Entrevista a Cesáreo Sánchez no Portal Galego da Língua:
“Recentemente a Asociación de Escritoras e Escritores en Lingua Galega (AELG) distinguiu a escritora portuguesa Lídia Jorge como Escritora Galega Universal. No Portal quigemos entrevistar o presidente desta instituição, Cesáreo Sánchez Iglesias, que muito amavelmente respondeu as nossas perguntas.
– Portal Galego da Língua (PGL): Este ano coubo à escritora portuguesa Lídia Jorge recolher o prémio a escritora galega universal, evento patrocinado pola AELG. Poderias relatar-nos a experiência e a interação que se suscitou com a autora?
– Cesáreo Sánchez (CS): Nomear uma escritora portuguesa escritora galega universal foi para nós oferecer um abraço fraterno e é assim que foi recebido por ela. Fôrom uns dias cheios de comunicação emocionada. Foi um presente a conversa com Lídia Jorge, escritora cultíssima e sensível. É uma carícia para a alma a sua inteligência cheia de ternura, com um sentido ético do trabalho do escritor e dos caminhos polos quais tem que andar toda a sociedade para ser justa, que dá alento. Pola minha, banda pudem partilhar com ela e com o seu companheiro Carlos, tempos onde pessoas como o Zeca Afonso, ou Pedro Tamen nos fôrom e são tão próximas. Ao fim e ao cabo, somos de gerações comprometidas com os nossos presentes e com as nossas terras. Somos da geração dos que pensam que «o povo é quem mas ordena».
Estamos especialmente felizes, eu e mais os colegas e colegas da AELG, porque o prémio a comovesse e a fizesse feliz, que pudesse partilhar connosco um dia de celebração literária, apesar da situação tão dura que estamos a viver no nosso idioma e na nossa cultura.
Para nós, como o foi para ela, revelou-se muito importante a dimensão mediática que o nosso reconhecimento tivo em Portugal, em todas as televisões e na imprensa escrita. Neste momento tão destrutivo para a cultura e a sociedade portuguesa, fôrom conscientes de que as escritoras e os escritores galegos estamos a caminhar com eles, a cantarmos com eles também o Grândola Vila Morena.
– PGL: No passado tem sido o grande autor angolano, Pepetela, o escritor que recolheu o galardão. Estão Angola e a Galiza unidos pola língua?
– CS: Para a AELG foi abrir aos nossos compatriotas uma janela à Lusofonia mais desconhecida. Os estudantes que estivérom no auditório da Universidade de Compostela a escuitar a sua palestra ou colóquio, acho que nunca o esquecerão, como não o esquecerei eu. Para mim, também foi importante conhecer os processos das línguas nacionais que há na Angola e os debates que está a haver.
Evidentemente, estamos unidos pola mesma língua, que dá a luz a realidades tão diversas como a angolana, moçambicana ou brasileira. É um tesouro que temos e não de passado, mas de futuro para a nossa língua. A nossa capacidade de manter cada vez mas forte a nossa relação reintegradora com a Lusofonia permitirá-nos não ficar como náufragos no mar da espanholidade. Vai-nos a vida como idioma e como povo ter capacidade para desenvolver cada vez mais um reintegracionismo normalizador.
– PGL: É habitual e muito antigo o discurso da “irmandade” entre a Galiza, o Brasil, Portugal… são tempos para passar dos discursos às práticas?
– CS: Acho que só se trabalhamos em mudar as escassas relações com a cultura em português, esta realidade mudará, para o nosso bem. Pessoalmente, mantivem desde sempre uma relação enriquecedora com a cultura portuguesa, com os seus poetas (como Carlos de Oliveira), que são alicerce da minha obra. Quando presidia A Nosa Terra ou Edicións A Nosa Terra, nunca nos esquecemos de olhar para os irmãos do sul. Na atualidade, e desde que esta equipa diretiva está à frente da AELG, há uma secção da Lusofonia que coordena Carlos Quiroga e com que levamos adiante jornadas importantíssimas como Letras na Raia, onde escritoras e escritores galegos e portugueses, fundamentalmente os mais novos, partilhávamos conhecimento e relações pessoais.
Acho que este é o caminho, e foi determinante o apoio de Carlos: ele abriu-os todos as portas com o seu conhecimento das suas literaturas e a sua relação com todos os escritores da Angola, Moçambique ou o Brasil. Julgo que se fizo muito, tendo em conta os poucos meios de que dispomos hoje.
Ali onde tenhamos alguma responsabilidade cultural ou literária, é importante que a exerçamos pensando que o galego não acaba no Minho, que só é uma fronteira simbólica que colocárom e continuam a colocar para nos afastar de nós próprios e assim nos negar a nós mesmos como povo e idioma.
– PGL: Na atualidade, não existe uma grande interação entre literatos e literatas da Galiza com os seus homólogos brasileiros, portugueses, angolanos… Que medidas se poderiam tomar para paliar este défice?
– CS: Certamente, existem poucas relações pessoais ou diminuírom muitíssimo as que havia. Para mudar isso é que fizemos diversas jornadas e encontros como os que citei antes. Sempre me guiou o pensamento de que não podia haver menos relações na atualidade das que havia aquando a minha geração tinha amizades com Eugénio de Andrade, com Ramos Rosa, com Pedro Tamen ou com Viale Moutinho, entre outros. Ramos Rosa seguiu sempre a poesia dos mas novos na Galiza, adorava a poesia de Eusebio Lorenzo Baleirón, por citar um caso.
Acho que é responsabilidade de todos, cada um no seu âmbito de trabalho, manter uma relação mais intensa com os nossos homólogos na Galeguia.
À falta das inexistentes relações institucionais, são necessárias as relações no âmbito da universidade, nas organizações políticas e sociais, em todas as plataformas culturais que tenham possibilidade de relação. E, se se me permitir a nível pessoal, eu aconselho visitar Portugal como mínimo uma vez ao ano, para curarmos a alma de tanta espanholidade que nos abafa e quer colonizar.”