Eli Rios: “A figura de Maria Solinha está amplamente tratada na nossa tradiçom mas (quase) todas som narradas com perspetivas masculinas”

Entrevista a Eli Rios no Portal Galego da Língua:
“(…) – Portal Galego da Língua (PGL): Vés de ganhar em 2013 o I Prémio de Poesia Figurante e de publicar na sua editora o poemário Maria. Que vai encontrar o/a leitor/a nesta obra?
– Eli Rios (ER): Um poemário que precisa da pessoa que lê. Nom há respostas mas sim perguntas sobre cada quem tem de voltar sobre elas (se quiger).
Nom estamos perante uma poesia intimista nem de costumes. Maria traz até a tona do verso temas tam complexos, e com múltiplas leituras, como a sociedade patriarcal, o lesbianismo, a maternidade, a crise económica, a indefensom aprendida, a transmissom numa voz feminina…
– PGL: Por que demorou tanto em ser umha mulher quem tratasse da figura de Maria Solinha, a priori, tam atrativa na perspetiva feminista?
– ER: A figura de Maria Solinha está amplamente tratada na nossa tradiçom: aí temos as músicas de Carlos Núñez e Teresa Salgueiro, Luar na Lubre, etc, a biografia feita por Encarna Otero, o filme A paixón de María Soliña… mas todas (excetuando a biografia antes mencionada) bebem da transmissom patriarcal, som narradas com perspetivas masculinas ou, simplesmente, repetem as estrofes escritas por Celso Emilio Ferreiro.
Maria nom procura o rigor histórico nem inventar nada. Só tenta fazer uma viagem ao futuro e “dar” uma oportunidade de “vingar-se” da injustiça a todas aquelas marias que nalgum momento foram silenciadas pela sociedade patriarcal. Recordemos que no processo contra Maria Solinho havia oito mulheres mais… Esta tentativa de “re-apropriaçom” da historia por parte das vozes femininas e a liberdade criativa usando umha personagem histórica é sempre bem vista na narrativa e com óticas patriarcais mas na poesia continua sendo “freak”. Por quê? Pois pelo mesmo que no tratamento informativo da morte dumha mulher se focaliza o “morbo”, pelo mesmo que as instituiçons acham que nom devemos gerir o nosso próprio corpo, pelo mesmo que um homem sente que nos agradam os comentários sobre o nosso físico quando caminhamos pela rua… Resta muito por andar nom só no feminismo mas também na educaçom das pessoas e isso nom se faz num dia. A literatura vai da mao da sociedade. Em pleno século XXI lembro o caso do Lusocuria da Verónica Martinez Delgado que trata o tema da sexualidade feminina e foi qualificado pela crítica como um libro “porco” dumha autora “frustrada”. Nessas estamos ainda aqui na Galiza… (…)”