Entrevista a Xosé Carlos López Bernárdez

EntrevistaCarlos López Bernárdez a Xosé Carlos López Bernárdez na Palavra Comum:
“(…) – Palavra Comum: Qual é a tua perspectiva sobre a obra de Luís Seoane (em todos os sentidos)?
– Xosé Carlos López Bernárdez: Seoane é um artista com muito de renacentista: é muralista, é pintor, é ilustrador, faz desing… Alguns de seus desing têm uma importância mesmo revolucionária no contexto da América Latina. Por exemplo, os que fez nos anos 50 de publicidade para Cinzano são hoje obras de referência nesse campo, realmente espetaculares. Os seus cartazes, a sua atividade como teórico, como escritor que também praticou todos os gêneros, é bem relevante. É nesse sentido umha figura chave na cultura galega.
Nas primeiras obras, as dos anos 40, pode-se ver que participa dos pressupostos formais do movimento renovador da arte galega que têm como ponto de partida um tipo de realismo de carácter social, com raízes muito evidentes, o que tem sido denominado “estética do granito”: Maside, Souto, Colmeiro, o Laxeiro da primeira época… Depois, sem renunciar aos valores temáticos de fundo, a elementos formais como a figura feminina, que tem um marcado simbolismo, a Mater Gallaeciae, que é oferecida quase como ícone, com uma presença plástica muito rotunda, Seoane vai construir um estilo próprio, moldando estilisticamente essa pintura e reformulando-a através de fórmulas modernizadoras. Chega assim a uma pintura planimétrica, como pode ser observado na sua obra a partir dos anos 50, e que se patentiza em um tipo de figura mais esquemática, elaborada em planos de cor e linha, onde as mesmas linhas funcionam como traços construtivos mas, ao mesmo tempo, autônomos.
Seoane reconhece que a sua inspiração estaria nas vanguardas históricas: o Picasso de um determinado momento, Léger, Le Corbusier, também em certo sentido Matisse… referentes modernos que ele conhece em primeira mão nas visitas a Europa -desde a Argentina- que faz no final dos 40.
Seoane é um exemplo de como pode ser conciliada a fidelidade à tradição e o cosmopolitismo. É um pintor que em momento algum renuncia à sua identidade nacional; reivindica-a e é uma pessoa muito comprometida com a língua, com a cultura galega e com todo o trabalho que foi feito a partir do exílio para perpetuar a nossa tradição cultural. Mas, ao mesmo tempo, é um artista muito cosmopolita. Ele acredita que para ser cosmopolita é preciso ser de um lugar. E se alguém vê os murais que fez na Argentina, reconhece-se esteticamente no que está a ver. É galego, mas ao mesmo tempo também vem a ser internacional. A sua obra é um exemplo de como, quando um tem algo a dizer e quer inovar, trabalhando a partir das raízes atinge sem problemas o espaço do cosmopolitismo. Além disso, Seoane consegue uma síntese da Galiza mais valiosa do século XX; uma Galiza criativa, orgulhosa de sua identidade nacional, respeitosa com os valores de sua singularidade histórica e artística. A ele interessa muito o processo histórico do povo galego, daí os temas como a emigração, que aparecem na sua obra com um acentuado carácter social. (…)”