Susana Sanches Arins: “As cinco corujas são cinco crianças que crescem juntas, na insignificância aparente de ser menores”

Entrevista de Xiao Somoça a Susana Sanches Arins no Portal Galego da Língua:
“(…) – Portal Galego da Língua (PGL): Cinco corujas. Que esconde este nome, quem som estas cinco corujas?
– Susana Sanches Arins (SA): As cinco corujas são cinco crianças que crescem juntas, que competem polo alimento, que se dão calor com as penugens, umas vezes, e cotoveladas para ganhar espaço outras, arremoinhadas como estão no ninho. É a imagem que me vem à cabeça quando penso em mim e as minhas irmãs e irmãos. Somos cinco, todes seguidinhes, e botamos a infância partilhando, obrigadamente, jogos e pelejas. Essa infância em comum e numa aldeia da Galiza era o que inicialmente me apetecia narrar. Os relatos têm todos esse elemento unificador: umas raparigas a crescer na aldeia do Fojo.
As corujas são também animais observadores. Têm esses olhos enormes, que são um instrumento maravilhoso para atender ao mundo, agachadas no toco do carvalho, na insignificância aparente de ser menores. Os meus olhos são míopes e presbícicos, mas sempre gostaram de olhar o mundo e tomar notas, olhar o mundo e tomar notas.
– PGL: Nas Cinco corujas há pequenas histórias que nos contam um mundo íntimo e por momentos entranhável. Quanto de certo há da Susana Arins miúda?
– SA: Nem ideia. É provável que eu escrevesse estas estórias para tentar perceber a Susana miúda. É mais, acho que a percebo melhor, e não graças ao processo de escrita mas ao de organização do livro. Foi escolhendo os relatos, o seu lugar no volume, a sua combinação com os poemas, que cai na conta de que a imagem da coruja dava bem com a meninha que eu fui.
Acho que tanto o poema que inicia o livro (A sega) como o relato d’A Corva, a compostora de Pardemarim (Sala de espera) dão a ideia do que queria contar: as vidas de umas crianças pampas no limite entre o mundo tradicional e a aculturação da modernidade. Umas crianças que não acabam de perceber o mundo em que vivem porque lhes falta a conexão, filhas que são já do capitalismo, desertoras do arado que são (ou querem ser) as suas famílias. O que não sei é se isso é exatamente entranhável (risos). Não deixam de ser as testemunhas da desaparição de todo um mundo cultural e social. (…)”