António Gil: “Biqueira era doutrinalmente mais radical que Carvalho”

Entrevista de Víctor Giadás a António Gil Hernández no Portal Galego da Língua:
“(…) – Portal Galego da Língua (PGL): O livro recolhe as ideias de V/Biqueira em diversos âmbitos. Fica hoje algo de V/Biqueira no pen­samento atual galego?
– António Gil Hernández (AGH): Para o comum das pessoas e mesmo das associações, acho que as ideias biqueiranas ficam esque­cidas, se nalgum momento foram conhecidas, e ignoradas. Porém, há pessoas, como José L. Dopico Orjais, que se preocuparam com o conhecimento e expansão da pessoa e ideias de Biqueira, tam­bém e mesmo familiar, através, por exemplo, da esposa Ja­cinta Landa e familiares, hoje mexicanos. Aí está o volume e CD que recolhe as canções (galegas, portuguesas e extremeñas) que Jacinta manteve vivas na memória.
Tempos atrás, estudiosos do krausismo (Ángel Porto Ucha e Purificación Mayobre) também se preocuparam com o conhecimento de Biqueira como protótipo do krausismo na Galiza e Portugal.
– PGL: Para quem deveria ser uma leitura imprescindível?
– AGH: Depende dos textos, dos artigos. Cumpre dizer que bastantes dos artigos ou série de artigos que Biqueira escreveu são consultáveis na rede, mormente no Boletim da Institución Libre de Enseñan­za. Eu tenho recolhidos no volume Obra Seleta todos os artigos publicados em ANT. Neste de Através, Poemas e Ensaios, retomo alguns deles.
Interessantes para os especialistas são os textos, abundantes em proporção aos anos que Biqueira vi­veu, sobre psicologia, pedagogia e mesmo filosofia; transcrevo alguns traduzidos para português (galego) neste mesmo volume, Poemas e Ensaios.
– PGL: Estamos no centenário da morte de Viqueira e, ligando com a pergunta anterior, achas que ainda im­porta a sua figura 100 anos depois?
– AGH: Sem dúvida. Por exemplo, a sua proposta, esclarecida, da criação de uma faculdade ou, antes, universidade galega, verdadeiramente galega, em que a cultivação do idioma “próprio” seja primor­dial. Ou a criação de estabelecimentos educativos de “formação profissional” adequados às necessi­dades da sociedade galega. Ou apenas (?), referida aos processos comunicativos na Galiza, a prática do idioma coerente com a meta que Biqueira resumiu: “Viver no português é viver no mundo”, en­quanto se afastar do português equivale a morrer como idioma e como comunidade singelamente humana. Esta é ideia forte que Castelão explicou generosamente no Sempre em Galiza. (Não para­doxalmente esta “bíblia do nacionalismo galego” pode ser considerada expansão das ideias e escri­tos de Biqueira sobre o Galego e a Galiza. (…)”