Entrevista de Elias Torres a Mia Couto en Sermos Galiza:
“Mia Couto é moçambicano (Beira, 1955), filho de emigrantes portugueses lá emigrados pouco antes.
– Sermos Galiza (SG): Em situações como a de Moçambique (e da Galiza e outras), a questão da língua é uma questão sempre mui importante. A língua tem um caráter identitário e de coesão comunitária e, por outro lado, tem também um caráter de progressão de qualidade de vida, de aumentar a qualidade de vida às pessoas. Pode haver um drama na eleição do português para Moçambique por parte d@s escritor@s? Houve algum tipo de hesitação, de drama? Há algum tipo de má consciência?
– Mia Couto (MC): Não é uma cousa que esteja completamente resolvida, mas também não assume aquele foro de drama lingüístico que é um dos assuntos mais discutidos nos congressos de escritor@s african@s. Qualquer congresso de escritor@s african@s passam um tempo enorme a discutir esta cousa que me parece que a vida toda não dá para resolver. A maior parte d@s escritor@s de Moçambique têm o português como língua materna (são escritor@s negr@s mas são filh@s de estratos sociais que fôrom sendo assimilados pola cultura portuguesa, ou de língua portuguesa polo menos) e não vejo que em Moçambique isto seja um grande problema, até porque em Moçambique se estabelece uma relação com a língua mais solta; a língua portuguesa era uma língua com que se podia namorar, com que se podia ter uma relaçom mais livre, e não era aquela grande dama que, nas colónias inglesas e francesas, tinha que ser respeitada. (…)
– SG: Mas orientaste a tua vida fundamentalmente para a prosa…
– MC: Acho que isto é poesia. Para mim esta fronteira entre o que é poesia e a prosa é mui evanescente. Nesta poesia em prosa man tenho uma liberdade de ligação com o mundo, com os temas, com a própria escrita que me parece que se localiza ainda no mundo da poesia. Portanto, eu uso a poesia contra parte da poesia… (…)”