Arquivo da categoría: Lusofonía
Vigo: inauguración da exposición Saramago na Galiza
Luiz Ruffato: “Existem duas grandes comunidades galegas antigas no Brasil, Salvador e Rio de Janeiro”
Entrevista de Iago Suárez a Luiz Ruffato en Nós Diario:
“(…) – Nós Diario (ND): São já várias as vezes que o senhor visita a Galiza. O que tem aprendido destas viagens?
– Luiz Ruffato (LR): Exatamente, são já várias vezes que estive aquí na Galiza e acho que já tenho um certo conhecimento de como funcionam as coisas aquí. Para mim o mais interesante é tentar aprender mais sobre a cultura galega quando visito a Galiza e tentar trazer alguma coisa da cultura brasileira aqui porque nem a uma nem a outra são bem conhecidas. Quando se pensa no Brasil existem uma série de imagens pré-fabricadas que colocam o Brasil dentro de certos lugares quando o meu país é muito mais complexo, então acho que estas viagens são uma maneira de fazer uma troca de informações entre as duas culturas.
– ND: Acha que os galegos conhecem bem o Brasil?
– LR: Não porque inclusive nem nós conhecemos bem o Brasil. Eu sempre lembro que existem duas grandes comunidades galegas antigas no Brasil que são Salvador e Rio de Janeiro e acho que no Brasil as pessoas pensam que os galegos que estão lá são simplesmente espanhóis e isso não é bem assim. Muitos brasileiros não compreendem isso e consomem essa comunidade galega que existe no Brasil como espanhola e não como galega.
Mas também é dificil que os galegos conheçam bem o Brasil porque é um país com muitas diferenças dentro de si. Não se pode tentar entender como uma cultura lusófona, mas como uma cultura multifacetada, eu próprio sou de origem italiana e isso faz com que eu fale a língua portuguesa mas não tenha a cultura portuguesa.
A minha cultura é completamente diferente e tenho uma visão do mundo distinta por causa disso.
No caso da Galiza, embora seja um país pequeno, tem uma diversidade intercultural muito interesante, cada cidade e vila tem a sua própia autonomia cultural. Gosto muito desta parte do mundo e foi uma honra ganhar o prémio de Escritor Galego Universal. Conheço bastante bem a Galiza e en verdade sinto como se estivesse em casa quando estou aquí.
– ND: O senhor tem formaçao em jornalismo e há uns anos dizia que não há nenhum tipo de relação entre a sua literatura e o jornalismo. Tem mudado isso com o tempo?
– LR: Não mudou e até tenho mais convição disso. É uma posição muito pessoal mas quando eu trabalhava como jornalista percebi que nessa profissão o importante é o imediatismo e dar informações que sejan claras e não deixem dúvidas. Pelo outro lado, a grande característica da literatura é o oposto.
O escritor dá uma informação, mas é a pessoa leitora quem deve usar a imaginação para construir as ideias. A literatura exige ser duvidosa, algo que o jornalismo realmente não pode ter embora hoje o que mais tenhamos sejam as ‘fake news’ que estão mais próximas da ideia da literatura do que propriamente da ideia do jornalismo.
– ND: E o futuro do jornalismo?
– LR: Acerca da situação do jornalismo atual, acho que é um problema evidente a falta de contrastação de muitas informações mas não podemos ser ingénuos e pensar que enquanto não existiam os meios comunicaçõ digitais isso não existia porque realmente sim existia e a falácia da objectividade jornalística é mentira, nunca existiu. Mas agora chegamos a um ponto em que qualquer pessoa anónima pode construir uma fantasia e essa fantasia ser consumida por milhões de pessoas sem qualquer possibilidade de confrontar essa informação e isso é um desastre completo.
Devemos lutar para que exista uma regulação disto porque hoje não existe e mesmo temos governos que fazem disso uma área de interese. A única forma de combater isto seria por meio da educação para as crianças saberem a importância de contrastar as informações que nos chegam e poder pensar de uma maneira crítica.”
A Coruña: palestra “As vozes femininas de Angola e Moçambique, con María Felisa Rodríguez Pardo
Lisboa: Adela Figueroa presenta Gotas. Desde a terra até às nuvens
Encontros com o escritor brasileiro Luiz Ruffato (Compostela, 2023)
Porto: Adela Figueroa presenta Gotas. Desde a terra até às nuvens
Antón Baamonde: “A integraçom económica da Galiza e Portugal pode dar lugar a futuras formas de relaçom social, linguística e cultural”
Entrevista a Antón Baamonde no Portal Galego da Língua:
“(…) – Portal Galego da Língua: As relações socioeconómicas com Portugal som um dos focos do teu último livro Unha nova Olanda. Porquê?
– Antón Baamonde: Na realidade, o primeiro que me fascinou, aquilo polo qual tivem interesse desde muito cedo, foi a cidade como carácter e como espetáculo. Continua a ser assim. Parece-me difícil de entender que entre nós o imaginário urbano tenha sido, até há pouco, desatendido e desprezado. O espaço simbólico era ocupado pola visom ruralizante sem atençom nenhuma à história urbana ou aos fenómenos de hibridaçom e mestizagem suburbana. No entanto, “Celtas sen filtro”, uma comédia de Méndez Ferrín, estreada nos anos oitenta, com muito sucesso no seu tempo, caminhava por esse carreiro.
Tanto era assim que nos meus vinte anos estava abduzido pola semiótica – era um fã de Eco&Barthes&co – e se me sentava, por pôr um exemplo, nos jardins de Méndez Núñez na Corunha, ou na Praça do Marqués de Santa Ana em Madrid, ficava com os olhos esbugalhados perante o espetáculo urbano.
Os anos oitenta fôrom o momento de descolagem da moda, por exemplo, como fenómeno social de massas. Uma das consequências, que me fascinava imensamente, era observar como as diferenças de classe através da vestimenta, muito marcadas antes, se desvaneciam em grande medida. A isso colaborárom empresas galegas como Zara, Adolfo Domínguez ou Verino, que nascêrom ao abrigo dessa transformaçom simultânea do gosto, da economia e da sociologia.
Isso parecia-me progresso – a propósito disto, hoje creio que voltam a crescer essas diferenças na moda. Porém, como leitor das Mitologias estava interessado em desentranhar os mistérios da mobilidade social e os novos modos psicossociológicos da conduta de massas. O trânsito duma sociedade atrasada – a espanhola – segundo parâmetros europeus à modernidade. Tenho espírito de flâneur, sem dúvida.
Outras leituras – Simmel, Sennett, Benjamin – aumentárom o meu interesse polo fenómeno urbano em modos que seria longo explicar aqui. Mas tudo isso foi dando um substrato que me levou a tentar pensar sobre o diferente carácter das respetivas cidades galegas fundado nas diferentes histórias e especializações socioeconómicas.
A Portugal, ao Porto, fum, durante muitos anos, regularmente. Quando ainda havia fronteira, nom havia autoestrada, e era uma viagem. Estava “tão perto e tão longe”… Ia comprar livros à livraria Leitura, cear no Mal Cozinhado com fundo de fados e a dar uma volta pola Baixa. Portugal chamava-me a atençom polo ponto “british” e o carácter amável e discreto dos naturais. Essa frase de Thomas Bernhard: “Portugal é o último país educado da Europa”. (…)”