Entrevista a Xosé Luís Martínez Pereiro na Revista Quiasmo:
“(…) – Revista Quiasmo (Q): Como é a tua maneira de criar literatura?
– Xosé Luís Martínez Pereiro (XLMP): Varia muito, no âmbito da narrativa umas vezes parto de uma leitura que me marca e da qual tiro uma frase inspiradora que, analisada sob um prisma desacostumado, alimentará toda a narração. Tenho uns quantos cadernos de apontamentos que me servem de inestimável ajuda e assim fugir da mente em branco. Hoje está todo dito e pensado, só falta procurar um novo enfoque, uma nova maneira de dizer as mesmas coisas. O ano passado foi muito curioso e enriquecedor, forcei-me a criar relatos breves em excesso, tanto como para limitar-me, bem a 59 ou bem a 95 palavras, nem uma mais nem uma menos. É uma evidência que eu nasci na primeira das cifras do século mais feminino da nossa era (do ponto de vista da numeração romana) e Uxía, a minha única criação nascida linda atendendo a etimologia, na segunda. Além dos laços familiares une-nos uma existência capicua. Neste momento o resultado pode que tome a forma de livro em papel, como é lógico, está no obrigatório repouso, entretanto já verei o que faço. No teatro gosto de enfrentar as personagens em diálogos corrosivos e pô-las em situações aparentemente absurdas. Para a poesia reservo a minha faceta mais surreal.
– Q: Que impacto ou influência tem a literatura, e as artes em geral, na vida e, em concreto, na tua própria?
– XLMP: Não imagino uma vida sem literatura. A beleza de uma história bem contada ou um poema que lhe faça pensar são um alimento indispensável para quem ama a imaginação e as palavras. Em princípio a realidade é um desastre que respira monotonia e só melhora com uma aventura, com um diálogo inspirado ou com o deleite ante uma imagem que combata a fealdade da existência. O homem que não quer uma existência prosaica, uma vida escrava dos horários, tende a refugiar-se na arte e na literatura, bem naquelas saídas de um mesmo ou nas imaginadas por outros.
As minhas obras dramáticas e narrativas são humorísticas, distorcidas mas com um certo grau de corrosão, e tentam ser actuais. Concordo com a opinião do Nick Hornby quando diz que a literatura séria reflete um mundo que morreu há 40 anos. (…)”
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Samuel L. París: “A poesía é un misterio universal”
Entrevista a Samuel L. París na revista Quiasmo:
“(…) – Quiasmo (Q): Que é para ti a poesia?
– Samuel L. París (SLP): A execución do misterio. Unha procura.
– Q: Essa procura está direccionada? Como repercute na tua criatividade?
– SLP: Non está direccionada, máis alá dos límites que definen a miña incapacidade para creala ou aceptala. Como lector e ouvinte, a poesía opera máis no terreo sorpresivo do “atopar” máis que nun activo “encontrar”. Como creador, o seu misterio e amplitude ás veces resultan paralizantes, aínda que, cando notas que tes as dúas mans metidas nas súas sombras e che lembra que todo é posible, só pode repercutir para levarte a territorios que nunca pensaches visitar.
– Q: Esses territórios estavam aí e “atopam-se” ou criam-se ao caminhar criativamente?
– SLP: Eses territorios non estaban. Non existían. A poesía non é; a poesía foi (podemos atoparnos con ela) ou será (necesitará ser creada), aínda que só pode ser observada desde ese baleiro que é o presente. O importante, como persoa que se pon do lado da creación, é saber que a poesía non se atopa e non se crea sen a túa acción. Por iso é imprescindible que as poetas e os poetas non deixen de buscar e compartir a súa obra. Tamén por responsabilidade e para que quen está por chegar poida continuar o misterio.
– Q: Esse mistério estende-se também à música? Como foi/é a tua experiência com ela?
– SLP: No meu caso, a experiencia coa música é totalmente diferente á da poesía; sempre se artellou como un proceso colectivo, ao servizo dun obxectivo común. Tanto na creación dunha canción, como na maquinación dun directo ou na propia interpretación ao vivo, a necesidade de disolución do individuo nalgo maior foi o camiño para chegar a algo diferente do que unha única persoa podería acadar.
O misterio do local de ensaio ou do concerto difire do da escrita ou do recital. Na música navegas, en compañía, cun rol decididamente flutuante. Na poesía estás nadando en soidade, aínda que esteas acompañado de todo o mundo. (…)”
Óscar Senra Gómez: “André é uma história independente que cria espaços diferenciados e atrai novas personagens”
Entrevista de Tiago Alves Costa a Óscar Senra Gómez en Quiasmo:
“(…) – Quiasmo (Q): Como surgiu a ideia para o romance André e quais foram as motivações que te levaram a escrevê-lo?
– Óscar Senra Gómez (OSG): Por um lado, nasce como o final de uma trilogia, dá continuidade a algumas das histórias de Sete dias com Elisa e 1928 km, ao mesmo tempo é uma história independente que cria espaços diferenciados e atrai novas personagens. Ainda que com ele dou por finalizada esta espécie de saga, André não chegou para resolver as dúvidas que deixaram no ar os anteriores livros. Acho que contribui com novas tribulações, em vez de certezas. Por outro lado, esta que intitulei de ‘Trilogia de Vedra’, surgiu da necessidade de afastar-me da minha zona de conforto e de indagar sobre assuntos que me interessam, como a masculinidade hegemónica ou o idadismo.
– Q: A história decorre em locais tão diferentes como Vedra e Oslo. Como conseguiste integrar esses ambientes de forma coesa na narrativa?
– OSG: Ainda que afetam, os locais são secundários no desenvolvimento da história. Ao focar a atenção nas pessoas, é mais fácil moverem-se de um lugar para o outro sem por isso causar estranheza. De facto, no livro aparecem também Adina, paróquia de São Genjo de onde é Elisa, a protagonista principal da trilogia, Ålesund, de onde era Simen, o seu companheiro, ou Santiago de Compostela, onde conviveram durante décadas antes de decidirem viver em Vedra. No anterior romance, 1928 km, acontecia algo similar, Vedra partilhava protagonismo com Bruxelas. Não procuro um contraste cidade-rural. Esses espaços tão diversos são também um reflexo da realidade de muitas pessoas.
– Q: André aborda uma acusação grave ocorrida há cinquenta anos atrás, que agitou a família Fredberg. Qual a mensagem que pretendes transmitir aos leitores ao explorar temas como justiça e memória?
– OSG: Vejo este livro como uma indagação que não finaliza com um juízo que feche a história e faça mais agradável a leitura. São de poucas certezas. Em parte queria evitar julgar as personagens, também não condicionar a quem lê dirigindo-o para uma solução. Não quero dizer com isso que justifique a quem é acusado. Nem sequer é esse o fundo da questão. Justiça e memória são duas das palavras que acompanham a trilogia toda, mas como um questionamento, como fazia Elisa no primeiro romance, Sete dias com Elisa, perseguindo o significado da felicidade. (…)”