Vítor Vaqueiro: “Uma normativa tem implicações políticas, e a vigente contribui a enfraquecer a identidade galega”

Entrevista de Montse Dopico a Vítor Vaqueiro en Praza:
“(…) – Praza (P): O discurso sobre as vantagens da maior convergência com o português está a estender-se, e também nas instâncias oficiais. De que modo queria este livro [Da identidade à norma] intervir no mesmo?
– Vítor Vaqueiro (VV): Contribuindo, na medida que fosse, a por acima da mesa a necessidade dum debate sobre o que queremos para o futuro da nossa língua na Galiza e no mundo, dado que somos independentistas e internacionalistas. Isso, em primeiro lugar. Em segundo, a convidar a gente que esteja interessada no nosso idioma a que reflita na situação atual que, dum ponto de vista de higiene democrática não é defendível, dado que se estão a censurar textos, não pola sua qualidade literária ou intelectual, mas pola forma na que estão escritos. E, em terceiro, a mostrar que uma normativa não é uma questão só técnica, que tem implicações políticas, e que esta normativa, concretamente, contribui a enfraquecer a identidade galega.
– P: Começa o ensaio explicando como, já que os movimentos de emancipacão basco, catalão e galego consideram o idioma um factor essencial na definição da identidade, o Estado espanhol joga a dividir o campo dos seus adversários políticos, promovendo a ideia de que catalão e valenciano, por um lado, e galego e português, pelo outro, são línguas diferentes. Podes explicar melhor isto, como contexto do que acontece depois?
– VV: Em realidade já quase o explicas ti perfeitamente na pergunta. O poder do estado decide, já por volta do ano 70, começar uma política de divisão, consciente do feito de que o fracionamento do campo dos que considera os seus inimigos -que a diversidade cultural se perceba como um perigo já orienta sobre a natureza cultural e política do Estado espanhol- constitui uma estratégia essencial para derrotá-los e conseguir a sua desaparição que, queira-se ou não, é o seu desejo. Os poderes do Estado estariam mui felizes se atingirem um território monolíngue espanhol e uma única cultura, a espanhola. (…)
– P: O imaginário espanhol formula o tópico das “outras línguas” como “minoritárias”, em correspondência com o estereótipo das “minorias” basca, catalã. A que obedece esta estratégia?
– VV: Justamente ao que comentamos antes. Para o Estado existem umas línguas minoritárias, secundárias, acessórias, prescindíveis, regionais e outra língua majoritária, principal, imprescindível, nacional, própria da nação espanhola. É uma estratégia de desrespeito e desprezo ao que não seja espanhol, digamo-lo entre aspas, e formula um combate político utilizando o imaginário, o econômico, o social e as suas poderosíssimas alavancas. Porque o Estado formula sempre as cousas da perspectiva contável e do número, como se uma verdade dependesse da quantidade de pessoas que a afirmam. Se assim for, Galileu, por por um caso, não teria razão, mas o tempo demonstrou que a tinha. (…)”