“Aquilo que as odes não lembram”, por Susana S. Arins

Artigo de Susana Sanches Arins na Plataforma de Crítica Literaria A Sega:
“(…) A filla do Minotauro transcorre na Sicília, em 1944. Recém liberada a ilha do fascismo polas tropas aliadas da II Guerra Mundial, vira em ninho de traficantes e máfias que aproveitam o caos da posguerra para o roubo de obras de arte. Contra elas mobiliza-se parte do povo siciliano, apoiando à clandestina Liga das Gorgonas no seu trabalho de proteger o património cultural da ilha.
Miranda, protagonista da narrativa, moça adolescente e não por isso menos esperta ou conscienciada, une-se a essa liga e participa da salvação duma das peças mais cobiçadas.
Sicília é aqui espaço de refúgio e espaço de perigo. Vemos como boa parte das integrantes da Liga são chegadas de outras terras e reinos, fugidas de guerras, injustiças ditatoriais ou perseguições ideológicas. A taberna do Minotauro é espaço de encontro para estas gentes e aí vive Miranda, filha dos taberneiros. Mas estas pessoas têm que ver-se com a máfia, que aproveitando o desgoverno toma de facto o poder no lugar.
Um dos elementos mais atrativos da obra é o seu tratamento do tempo. O da narrativa é lineal, com pequenas paradas para as personagens contar os seus passados. Todo habitual aí. Mas não acontece o mesmo com o tempo histórico. Como já indicamos a trama está perfeitamente acoutada num tempo concreto. (…)”