Desde O levantador de minas, de Alfredo Ferreiro:
“Na próxima edição, a celebrar em 13 de maio de 2016, o Certame de Narracións Breves Manuel Murguia de Arteijo atingirá os vinte e cinco anos. Nasceu em 1992, numa época em que a cultura galega experimentava uma rápida institucionalização. Os prémios literários surgiam e diversas instituições e agentes culturais alicerçavam, por toda a parte, o que deveria ser, enfim, um incipiente sistema literário.
Naquele tempo, Henrique Rabunhal Corgo era um ativo professor e escritor arteijão que conseguiu instituir e consolidar, à par da prévia promoção da escrita entre os alunos do município, um prémio de narrativa breve com o nome do patriarca dos estudos galegos, Manuel Murguia, que por acaso teria nascido na paróquia arteijã de Pastoriça. São anos de grande efervescência cultural, e uma etapa em que as escritoras e os escritores da geração de 80 atingem a maturidade — assim como acontece com a CRTVG, com a AELG, com o ensino do galego, com os apoios das fundações à arte e à literatura, etc.― e uma parte muito relevante das plumas do país aderem o movimento reintegracionista em graus diversos, na sequência das teorias do professor Ricardo Carvalho Calero. Não se produziu ainda, portanto, o grande acordo político de fim de século para impor uma norma unificada.
Graças a que nasceu antes da rija e vigente institucionalização ortográfica, um espírito eminentemente criativo, essencialmente artístico assoprou na orelha do recém-nascido certame o alento da liberdade, e deste modo chegou aos nossos dias, mantendo esta coerência inicial, como um espaço para a inspiração sem censura. Presentemente, encetado o quarto lustro do século XXI, muitas dúvidas sobre o sucesso das políticas culturais assaltam os preocupados com a língua; porém, a atitude fundamental do certame de Arteijo, em contraste com os vaivéns do sistema literário, revela-se estável e proveitoso. E isto obedece a que o prémio nunca esqueceu o seu alvo, a criação literária, deixando às escritoras a máxima liberdade e não se constituindo em baluarte de uma concreta política linguística, mais ou menos duradoura. Hoje, este prémio pode afirmar não ter marginalizado nenhuma obra em razão do modo gráfico em que nasceu, facto que inocula no âmbito literário, e por extensão na sociedade toda, um sentimento de irmandade de que todos os galeguistas nos devemos orgulhar, e que mesmo podemos tomar como exemplo de gestão cultural. (…)”