Alva Martínez Teixeiro: “No âmbito português e brasileiro, quando sabem que sou galega, o comentário mais habitual é mas és quase portuguesa

Entrevista a Alva Martínez Teixeiro no Portal Galego da Língua:
“(…) – Portal Galego da Língua (PGL): Vens de publicar na Laiovento o ensaio Nenhum vestígio de impureza. Que vai encontrar o leitor nesta tua última obra?
– Alva Martínez Teixeiro (AMT): Nos últimos tempos, está a produzir-se, por um lado, uma intensificação no processo de divulgação e/ou no conhecimento da obra andreseniana, tanto no âmbito dos países de língua portuguesa, quanto no alargamento da difusão internacional da mesma segundo uma nova conceção. Nesta linha de pensamento, o objetivo geral que persegui neste ensaio foi o de dar a conhecer (de maneira mais aprofundada) a escrita de Sophia de Mello Breyner Andresen, figura central e basilar na poesia portuguesa do século XX.
Neste sentido de (re)descoberta plena da sua escrita complexa e plural, o leitor vai encontrar no ensaio a consensual admiração perante a palavra e o retorno poéticos à pura necessidade intelectual de beleza, verdade e sabedoria, absolutamente diferentes dos standards estéticos da sua época. Porém, encontrará também –e isto é relativamente novidoso– o espanto perante a obscuridade que se percebe sob a superfície luminosa da sua obra, ligada aos temas da consciência da quebra da unidade com o ideal ou da superficialidade e da pobreza espiritual do mundo contemporâneo.
Enfim, nas páginas do livro procurei explorar as diferentes possibilidades de interpretação desta obra paradoxal, com base no claro-escuro, para demonstrar a verdadeira dimensão da sua exigência de esclarecimento, a partir da oposição contra qualquer forma de mistificação ontológica e/ou moral, como a indiferença, a alienação, a mentira ou a injustiça. (…)
– PGL: E da ótica oposta, como é que vem a Galiza nesse âmbito [mundo académico portugués e brasileiro]?
– AMT: De modo geral, não existe um conhecimento muito aprofundado quanto à Galiza, mas há um certo sentido de proximidade, de facto, quando as pessoas sabem que sou galega, o comentário mais habitual que ouço é “Ah! Mas és quase portuguesa”…
Desde este ponto de vista, procuro aproveitar todas as oportunidades possíveis –e escassas– de divulgação da cultura galega entre os alunos de literatura e cultura brasileira, por exemplo, estabelecendo comparações entre o processo de formação da identidade brasileira e o processo de (re)construção da nossa identidade nacional nas aulas de Literatura do Século XIX ou, ao falar do ‘Orientalismo’ na literatura ocidental, referindo a figura de Cunqueiro ao lado de Borges, pois, se um dos alunos procura um livro de Cunqueiro na biblioteca da faculdade –aliás, uma biblioteca razoavelmente bem dotada de bibliografia galega–, já terá valido a pena. (…)”