Susana Sánchez Arins: “Acho essencial pôr sobre a mesa, duma vez, após mais de oitenta anos, a questão dos repressadores”

Entrevista a Susana Sánchez Arins en Lecturafilia:
“(…) – Lecturafilia (L): De onde xorde o teu libro Seique?
– Susana Sánchez Arins (SSA): No início, da necessidade de ajustar contas. Raivava-me conhecer o nome de um represor e esse que gozara do privilégio do anonimato. Pretendia fazer justiça poética, que é um termo que aprendim na escola e que agora descobrim ser possível. Depois, no processo de escrita, foram aderindo-se, como penugens, outras necessidades, dignificar a memória oral, dar espaço às represões familiares, às sofridas polas mulheres, à arte de contar…
– L: Por que escribilo dunha forma tan novidosa que combina a poesía co ensaio biográfico e histórico?
– SSA: No início, novamente, a minha intenção era outra. Eu pretendia construír um romance clássico, um tolstoi, um adichie. Porém, amedida que ia conhecendo a história familiar, mudavam as versões sobre os fatos e, amedida que pesquisava nos arquivos, na imprensa, encontrava o baleiro, a ausência de dados, de informações. E caim na conta de que isso tinha que ter reflexo no livro. E reparei em que isso era o que me incomodava nos romances sobre o 36 que lera: a redondeza que oculta a dificuldade para recuperarmos as histórias, o sucesso da (des)memória franquista. (…)
– L: Cal é a razón pola que falas de represaliados e tamén de represores como teu tío Manuel?
– SSA: Acho essencial pôr sobre a mesa, duma vez, após mais de oitenta anos, a questão dos repressadores. Nos últimos anos, foi posto o foco nas vítimas do golpe de estado e o estado de terror posterior, e era importante, pois a democracia atual, que só por isso não deveríamos chamar assim, não reconheceu nunca estas vítimas. Com todo, considero que é incompleta a história se não colocamos os nomes, os feitos, as maneiras de actuar, de quem foi responsável desse estado de terror: quem foram, que poder tinham, como fizeram, como acabaram. O tio Manuel é um desses represadores, mas provavelmente atuou como a maioria. Sabendo dele, sabemos de muitos. (…)
– L: Cres que a literatura pode cambiar a concepción androcéntrica do mundo?
– SSA: O machismo assenta no simbólico. Não há lei que nos obrigue a buscar um maridinho com quem ter duas crianças e casar e manter a casa. Mas uma percentagem muito elevada das mulheres escolhe esse caminho. Porque somos aprendidas desde meninhas a querer isso, nos contos, nos filmes, nos comentários da rua. Atendendo a isto, mudar o campo do simbólico, questioná-lo, é essencial. Não acho que a literatura poda mudar conceições, acho que DEVE contribuir a mudar conceições. (…)”