Entrevista a Carlos Quiroga no Portal Galego da Língua:
“Em mais um fevereiro, numa sala hiper lotada de público, no hotel Axis-Vermar da Póvoa de Varzim, espaço que junto com o Teatro Almeida Garrett, constitui o epicentro das reunions e das apresentaçons de livros do encontro anual de escritores de expressom ibérica, as Correntes d’Escritas, Carlos Quiroga conversou com Sabela Fernández e Daniel Amarelo com motivo do lançamento do seu novo livro de ensaio, publicado em Através Editora: Raízes de Pessoa na Galiza. O Pessoa Galego.
– P: O título posto parece sugerir que o tronco da imensa árvore pessoana finca as suas raízes na Galiza… Casualidade? Ou entom, o Fernando Pessoa era galego-português?
– Carlos Quiroga (CQ): Pessoa é e será, quase enjoativamente, do mundo. Quanto às raízes, sim, se entendidas em primeira instância genealógicas, tem sentido chamar de galego-portuguesas, pois na ascendência familiar hai sangue galego. Algo que por outra parte acontece com outros escritores portugueses. O título da publicaçom que isso documenta, como se poderá suspeitar, nom tem nada de casual. O autor teria preferido dar à luz em Portugal, dada a natureza do assunto, e aí para evitar suscetibilidades chauvinistas, inerentes a este tipo de abordagens, o título e a capa seriam mais cautos. Mas acabando por sair antes na Galiza, e sendo essa leitura inevitável, nom tenho pudor e assumir o chauvinismo pareceu-me o coerente. (…)
– P: Além da procura genealógica das raízes familiares do Fernando Pessoa na Galiza, o livro é um valiosíssimo documento sobre a intrahistória dos heterônimos do Fernando Pessoa: o Álvaro de Campos e o Alberto Caeiro…
– CQ: Pois tamém acho. Nom é que todo o relativo a essa parte seja absolutamente novo, mas apontar um Caeiro galego como referente real é novo e ousado –um Caeiro cónego da catedral publicamente bem conhecido, especialmente pelas vésperas e posteriores faustos do ano Santo Compostelano, e até parodiado por outros artistas como Asorey em escultura. Tamém é novo e ousado, ainda que mais relativamente porque já fora insinuado, defender que Pessoa publicou na Galiza um texto da campanha do Orpheu, traduzido por Enrique Dieste. Quanto ao resto, como a galeguidade, tanto de Caeiro como de Álvaro de Campos em origem, os dados estavam à vista, mas atenuados quando nom encostados. Reconstruir as relaçons com Guisado e acompanhar o processo de intermediaçom deste talvez resulta algo cansativo na leitura, mas era necessário para pôr em valor e fundamentar bem essa intrahistória galega. (…)
– P: Raízes de Pessoa na Galiza. O Pessoa galego nom deixa de se entroncar também com o teu anterior ensaio, A imagem de Portugal na Galiza…
– CQ: Certamente. O papel de Guisado e a precoz mençom de Pessoa e do Grupo Orpheu em 1914 em Vida Gallega, antes que se editasse a revista, já aparece nesse livro. Os dados já os tinha, o Pessoa galego nom é mais do que a amplificaçom extrema de detalhes aludidos no livro anterior, polo menos na segunda parte. Aquele era mais divulgativo, breve e condensador de séculos de relacionamento galego-português. Este é umha levitaçom budista à volta de umha fava chamada Fernando Pessoa, e já se sabe que os budistas som capazes de ver paisagens inteiras numha fava…! (…)”