Entrevista a Eli Ríos

DesdeEli Ríos a revista Palavra Comum:
“- Palavra Comum (P): Que supõe para ti a literatura?
– Eli Ríos (ER): A literatura, para mim, é uma forma de apreender o mundo. A religiom, a história, a música, etc, sempre acompanha um conto (ou um poema ou uma cena teatral) porque a linguagem é um meio transmissor de ideias e culturas. Desde este ponto, as pessoas que criamos temos uma enorme responsabilidade e devemos ser conscientes de que a linguagem nom é inofensiva. Portanto, a literatura é uma forma reflexiva de compreender os processos vitais que acompanham esta aventura que é a vida. (…)
– P: Qual consideras que é -ou deveria ser- a relação entre a literatura e outras artes (fotografia, música, artes plásticas, etc.)? Como é a tua experiência nestes âmbitos?
– ER: Mas… existe a literatura sem outras artes? Se fazes uma descriçom duma paisagem a pessoa que está lendo construirá uma imagem mental duma pintura, duma fotografia ou duma cena fílmica. A linguagem tem significado e significante e com isso é com o que “brincamos” quem criamos. Desde este ponto de partida, as possibilidades literárias dum livro som inúmeras.
A minha experiência, neste âmbito, é um prazer. Em Maria (O Figurante edicións) a imagem há momentos que completa o que o texto deixa no ar, em Anamnese há um poema que nunca consegui recitar depois de que Ugia Pedreira o musicasse (agora só o tenho na cabeça com a sua voz, nom como foi criado), em Diario de fotogramas começo o poemario com umha cita de Charles Chaplin que marca o ritmo dos versos e a estrutura e, no próximo, que sairá em maio, Doe tanto a tua ausencia, mestura-se a poesia com o teatro e a música. É uma decisom mui pessoal mas, no meu caso, nom som quem de ilhar disciplinas. Tampouco o faço, por exemplo, com o caldo. Nom separo as verças do compango e como sabe! (…)
– P: Que caminhos (estéticos, de comunicação das obras com a sociedade, etc.) estimas interessantes para a criação literária hoje -e para a cultura galega, em particular-?
– ER: O caminho da liberdade criativa, mas, para isso, é preciso que muitos “agentes” mudem. Há uma grande parte da nossa sociedade que nom pode nem apresentar textos a certames nem editoriais… ergo, som invisíveis. Enquanto continuemos defendendo os nossos marcos sem fazer um processo de reflexom nom se pode evoluir. Por que posso fazer público um texto com trechos em latim ou esperanto, mas se leva um -nh- já nem se valora o seu peso artístico?
Outro caminho que espero com ânsia é uma escrita aguilhoante, essa que dói, a que faz pensar, sobretudo, na literatura infantil e juvenil. A minha filha para ler a palavra “clítore” ou “cona” tem de procurar noutros sistemas literarios. Acredita! Uma adolescente que nom encontra no léxico literario galego as palavras que logo vem nas aulas ou entre as colegas. Que lhe digo? Que é o seu dever conhecer todos os nomes de pássaros, árvores e mitologia de todas as cores mas que o seu corpo é proibido? Logo, vêm as lamentaçons de que a gente nova nom lê… eu tampouco o faria! Para que? Se nom me aporta nada no meu presente! Quando quero saber coisas do aborto, da eutanásia, do período, das violaçons, do sexo, etc, todo é adoçado e irreal.
A sociedade nom é a mesma do que há nem dez, nem cinco, nem quatro anos atrás… E a escrita é preciso que acompanhe se nom queremos ficar atrás. (…)”