Desde Sermos Galiza:
“A primeira obra literária da nossa Renascença viu a luz há um século e meio. Nela o povo galego viu-se no espelho com as suas festas e desgraças, paisagem e alma. Cantares Gallegos foi um extraordinário exercício linguístico e literário que desconhecendo o passado não só tratou de converter o galego em língua poética e reivindicar o seu uso, tremendo esforço para a época e realizado por uma mulher num contexto de intensa subalternidade feminina. Mas excedeu ainda a gesta com uma defesa do ser galego diante das províncias castelhanas, na redescoberta da nossa própria identidade.
Não admira, pois, que os versos de Rosalia de Castro, a filha ilegítima nascida na madrugada de 23 para 24 de Fevereiro de 1837, corressem de boca em boca, primeiro na Galiza e na Argentina, depois por toda a parte onde havia galegos, ficando como a primeira enciclopédia dos nossos sentimentos e modos de ser. Também não admira que neste 2013 em todas as escolas do país houvesse lembranças. E homenagens mais solenes. Outras diferentes ou inesperadas. Como a promovida durante o maior encontro de escritor@s de Expressão Ibérica de Portugal, as Correntes d’Escritas da Póvoa de Varzim, no dia 23 de Fevereiro e em paralelo à clausura. Manuel Jorge Marmelo, Rui Sousa, Ivo Machado, Maria do Rosário Pedreira, Luís Carlos Patraquim, Michael Kegler, Sara Figueiredo, Cláudia Ribeiro, Hélia Correia, Manuela Ribeiro, Possidónio Cachapa e João Tordo, foram ler dois versos cada, da parte IV do conhecido poema A Gaita Galega, a convite de Carlos Quiroga, que os gravou à hora do café e durante a tarde. Montou depois neste vídeo de dois minutos e 20 segundos, com música de gaita e cenas da manifestação compostelana do dia 3 –a condizer com o texto.”