Entrevista de Teresa Moure a Afonso Becerra no Portal Galego da Língua:
“(…) – Portal Galego da Língua (PGL): O teu é um ensaio feroz, no sentido de que conduz quem ler por um território pouco conhecido, mesmo para o público habitual do teatro. Poderias definir o teatro pós-dramático?
– Afonso Becerra (AB): É aquele que afirma o próprio jogo teatral, na sua materialidade e concretização, sem submeter a ação a ideias previas, ao império da palavra ou à representação de uma história.
No teatro pós-dramático a palavra também pode jogar no palco, mas não o faz hierarquizando o resto dos elementos da composição cénica.
O teatro pós-dramático faz primar a sensorialidade, o movimento, o corpo, os objetos cénicos, a luz, os sons, sem estabelecer hierarquias entre os elementos compositivos e sem privilegiar o eixo diacrónico por cima do sincrónico.
– PGL: Tendemos a ver o teatro como um espetáculo, onde alguém (a companhia, quem escreveu a obra ou quem a dirige) decide absolutamente o que encena. Porém não há teatro sem público. Que significa, nesse contexto, Confio-te o meu corpo? Dito noutras palavras, que é que a atriz/o ator aguarda desse coletivo a quem convoca?
– AB: O primeiro que aguarda uma atriz/ator é que a espetadora e o espetador também atuem com eles participando no jogo que o espetáculo propõe. Por tanto, aguardam gerar uma atenção e uma empatia, para entrar num diálogo extraordinário, ou seja, fora do ordinário. Um diálogo empático que nos conecte e nos interpele no que diz respeito a algum aspeto determinado.
Confio-te o meu corpo vem a situar o corpo no centro do discurso, porque é no corpo onde tem lugar a vida e o jogo teatral. As coisas mais importantes sentimo-las no corpo: a paixão, o medo, a vergonha, a alegria… E quando falo do corpo, também o faço a partir de um sentido metafórico, no teatro e na dança, que na perspetiva pós-dramática som a mesma coisa, o corpo e a fisicalidade equivalem à forma dinâmica. O que importa nas artes do palco é o corpo das palavras, o corpo da voz, o corpo dos objetos cénicos, o corpo do movimento… a sua fisicalidade, a sua musculatura e textura. O mais importante sempre acontece no corpo. (…)”