Tiago Alves Costa: “Corpo, identidade e língua estão intrinsecamente ligadas na experiência humana e na expressão artística”

Entrevista a Tiago Alves Costa no Portal Galego da Língua:
“(…) – Portal Galego da Língua (PGL): A boca no ouvido de alguém, a última novidade editorial da Através, é a primeira coletánea poética da editora, e provavelmente a primeira coletánea -que tenhamos conhecimento- que incorpora autorias de até sete países de fala portuguesa incluíndo a Galiza. Como surge esta ideia?
– Tiago Alves Costa (TAC): É uma ideia que levava há algum tempo na minha cabeça e fui enriquecendo-a com as minhas vivências de 14 anos na Galiza, bem como pelas transformações que eu próprio sofri, assim como descoberta da minha própria identidade galega. Sempre senti que seria vital unir as vozes poéticas deste mapa dialogante e de afetos das várias comunidades de língua portuguesa que nos unem, mas queria fazê-lo a partir da Galiza. Penso que, dessa forma, poderia dar outro sentido a esta antologia, revigorando as línguas, descobrindo as potências libertadoras e criando um ponto de partida para um espaço galego-lusófono real.
– PGL: Angola, Moçambique, Brasil, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Portugal e Galiza. Que encontramos em comum?
– TAC: Claro que a língua nos une medularmente, mas também a amizade, a cultura, a poesia e os afetos, apesar, obviamente, das nossas diferenças, que nos unem também. No entanto, e como menciono no prefácio, acredito que esta antologia ganha outra singularidade ao partir da Galiza, capaz de descentralizar, mas também sendo inclusiva e afetiva, provocando transgressões e fissuras e produzindo novas éticas. E acredito que essa “galeguidade” a que faço referência atravessa todos esses países. Acredito que cada poeta leva consigo um pouco da Galiza consigo.
– PGL: No prologo do livro explicas que um dos critérios na escolha das pessoas participantes é geracional, todas nasceram depois de 1975. De que forma essa data marca um antes e um depois?
– TAC: 1975 é um ano repleto de acontecimentos políticos em todos estes países. É óbvio que há aqui uma data que nos marca que é o 25 de abril, que coloca um antes e um depois. Julgo que a escolha de participantes nascidos depois de 1975 para uma antologia também deve representar uma tentativa de capturar a visão e a experiência de uma geração que cresceu em contextos históricos, políticos e sociais distintos. Cada país viveu as suas próprias transições democráticas, o que torna essa seleção importante para proporcionar novas perspetivas, temas e abordagens enriquecedoras para o panorama literário. Essa abordagem oferece às/aos leitores uma visão, desde o meu ponto de vista, mais abrangente e diversificada da literatura contemporânea. (…)”