Artigo de Susana Sánchez Arins na Plataforma de Crítica Literaria A Sega:
“(…) Letras nómades [edición de Ana Acuña] reflexiona sobre a mobilidade feminina na literatura galega. É uma obra de carácter académico mais, como esta recensão, furta-se à ideia que podemos ter de trabalho teórico para construir-se como uma outra cousa, sem nome definido e, isso sim, um degrau mais acima.
As autoras pretenderom não só analisar um tema literário específico mas motivar a reflexão e a escrita nas próprias escritoras escolhidas, de modo que, no mesmo acto de estudar a literatura, promoverom a produção de textos. Abandonam assim o âmbito do estudo filológico de gabinete para estimular a actividade criativa com a sua iniciativa. O estudo de textos explicitamente solicitados às criadoras, nos artigos de Carmen Mejía, Manuela Palacios e María Xesús Nogueira rompem com o pré-conceito do texto canônico e públic(ad)o como objecto de estudo.
Porém não é esta, para mim, a aportação mais importante do volume, mas o especial interesse na documentação de vidas pequenas, de memórias privadas, de deslocamentos do quotidiano. Convencidas de que as mulheres ficaram ocultas nas narrativas de viagem por não ter sido a sua mobilidade épica ou heroica, ou por ter vedado o acesso aos meios de expressão, buscam maneiras alternativas de aceder às suas histórias de vida (não é outra cousa a memória que uma ficcionalização narrativa), desde o recordo familiar, até as testemunhas, passando polos documentos pessoais: a emigranta, a fugida, a nodriça, a guerrilheira, a mãe do fuzilado, todas encontram assim o seu lugar no livro, na nossa memória. O depoimento oral tem especial importância em todos os artigos do volume, assim como o contato emocional com as protagonistas e autoras (obteriam sem ele as mesmas informações para os seus artigos Aurora Marco ou Olivia Rodríguez?). Mmmm, outra vez a assepsia em questão… (…)”