Celebrado o I Encontro do Livro Galego

Desde o Projeto Livro Galego:
“Os dias 18-19 de julho de 2024 decorreu na Faculdade de Filologia da Universidade da Corunha (UDC) o 1º Encontro do Livro Galego. O encontro tencionava reunir um conjunto amplo de perspetivas sobre o setor editorial na Galiza. Deste modo, a primeira mesa de debate congregou pessoas representantes das instituiçons culturais: Cristina Rubal, da Subdirección Xeral do Libro, Dolores Vilavedra, em representação do Consello da Cultura Galega, e Natividade Fernández, da área de Cultura da Deputación da Coruña.
As duas mesas a seguir reuniram pessoas envolvidas em projetos académicos relacionados com o setor editorial. Na primeira destas sessões participaram Roberto Samartim, apresentando o nosso projeto Campo Editorial e Cultura Autonómica, e Carme Fernández Pérez-Sanjulián, apresentando “A edición literaria na Galiza (1975-2000)”. Por sua vez, na segunda sessão académica expuseram Ana Luna Alonso, em representação do projeto BITRAGA, e Marta Neira e Carme Ferreira, do projeto Investigación en Literatura Infantil e Xuvenil.
No dia seguinte compareceram agentes dos setores profissionais. De manhã, contámos com a presença de Miguel Toval, da Asociación Galega de Editoras, e de Ramón Domínguez, da Federación de Librarías de Galicia. Por motivos de saúde, não foi possível contar com a representante do Consorcio Editorial Galego, María Belén López Vázquez. A seguir, participaram no encontro Marta Dacosta, em representação da Asociación de Escritores e Escritoras en Lingua Galega, Augusto Metztli, da Asociación Galega de Profesionais da Ilustración e, por último, Patricia Buxán, da Asociación Galega de Profesionais da Tradución e da Interpretación.
A última atividade do encontro consistiu numa jornada de trabalho para os membros da equipa. Nesta sessão foram resumidas as conclusões do encontro e distribuidas as tarefas para os próximos trabalhos; entre eles, destaca um documento de trabalho que será remitido às pessoas e coletivos interessados. Algumas das conclusões de conjunto foram a escasa profissionalização do setor, a necessidade de reconsiderar as estratégias de internacionalização do livro galego, ou a falta de diálogo entre o ámbito profissional e o institucional. Quanto ao formato do encontro, a avaliação por parte do Projeto é mui positiva: os amplos espaços para o debate que contemplava o programa deram lugar a conversas profundas e mui produtivas para uma diagnose do setor, a partir da qual trabalhar de acordo com os nossos objetivos.”

I Encontro do Livro Galego

Marta Dacosta representa a AELG nesta actividade.

“Os dias 18-19 de julho terá lugar na Faculdade de Filologia da Universidade da Corunha (UDC) o 1º Encontro do Livro Galego, que congregará investigadoras e profissionais do setor da edição na Galiza. Aproveitando os cinquenta anos da publicação de O libro galego a discusión, considerado o começo da reflexão contemporânea sobre a indústria do livro na Galiza, este encontro pretende servir para partilhar diagnósticos e estratégias de futuro em relação ao mundo editorial nos seus distintos eixos: institucional, profissional, associativo e académico.
Com este fim são organizadas quatro sessões de trabalho distribuídas em duas jornadas, que reunirão pessoas representantes das instituições culturais (Subdirección Xeral do Libro, Consello da Cultura Galega, área de Cultura da Deputación da Coruña), da investigação (Universidade da Coruña, da Universidade de Vigo, Centro Ramón Piñeiro para a Investigación en Humanidades) e do âmbito profissional (Asociación Galega de Editoras, Federación de Librarías de Galiza, Asociación de Escritoras e Escritores en Lingua Galega, Asociación Galega de Profesionais da Ilustración, Asociación Galega de Profesionais da Tradución e da Interpretación, Consorcio Editorial Galego).
Este evento é organizado no seio do projeto de investigação “Campo Editorial e Cultura Autonómica: institucionalização e industrialização do livro na Galiza (1978-2026)”. Pode consultar-se mais informação sobre o Projeto e sobre o Encontro em Livro Galego.”

A Corunha: III Encontro investigador sobre poesia galega actual

Braga: XIV Congreso Internacional da Asociación de Estudos Galegos, do 17 ao 20 de abril

PROGRAMA

Arturo Casas: “González-Millán trata de promover avanços críticos em que se testasse de que modo as grandes teorizações pretensamente de alcance universal precisavam de um contraste rigoroso e de uma correção da mão do que estudou como “diferença cultural” e “diferença histórica””

Entrevista de Víctor Giadás a Arturo Casas no Portal Galega da Língua:
“(…) – Portal Galego da Língua (PGL): Como surgiu a ideia para este livro?
– Arturo Casas (AC): A ocasião para Cristina Martínez, Isaac Lourido e eu considerarmos a possibilidade de idear algo semelhante a este livro veio dada pelos vinte anos transcorridos desde o trágico acidente de trânsito que segou as vidas de Xoán González-Millán e Esperanza Caneda o 23 de novembro de 2002 preto dos Montes Catskills, no estado de Nova Iorque. Na altura, a perda foi extremamente sentida no mundo académico. Com pouco mais de 50 anos vividos, era muito o que se esperava ainda dele, da sua capacidade de iniciativa como catedrático da City University of New York, como diretor do Anuario de Estudos Literarios Galegos e noutras frentes em que invariavelmente agiu com entusiasmo e convicção. Também se sentiu de maneira entranhada a sua morte noutros âmbitos sociais e culturais, não só na Galiza.
Meses antes daquele cabodano chegou-nos da direção da Através a proposta de pensarmos um livro que não fosse uma homenagem rotineira. Procurava-se uma análise contrastada e vivaz da atualidade do seu pensamento. De como nos atinge no nosso presente, às portas do segundo quartel do século XXI. As co-editoras do volume, que no passado dedicámos uma série de publicações à produção teórica e crítica do autor, consideráramos com certeza a conveniência de que algo dessa natureza se materializasse, se calhar desde diversos ângulos ou perspectivas — inclusive desde diferentes instituições e entidades — e de preferência desde o compromisso crítico, para não acabar no socorrido expediente legitimador ou panegírico, aqui e em toda a parte comum pelas liturgias um bocado deshistorizantes às que nos foi afazendo a cultura da comemoração. Assim que o projeto foi realmente doado de assumir e compartilhar. Interpretámos que o que correspondia era darmos continuidade a achegas anteriores, promovidas entre outros agentes pela Asociación Internacional de Estudos Galegos ou desde o próprio Anuario.
Cousa bem diferente foi a concretização efetiva do projeto, que a equipa de edição quis que fosse bastante mais larga, coral e diversa do que afinal resultou. Até o ponto de que nos vimos na obriga de contribuirmos com algum capítulo da nossa própria autoria para complementar os excelentes contributos de Helena González, Álex Alonso, María Liñeira, Pablo Pesado e María do Cebreiro Rábade. Infelizmente, a resposta no espaço académico (local e global) e noutros limítrofes não foi a prevista. Cabe conjeturar que por um conjunto variado e algo decepcionante de razões, que comentámos com algum detalhe na introdução ao volume.
– PGL: O livro explora a figura poliédrica de González-Millán, as diversas pessoas que escrevem tencionam explicar esta múltipla visão. Existe uma corrente teórica digamos subterrânea do magistério de González-Millán representada nos autores do livro e noutras figuras da teoria galega. Qual é a importância de González-Millán na teoria e na Galiza?
– AC: Sem dúvida existe essa corrente, que não o é apenas de ordem epistemológica ou académica, mas também de afetos. Isto último já pela própria personalidade do autor, a sua cordialidade e a disposição para o traçado de redes colaborativas desde finais da década de 80, tanto na própria Galiza como na comunidade exterior, que ele tanto contribuiu para fortalecer em torno da conceição e fomento duns estudos galegos renovadores. Pelas próprias circunstâncias e dinâmicas universitárias nos Estados Unidos, Reino Unido e outros países, em especial os anglófonos, essa configuração académica e teórico-crítica foi de raiz muito mais aberta e autocrítica do que aqui costuma ser; por exemplo, no referido ao diálogo com as ciências sociais ou à inscrição última das tarefas investigativas na história literária e na filologia, algo notoriamente redutor do que aqui não damos saído.
Em tudo isto constatava-se um grande pulo inovador, mais esses estudos galegos que começaram a perfilar-se em Maine em diálogo com Kathleen March e aquela compreensão do que podiam dar de si a investigação e a docência sobre cultura e literatura galegas têm com tudo uma ligação bastante evidente com o programa do Seminário de Estudos Galegos.
González-Millán, acho que sempre com sossego e prudência, não estava a favor da erudição pela erudição, como também não estava a favor das inercias do positivismo, os caducos determinismos ou os sociologismos ancorados em práticas analíticas anteriores mesmo ao marxismo de Lukács. Conhecedor da tradição da teoria crítica e das sucessivas correntes antropológicas, sociológicas, económicas e teórico-literárias, também dos grandes debates da teoria e da filosofia políticas — com o necessário regresso a pensarmos a hegemonia e as diversas formas da dominação —, a ideia de González-Millán consistiu em tratar de promover avanços críticos em que se testasse de que modo as grandes teorizações pretensamente de alcance universal precisavam de um contraste rigoroso e de uma correção da mão do que estudou como “diferença cultural” e “diferença histórica”. Isto introduz de facto, entre outras cousas, o questionamento de uma compreensão simples do eixe centro-periferia e contribui ao desenho — do caso galego — de um modelo outro, complementário dos estudos pós-coloniais, para entender o acontecido historicamente com as culturas nacionais submetidas a minoração desde a fortaleza de um Estado que nega essa diferença. O qual complica-se no caso galego pelo extraordinário poder e projeção históricos do império espanhol — também do português, com certeza. Outro elemento fulcral da sua compreensão do mundo considero que foi a presença, dignidade e representatividade do exílio republicano.
Acredito que esse justamente é o seu maior legado para o século XXI. Útil mesmo, com limitações, como no nosso livro se constata, para uma leitura feminista da realidade histórico-cultural e dos próprios saberes e convenções académicos. E eu diria que isso tudo — incluído o convite a exercer permanentemente uma reflexividade crítica e emancipadora, uma avaliação do que se está a fazer e dos seus condicionantes e heteronomia — está de uma ou doutra forma em numerosas investigadoras que hoje continuam a ampliar os estudos galegos, tanto na Galiza como noutros espaços académicos. Neste sentido, a importância de González-Millán é máxima. Ainda não se sabe ver bem, precisamente pelo peso e densidade do fator que acabo de introduzir, um grau de autonomia (também de pensamento e análise) insuficiente em muitos sentidos para os desafios que temos à vista.
Cousa diferente a tudo o anterior seria a pergunta (pertinente) sobre a existência de uma continuidade do seu pensamento em forma de escola, corrente, discípulos que mantêm a sua compreensão do mundo, da academia, da história… Sobre isto serei categórico: não creio que haja nada nesse sentido a dia de hoje em nenhum lugar.
Para rematar, no quadro da teoria literária e cultural internacional o reconhecimento da sua produção é limitado e foi seriamente condicionado por um paradoxo: González-Millán publicou muito pouco em inglês. E já se sabe quais as consequências a esse respeito. (…)”

Varsovia: XIII Congreso da Asociación Internacional de Estudos Galegos, do 21 ao 24 de setembro de 2022