Entrevista a Ramiro Vidal Alvarinho en Diário Liberdade:
“(…) – Diário Liberdade: É usual que apareça o teu nome em diferentes atos políticos-sociais do país. Segue a ser a poesía esse arma carregada de futuro?
– Ramiro Vidal Alvarinho: A poesia no pensamento é fundamental, mesmo tenho refletido internamente sobre esta questom, e às vezes fago mençom na minha escrita a conclusons que tiro, a partir do meu, se quigeres, modesto entender, dessa reflexom interna. É freqüente as pessoas com umha consciência política clara, com um compromisso nacional e de classe claro, fazerem alarde do seu desprezo pola poesia como meio de expressom, e eu acho que há que distinguir; umha cousa é estar disconforme com a presença que se concede aos poetas em determinados atos de massas e outra cousa é desprezar a poesia. Na filosofia, há poesia, com certeza; desde o Tao até Niestzche, passando polos filósofos da Grécia clássica. Na religiom, indubitavelmente, e nom há mais que dar umha vista de olhos ao al-Corám ou à bíblia. E na política, claro. Que líderes revolucionários como Agostinho Neto, Amílcar Cabral, o Che Guevara ou Ho chi min cultivassem a poesia nom é um acaso. E no Livro Vermelho de Mao, nom há poesia? Isto para nom falarmos da influência literária e estética do que para mim é o paradigma do poeta revolucionário galego: Curros Enríquez. Na cultura moderna, a poesia tem umha presença inegável, desde os cantores de intervençom que musicárom poetas de todos os tempos, até a cultura pop e rock. No niilismo do punk, na épica do heavy metal, no culto ao indivíduo e à liberdade do rock and roll nom há poesia? (…)”
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Entrevista a Carlos Quiroga no Diário Liberdade
Entrevista a Carlos Quiroga no Diário Liberdade:
“(…) – Diário Liberdade Para além da bem sucedida Inxalá tem publicadas muitas outras obras. Entre elas Periferias (1999), também Prémio Carvalho Calero de narrativa, A Espera Crepuscular (2002), O Castelo da Lagoa de Antela (2004) Prémio de Teatro infantil na Mostra de Ferrol-Terra em 1988, publicado na Itália em galego-português e italiano ou Venezianas, última obra tirada do prelo em 2007. Pode adiantar-nos em que está a trabalhar o senhor agora?
– Carlos Quiroga: Há dois livros acabados, desde há algum tempo. O primeiro é Na Demanda do Horizonte, correspondente à parte pendente do projeto chamado Viagem ao Cabo Nom. É a fase da exploração prometida num princípio, que corresponde precisamente a saída, percurso, viagem propriamente dita, que toma aí as formas dos quatro pontos cardeais, com paisagens concretas (ao Norte a Noruega e a Finlândia, atravessando a Europa, ao Sul as serras de sede da Península Ibérica, e, enfim, a Itália saudosa dos anos oitenta pelo Leste, o Atlântico aberto e sensual pelo Oeste), intercaladas pelas vozes dos dois ‘autores’ enfrentados em A Espera Crepuscular, que colaboram em deixar apenas anotações intervalares sobre imprescindíveis apetrechos para a viagem, e tudo isso numa estrutura espiralar. É um livro feito e refeito várias vezes, de alguma raridade, como os anteriores do mesmo projeto, e que portanto terá saída difícil. O segundo livro acabado partilha a mesma dificuldade, e não só. Chama-se Daniel no Império do Ar e é um retrato poético do Brasil, na forma de uma espécie de novela de cavalarias, texto e fotos. O título (provisório) tem a ver com a exposição O Sorriso de Daniel, promovida pelo Arquivo da Emigração Galega com o objetivo de apresentar a Galiza ao mundo. Participei nisso organizando uma mesa no Memorial do Imigrante de São Paulo (12/06/2007), em coincidência com a exposição itinerante do mesmo nome. Nela eram apresentados painéis fotográficos que retratam a identidade e diversidade cultural da Galiza e suas manifestações. Entre os trabalhos, a estátua do profeta Daniel no Pórtico da Glória da catedral de Santiago de Compostela –considerado o primeiro sorriso esculpido em pedra na Europa medieval. Estava também Daniel Castelao, um dos mais sólidos esforços para construir a identidade cultural e política da Galiza. Daniel no Império do Ar, no entanto, tem a ver com todas as viagens –até a data– que realizei ao Brasil, colocando por pano de fundo a sugestão e reconhecimento da fala galega no Quinto Império pessoano, o Império da Língua Portuguesa, que de algum modo representa hoje esse país continental. Um texto inicial coloca em Santiago de Compostela a miragem do relato (não se trata estritamente de poesia, mas o relato é sem dúvida poético) “transmitido” por uma gigantesca pedra em forma de cabeça de cavaleiro medieval, situada nas traseiras do monte Pedroso que domina a cidade. A seguir, na esteira das viagens reais aludidas, o percurso brasileiro adota o roteiro das andanças de um moderno e aéreo cavaleiro andante (este o Daniel do livro), sintonizado tanto por tom como por referência a clássicos lances dos livros de cavalaria, para retornar de novo à terra e acabar petrificado no monte Pedroso –de algum modo como guardião da língua… Enfim tudo isso é tão estranho que talvez ninguém queira ler. No que estou a trabalhar agora, por falta de certezas sobre o seu resultado, não vou adiantar nada, apenas assegurar que é mais convencional, que se liga ao Inxalá, e que se trata de romance, realmente dois. (…)”