Ondjaki, o talento angolano

Entrevista de Carlos Quiroga a Ondjaki, no Portal Galego da Língua:
“(…) – Carlos Quiroga: Esse mesmo amplo conhecimento do mundo dá-te também uma perspetiva rica acerca da unidade e diversidade da Língua Portuguesa. Tendo estado várias vezes na Galiza, e até tendo-nos dedicado palavras no JL, como vês agora e desde essa experiência “o caso galego”?
– Ondjaki: Olha, o que se chama “o caso galego” vejo com grande preocupação. Sempre estive na Galiza pelas mãos e pelos olhos de pessoas que prestam muita atenção à questão cultural e linguística da Galiza. Isso foi-me alertando para as vossas questões, para as vossas dúvidas e buscas. E o que me entristece é que, do ponto de vista institucional, quer vosso, quer das instituições de Língua Portuguesa, o “caso galego” existe muito pouco. Acho que a verdade é essa. Esta temática cultural da Galiza tem de ser mais discutida, continuamente problematizada, e deve contar, pelo menos, com a solidariedade de outros membros da Comunidade de Língua Portuguesa. Portanto, sim, urge que haja mais debate, mais pressão, para que se fale, para que se discuta, para que os outros saibam das vossas questões.
Ninguém sabe, em Angola, o que se passa culturalmente com a Galiza. Nem no Brasil. E em Portugal, muitos poucos também têm consciência disso. É preciso divulgar, debater, construir polos de opinião. E aí, se vocês o desejarem, trazer essas vozes ao vosso debate. Penso ainda que há muito “ruído”, muitas vozes, mas uma ausência de propostas concretas, e de alternativas concretas. Quando isso acontece, vence quem está sentado no poder. E assim vai o mundo. É por isso que todos os dias sonho com a palavra “debate”. Para falarmos. Para inventarmos novos modos de falar sobre as mesmas coisas. Para que no nossos presente, cada um de nós contribua para o surgimento de novos formatos culturais. É que ainda que os políticos se esqueçam, a cultura é feita de pessoas. Infelizmente, nem sempre “com” as pessoas…”