Entrevista a Vítor Vaqueiro no Portal Galego da Língua:
“(…) – Portal Galego da Língua (PGL): Segundo explicas no teu artigo para o Sermos Galiza, a tua obra, Palavras a Espartaco, foi considerada a de maior qualidade, mas no final não resultou a ganhadora por se considerar que está redigida «em português». Isto, apesar de que nas bases do certame Victoriano Taibo só se especificava que as obras deviam estar redigidas em galego. Defendeu de alguma maneira o júri que a tua obra não estava em galego? Achas possível argumentar que algo é ‘português’ em lugar de ‘galego’?
– Vítor Vaqueiro (VV): Em realidade, eu não conheço as deliberações do júri, já que, segundo assinalo no próprio artigo, a notícia chega por uma via e numas circunstâncias excecionais, quase incríveis, porque o acaso existe e, como diria um conhecido matemático, John Allen Paulos, «é improvável não ocorrerem cousas improváveis». Quero dizer com isto que a pessoa que me informava mesmo desconhecia a minha participação no certame e nem sequer era integrante de dito júri. Acho, porém, que se julgou mais bem o texto pola sua aparência gráfica. Ora, estou totalmente certo de que nem todos os membros do júri pensam que o livro não está escrito em galego.
Quanto à segunda questão: não sei se é possível argumentar que algo é ‘português’ em lugar de ‘galego’. Sei, porém, uma cousa: que é impossível demonstrar que Palavras a Espartaco, o livro que concorre ao prémio, não é galego. A distinção entre ‘galego’ e ‘português’ depende da posição em que se colocar quem observa. Se considerarmos galego o que se fala na rua, então carretera, a leite, naranxo ou o ponte é galego. Às avessas, muitos textos publicados na norma ILG não são ‘galego’, porque a gente não diz prognóstico, nem árvore, nem luvas, nem hepatite, nem centos de vocábulos ou expressões que estão padronizados como galego. (…)
– PGL: Por último, como deve um autor ou autora reintegracionista enfrentar a hora de decidir participar num certame? Deve começar por contatar a organização e perguntar explicitamente se as pessoas reintegracionistas estão vetadas?
– VV: Bom, desejaria dizer antes de mais que eu decidira há uns 25 anos deixar de participar em certames, cousa que cumpri até este ano. Se concorri a este foi, em primeiro lugar, porque, por primeira vez depois de 35 anos, via-me sem editorial, tinha um texto de difícil publicação e as Bases do prémio mesmo garantiam a edição da obra ganhadora. Em segundo lugar, porque essas mesmas Bases não enunciavam, como ocorre na maioria dos prémios, nenhuma restrição normativa e achei que não se iam produzir critérios de exclusão e poderia ter alguma possibilidade de ver publicado o meu livro duma maneira quase automática. Se eu não decidisse há um ano e meio abandonar a norma ILG-RAG ou se o prémio Victoriano Taibo especificasse com claridade que só poderiam participar aquelas pessoas que seguissem o padrão ILG-RAG, neste momento não estaríamos a falar tu e mais eu.
Respondendo a tua pergunta: uma pessoa reintegracionista tem, do meu ponto de vista, que enviar o texto e aguardar o falho do júri, se é as Bases do prémio não proibirem a participação de quem não siga o padrão atual. Se o proíbem, então deve escutar a sua consciência, que lhe indicará abster-se ou participar, concorrendo para dar conta, no próprio interior do júri, da existência duma discrepância. (…)”