Óscar Senra: “Ainda que Vedra é o lugar comum nos três livros, daí o nome da trilogia, em André a Noruega será um cenário fundamental da narração”

Entrevista de Xiao Somoça a Óscar Senra Gómez no Portal Galego da Língua:
“(…) – Portal Galego da Língua (PGL): Antes de começar, é importante assinalar para quem se achega por primeira vez à Trilogia de Vedra, que cada livro incluído na mesma pode ser lido de maneira independente. Como se complementam os três livros entre si? Deve ficar temeroso quem chegue ao André sem ler previamente os títulos anteriores?
– Óscar Senra (OS): Ainda que os três livros seguem uma sequência cronológica, cada um deles gira ao redor de uma história principal que se resolve de forma independente aos outros livros. No entanto, é claro que partilham personagens, espaços e fios narrativos que os convertem numa trilogia, e que a leitura dos três dá maior sentido à história comum que há de fundo.
Se o primeiro livro em cair nas tuas mãos é André, comprovarás o que comentei antes, que contém uma história principal que se abre e fecha no próprio livro, sem necessidade de ter lido os anteriores. De facto, mesmo se leste os anteriores, descobrirás que várias das personagens principais não apareceram nunca, como André ou Lilja, ou não tiveram tanto protagonismo, caso de Sabela e Enar. Além disso, ainda que Vedra é o lugar comum nos três livros, daí o nome da trilogia, em André a Noruega será um cenário fundamental da narração.
– PGL: Achas que pode ser mesmo curioso ler a Trilogia em ordem diferente, na que se brinque com os tempos, os lugares e as personagens?
– OS: Pode! Romper a ordem cronológica talvez ofereça novas hipóteses a quem lê. É uma trilogia onde as certezas partilham lugar com as dúvidas e as possíveis mentiras. Não há, portanto, uma sucessão unívoca dos acontecimentos que desvelem uma verdade ou desemboquem numa solução a nada. Quanto mais penso em André, mais o imagino como uma lanterna que se acende para atrás, derramando luz sobre os livros anteriores. Assim sendo, começar por ele faria sentido. Mas esta trilogia tem muito de viagens e aventura, e, à vista disso, principiar pola viagem narrada em 1928 km, teria também certa lógica. Por não falar, é claro, do acertado que seria encetar a leitura por Sete dias com Elisa. Deixo melhor a decisão nas vossas mãos. (…)”

Susana Sanches Arins: “As cinco corujas são cinco crianças que crescem juntas, na insignificância aparente de ser menores”

Entrevista de Xiao Somoça a Susana Sanches Arins no Portal Galego da Língua:
“(…) – Portal Galego da Língua (PGL): Cinco corujas. Que esconde este nome, quem som estas cinco corujas?
– Susana Sanches Arins (SA): As cinco corujas são cinco crianças que crescem juntas, que competem polo alimento, que se dão calor com as penugens, umas vezes, e cotoveladas para ganhar espaço outras, arremoinhadas como estão no ninho. É a imagem que me vem à cabeça quando penso em mim e as minhas irmãs e irmãos. Somos cinco, todes seguidinhes, e botamos a infância partilhando, obrigadamente, jogos e pelejas. Essa infância em comum e numa aldeia da Galiza era o que inicialmente me apetecia narrar. Os relatos têm todos esse elemento unificador: umas raparigas a crescer na aldeia do Fojo.
As corujas são também animais observadores. Têm esses olhos enormes, que são um instrumento maravilhoso para atender ao mundo, agachadas no toco do carvalho, na insignificância aparente de ser menores. Os meus olhos são míopes e presbícicos, mas sempre gostaram de olhar o mundo e tomar notas, olhar o mundo e tomar notas.
– PGL: Nas Cinco corujas há pequenas histórias que nos contam um mundo íntimo e por momentos entranhável. Quanto de certo há da Susana Arins miúda?
– SA: Nem ideia. É provável que eu escrevesse estas estórias para tentar perceber a Susana miúda. É mais, acho que a percebo melhor, e não graças ao processo de escrita mas ao de organização do livro. Foi escolhendo os relatos, o seu lugar no volume, a sua combinação com os poemas, que cai na conta de que a imagem da coruja dava bem com a meninha que eu fui.
Acho que tanto o poema que inicia o livro (A sega) como o relato d’A Corva, a compostora de Pardemarim (Sala de espera) dão a ideia do que queria contar: as vidas de umas crianças pampas no limite entre o mundo tradicional e a aculturação da modernidade. Umas crianças que não acabam de perceber o mundo em que vivem porque lhes falta a conexão, filhas que são já do capitalismo, desertoras do arado que são (ou querem ser) as suas famílias. O que não sei é se isso é exatamente entranhável (risos). Não deixam de ser as testemunhas da desaparição de todo um mundo cultural e social. (…)”