Isaac Lourido: “Se a normalidade passa pela promoção indiscriminada de qualquer produto que empregue o galego, a nossa cultura está condenada à desaparição”

Entrevista Isaac Lourido de Montse Dopico a Isaac Lourido en Praza:
“Dizia o professor Arturo Casas na apresentação em mpostela, no espaço Almáci(gas), de Livros que nom lê ninguém (Através Editora), que o seu autor, Isaac Lourido, “tem essa capacidade de olhar a sítios onde ninguém olha”. E se calhar essa é a melhor definição do trabalho deste crítico e investigador, que acabou também de ganhar o Premio Carvalho Calero por História literária e conflito cultural. Bases para uma história sistêmica da literatura na Galiza. Este ensaio assenta os alicerces teóricos que aplica Livros que não lê ninguém. Poesia, movimentos sociais e antagonismo político na Galiza, uma coletânea de textos que colocam no centro de interesse a ideia de conflito e em os que se procura a convergência entre como investigação e o ativismo. (…)
– Praza: Em História literária e conflito cultural realizas uma proposta de bases para a história sistémica da literatura na Galiza. Por quê a teoria sistémica é especialmente operativa para estudar o campo literário galego?
– Isaac Lourido: As teorias sistémicas (teoria dos polissistemas, teorias da instituição literária e teoria do campo literário, basicamente) não desenharam modelos historiográficos específicos, mas foram empregadas com muita frequência e relativo sucesso para o estudo de culturas marcadas pela dependência, a subalternidade, o conflito ou a marginalidade. Esse sucesso tem a ver com a incorporação à análise de elementos não considerados nos esquemas de raiz filológica ou textualista (as instituições, o consumo, o mercado, as tensões com o campo do poder, entre muitos outros). Também com a superação da sociologia da literatura de inspiração marxista menos dinâmica.
Isso aconteceu em campos académicos como o quebequense, o belga ou o galego. Xoán González-Millán, Antón Figueroa, Arturo Casas ou o Grupo Galabra da USC formularam esquemas teóricos e metodológicos especificamente pensados para a cultura galega, com base em variáveis que não foram previstas nem incorporadas pelos modelos teóricos iniciais (pensados para sistemas ou campos “normais”, “estáveis”), e com reconhecimento dentro e fora do nosso campo académico. No texto que venceu o Prémio Carvalho Calero tentei a projeção desta rede de propostas sistémicas para o âmbito da História literária, também como proposta para uma disciplina cuja crise epistemológica está a ser debatida desde há várias décadas. (…)”