Entrevista a Vítor Vaqueiro

Entrevista a Vítor Vaqueiro en Palavra Comum:
“(…) – Palavra Comum (P): Como entendes o processo de criação artística, em geral?
– Vítor Vaqueiro (VV): Pergunta complexa esta. Penso que, em qualquer processo de produção Poética (e, ao dizer Poética, com maiúscula, refiro-me a processos que vaiam além da estrita poesia), o desejável é enunciar o Novo, para o qual seria, por sua vez, preciso estabelecer um discurso poético, artístico, que fosse quem de romper os registros simbólico e imaginário atuais. Ou o que é o mesmo, elaborar um novo paradigma artístico. Isto, que, ao dizê-lo, fica muito bem, não é fácil ou, séndomos mais precisos, é muito difícil, em primeiro lugar pola própria dificuldade em enunciar o novo e, em segundo, polo rejeitamento que qualquer proposta nova gera por parte da estética dominante. Ora, que seja difícil não quer dizer que não se deva procurar. Essa novidade deveria atingir quer a forma (não é precisamente maravilhoso seguir a escrever romances ignorando as novas achegas produzidas, por exemplo, no século XX, ponhamos Rayuela, A Morte de Vergílio, Paradiso ou Correção, por dizer os primeiros exemplos que chegam à minha lembrança), quer os conteúdos, nomeando o que por costume não se nomeia.
– P: Qual consideras que é a relação -ou qual deveria ser- entre as diversas artes (literatura, música, artes plásticas, teatro, audiovisual, etc.)? Que experiências tens, neste sentido?
– VV: Penso que a relação entre as artes assenta em grande medida na subjetividade da pessoa que desenvolve cada uma delas. Haverá pessoas partidárias de ações de tendência unidisciplinar e haverá quem seja partidária de visões mais multidisciplinares. Suponho que a perspectiva que cada quem adote tem muito a ver com a sua própria visão do mundo, com considerar que o que compre é a análise dos fatores que se acham arredor duma determinada disciplina ou que, às avessas, resulta de interesse explorar os pontos de contato entre diferentes artes, a maneira de levar a cabo “traduções” duma arte a outra, de, em resumo, explorar a transversalidade, se existir, no campo das artes. Se calhar pola minha formação, devedora da ciência, sou partidário da segunda via, da exploração de possibilidades de diferentes modos de expressão, não só dentro do âmbito das artes, mas também, e isso acho-o fundamental, na pesquisa das relações entre a ciência e o que normalmente chamamos as humanidades, como tem acontecido nos encontros levados a cabo no CGAC há quase duas décadas, Conectando criações. Ciência-Tecnologia-Literatura-Arte, ou, mais recentemente no projeto Neuston. Ciência & Arte. (…)”