única maneira de aceder à sua voz é através do que deixou escrito, do diário. A personagem de Sara procede de uma obra de teatro, Cínicas, onde já ficou escrito que ela queimava a casa e morria. Em A intervención os diários sim que eram um modo de contar a mesma história desde diferentes perspectivas. (…)
– P: Nos teus romances há muitas personagens que se situam nas margens, por diferentes motivos. É um modo de chamar à rebelião, de alguma maneira?
– TM: Pois a verdade é que não é um projecto consciente, como sim o é nos meus livros falar da maternidade ou pôr as personagens femininas em prelacão a respeito dos masculinos. Não é algo que planifique, mas sim é evidente que muitas das minhas personagens se situam nas margens. Será porque eu são assim. Minha mãe dizia-me que eu era uma menina rebelde. Dizem-me muitas vezes nas entrevistas que falo continuamente em liberdade ou em rebeldia. Pois é. (…)
– P: Politicamente incorreta recolhe reflexões de O natural é político e de Queeremos um mundo novo. Que alarga com outros temas. Num formato se calhar mais divulgador.
– TM: Eu sempre tento fazer ensaios literários, não técnicos. Já nos ensaios anteriores. Mas é verdade o que dizes. Como são professora, e o meu estudantado às vezes quer citar-me nos seus trabalhos, eu queria que não tivessem que citar um ensaio meu que estivesse noutra normativa. Esse foi um dos motivos de recolher fragmentos doutros ensaios em ‘Politicamente incorrecta’. Também mostrar que a normativa reintegracionista não serve apenas para falar de língua. E abrir um debate entre ecologismo, feminismo, independentismo… Buscar interseções entre conjuntos diferentes, que queria tratar juntos. (…)
– P: Neste livro, e em geral na tua obra, reivindicas o corpo. Dizes que há algo de auto-ódio em renegar do corpo pelo feito com que que seja reduzido a objecto pelo patriarcado. Vem a conto, por exemplo, do debate sobre as Femen.
– TM: Esse é um tema que entronca com a literatura galega contemporânea, sobretudo com as poetas que reivindicam o erotismo feminino. Defendo os ludo-feminismos, -algo semelhante ao ludo-reintegracionismo-, porque acho que é um erro situar-se sempre na posição de estar chateada… Para além disso, o prazer é uma das reivindicações clássicas do feminismo. Não quero um feminismo malhumorado. (…)”