Luís Martínez-Risco: “A opção da escolha pelo português é simples: porque sim”

EntrevistaLuís Martínez-Risco no Portal Galego da Língua a Luís Martínez-Risco:
“(…) – Portal Galego da Língua (PGL): Que é Cultura que Une? Como nasceu a ideia? Quem a integra e quem participa?
– Luís Martínez-Risco (LMR): ‘Cultura que Une’ é uma associação cultural que pretende continuar o labor de reencontro entra a Galiza e o Norte de Portugal que na década de 1920 iniciaram as personalidades mais salientes da cultura galego-portuguesa. Vultos da literatura, do pensamento e da política como Teixeira de Pascoaes, Leonardo de Coimbra, Hernâni Cidade, Santos Júnior, Vicente Risco, Johan Vicente Viqueira, Fermín Bouza Brey,…
A ideia nasceu ao retomar, e redesenhar um velho projeto denominado GALLAECIA, que entre os anos 1990-1992 se desenvolveu em concelhos do Alto Tâmega (Chaves, Montalegre, Boticas, Ribeira de Pena, Valpaços, Vila Pouca de Aguiar) e da «província» de Ourense (Alhariz, Cela Nova, Riba d’Ávia, Ginzo, Verim e Ourense). (…)
Integram «Cultura que Une» pessoas, associações, pequenas empresas, alguma Câmara Municipal. A Associação já está legalizada na Galiza e em fase de legalização em Portugal (onde os requisitos e o procedimento administrativo são muito mais complexos) Consideramos que tal integração passa pela confluência de todos estes elementos. As relações entre pequenas empresas são fundamentais para consolidar mercado. E o trabalho destas com os agentes culturais, imprescindível. O apoio das instituições permite oficializar. E sem as pessoas, nada existe. (…)
– PGL: Qual é a tua opinião sobre a situação linguística na Galiza? Que elementos positivos e quais negativos salientarias?
– LMR: O grande inimigo do galego na Galiza está na força dos meios de comunicação, no lazer, no cinema,… maioritariamente em espanhol. Há uns anos uma ativista do catalão dizia que o que se ganha na escola (na aula) perde-se no pátio. Hoje parece que conseguiram inverter a situação. Há esperança. (…)”

Igor Lugris e Pedro Casteleiro, finalistas no Glória de Sant’Anna

DesdeGlorisatl2016Tarja-1 o Portal Galego da Língua:
“Continuando a “tradição” desde que o certame foi aberto a galegos e africanos, Igor Lugris e Pedro Casteleiro estão entre os 8 finalistas do certame literário Glória de Sant’Anna 2016. O autor ganhador será anunciado próximo 11 de maio.
Igor Lugris é um dos finalistas com a sua última obra, Curso de Linguística Geral, publicada no passado mês de janeiro pola Através Editora. Comparte candidatura com o também galego Pedro Casteleiro com a obra Sefer Sefarad, publicada por Azeta Edicións.
A notícia chega um ano depois de Mário Herrero ter ganhado o certame de 2015 com a obra Da vida conclusa, editada por O Figurante Edicións. (…)”

finalistasgloriasta2016

Susana Sánchez Arins: “seique achega a justiça poética de fazer conhecidos os maldosos anónimos da repressão”

EntrevistaSusana Sánchez Arins AELG a Susana Sánchez Arins no Portal Galego da Língua:
“(…) – Portal Galego da Língua (PGL): seique é o novo livro da susana. que vão encontrar as e os leitores em seique?
– Susana Sánchez Arins (SA): as leitoras vão dar, de entrada, com uma estória de família, de um tio manuel que foi de meu pai e foi mui mau, seique; para de aí dar, passo a passo, com a história mais terrível do país: parto das maldades familiares para tratar do horror da repressão franquista. de passagem, encontrarão uma reflexão sobre a importância da memória e da dignidade na derrota. [sei que não é muito padrão o termo estória, mas se mia couto pode, eu sinto-me autorizada para o utilizar também, e ademais neste caso quadra estupendamente] (…)
– PGL: seique é uma historia poderosíssima. como está sendo recebida?
– SA: acho que mui bem, muito melhor do que eu contava.
eu estou orgulhosa do resultado final do livro, não vou exercer aqui a falsa modéstia. estou orgulhosa porque é desses estranhos casos em que o produto final saiu mais rico e formoso que o produto planificado por mim no início. adoita acontecer ao invés [quando menos a mim]: aquilo que sai publicado não é tão bom como tu sonhaste, sempre escreves pior na realidade que nos teus pensamentos. porém neste caso não foi assim: no processo de escrita dei com uma multidão de ideias e recursos com que não contava, que melhoraram o produto final.
mas também sou realista. sei como se move o campo literário. sei que escrever com nh pecha portas e janelas, que resta visibilidade às obras. e ver o seique entre os dez mais vendidos no mês de outubro para mim foi um shock, pois não contava com tal cousa.
em todo o caso, o mais agradável estão a ser os comentários das leitoras: gostam da forma e o fundo, seique ficam seduzidas pola narrativa e ando a roubar-lhes horas de sono. e, sobretodo, seique está a despertar conversas nas cozinhas, a eliminar silêncios familiares noutras casas, e esse era o objetivo final da escrita. (…)
– PGL: seique é um livro memorialístico. que achega ao campo da memória histórica?
– SA: para mim achega a justiça poética de fazer conhecidos os maldosos anónimos da repressão. a destruição do silêncio cúmplice. após a grande preocupação dos últimos anos por recuperar os nomes das vítimas e devolver-lhes a dignidade arrebatada, creio que é tempo de dizer bem alto, também, os nomes dos vitimários. em 2016 farão-se os 80 anos desde o golpe de estado fascista, a vaga de terror que o seguiu e a repressão da ditadura. 80 anos são avondos.
e reclamo a atenção às estórias frente à história. na atualidade é complicado fazer história daqueles tempos. a história exige fontes documentais contrastadas e, com grande sucesso, o fascismo preocupou-se mui muito de apagar qualquer pegada documental das suas muitas feitorias. e tanto protagonistas como testemunhas diretas estão, quase todas, mortas. porém a tradição oral, as memórias familiares, guardam muita informação do que em verdade sabemos que (sei que) aconteceu. eu animei-me a contar as memórias familiares dessa repressão. e animo outras netas, outros netos, a fazerem o mesmo.”

Teresa Moure: “Uma autora que abandona a literatura oficial para se situar nas margens não é amável”

EntrevistaTeresa Moure 2015 a Teresa Moure no Portal Galego da Língua:
“(…) – Portal Galego da Língua (PGL): Não é habitual a génese da história ser parte da própria história. Porque este recurso em Ostrácia?
– Teresa Moure (TM): A cápsula do romance histórico está superada, acho. Que alguém sente a escrever sobre a vida e milagres de gentes do passado, embora calme a angústia do presente, tem um ar hagiográfico perigoso. Cada ano publicam-se centos de romances históricos que se, ademais, versam sobre mulheres apagadas da história, têm o público assegurado. Mas essa revisão pode ser mesmo reacionária; serve para deslocar-nos do presente, que é o que temos a obrigação ética de mudar. Por isso, à hora de escrever sobre personagens «reais», e com alto valor simbólico, pensei que havia que romper o subgénero do romance histórico e deixar entrar as dúvidas de quem se está a documentar. Como há muita incerteza e falta de concordância entre as biografias de Inessa Armand e de Lenine, como é impossível, aliás, saber o que realmente aconteceu na sua intimidade, uma maneira de evitar que o romance exigisse uma erudita leitura historiográfica era introduzir no relato os próprios problemas que teria uma autora à hora de empreender o seu trabalho. Isso evita a ótica omnisciente e concede profundidade ao assunto da receção, porque eu sabia que um romance sobre leninismo afastaria muit@s hipotétic@s leitor@s da Ostrácia. O leninismo não é amável. Uma autora que abandona a literatura oficial para se situar nas margens também não é. Sabendo que Ostrácia ia ser recebida e interpretada nesse contexto, pensei que estava obrigada a ter a coragem de contar tudo isso. E introduzi uma personagem parcialmente autobiográfica –em parte um piscar de olhos a quem conhece a autora– para assim situar-me à mesma altura de Lenine e Armand. Se eu ia farejar na sua intimidade, o qual é delicado, exibir umas supostas vulnerabilidades minhas era o único exercício eticamente coerente.
– PGL: Ostrácia é um «ajuste de contas» com a história que apaga ou, no mínimo, assombra a figura de Inessa Armand, mas também ajusta outras dívidas…
– TM: Sempre que um ser humano é interpretado como personagem, por intranscendente que for essa condição de personagem, passa por uma etiquetagem. As etiquetagens são preconceitos e, portanto, negativas. É bastante evidente que a Inessa Armand, com um pouco que se pesquise sobre ela, era uma mulher adiantada ao seu tempo. Após ter casado com um homem de certa posição social e ter quatro filhos com ele, após ter fundado algumas sociedades protofeministas, um dia deixa que a casa vá pelo ar simplesmente porque namora… do seu cunhado, treze anos mais jovem do que ela. E vai embora com ele, mantendo os filhos e filhas consigo e conservando sempre uma magnífica amizade e cumplicidade com quem fora o seu marido. Mas torna-se numa mulher de péssima reputação, ao conviver com Volódia, numa relação que se manterá até a morte dele. Nessa época entra a fazer parte do partido Social-Democrata e tem uma atividade política de escassa intensidade, do ponto de vista revolucionário –na sua casa imprimia-se propaganda marxista e organizavam-se reuniões anti-czaristas, não muito mais–. Porém, isto é suficiente para a Okhrana, a polícia czarista, a enviar quatro anos para Mezem, como desterrada, como presa política. Só depois de todos estes episódios é que conhece Lenine e inicia essa relação que se narra em Ostrácia. Embora desempenhe importantes cargos na cúpula bolchevique e no governo revolucionário, Inessa Armand apenas vai ser conhecida, e pouco, como «a amante de Lenine». Não se trata, então, de que eu pretendesse fazer uma leitura em chave feminista, onde se revisasse a sua importância na história da revolução russa; a sua condição de deliberadamente esquecida está fora de dúvida. Foi apagada conscientemente no período estalinista para não sujar a imagem de Lenine. Mas ao narrar e atrever-me a romper a cápsula do género de que falávamos antes, saíam algumas conexões engraçadas entre a Inessa e eu, biográficas e psicológicas, e eu notava essa identificação. Inessa teria desejado uma segunda oportunidade, teria desejado, acho, que não só lhe correspondesse fazer os trabalhos sujos da política, e também que Lenine rompesse com a Nádia por ela. E a autora inevitavelmente via-se obrigada, à medida que reconstruia o relato histórico, a pensar em si própria como autora que estava a dar uma segunda oportunidade ao romance histórico com protagonista feminino e tinha, para ser tão coerente como a Inessa, que explicar a sua posição frente a algum texto que escrevera, de que não renegava em absoluto, mas que fora incorretamente etiquetado como «narrativa histórica feminina».
Eu escrevi Herba Moura e continuo a identificar-me com esse texto. Mas também tenho que enfrentar a realidade: nunca me será permitido nesta sociedade escrever outro texto que seja considerado «tão bom como» Herba Moura. Por ser reintegracionista, evidentemente, percebo como o que escrevo agora tem muitas mais dificuldades para se abrir passagem. Agora a minha escrita pertence a uma dissidência política que já tem nome. Está bem: era algo que assumi quando decidi vir para o lado escuro das normativas ortográficas. Não posso concorrer a prémios porque cometo o delito de escrever com «nh», que é um delito coletivo de todo o reintegracionismo, mas no meu caso tem o agravante de ter renunciado a uma certa consideração oficial. Não é assim tão fácil agora ser traduzida nem participar dos saraus da cultura, embora também não estou a chorar: o movimento reintegracionista há de conseguir a sua visibilidade em pouco tempo. Mas provavelmente sucederia igual se não tivesse dado esse passo. Para além de Herba Moura, publiquei outras 20 obras, por isso é estranho para mim quando chego a um sítio e sou mencionada como a autora desse romance, como se o texto me tivesse devorado… É que todo o pessoal gosta de romances histórico-feministas? Estranho! Outros textos mais elaborados, traduzidos também a outras línguas, não são mencionados nunca. Não gosto, por recato, de expor este tipo de dados mas é possível que o reintegracionismo precise fazer análises detalhadas e agora que o Mário Herrero está a ser tão valente, vou tentar apoiar a sua reivindicação sem falso pudor. Sou a autora de Herba Moura, mesmo se publiquei em todos os géneros literários, se me dediquei por duas vezes a um género tão pouco tratado por autoras femininas como o teatro, se uma obra de teatro minha para além de vários prémios, conseguiu ter toda uma temporada de representações continuadas em muitas vilas galegas a cargo duma companhia prestigiosa como Teatro do Atlántico ou se escrevi seis ensaios, dois deles ganhadores do único prémio de ensaio em galego. Se esse apagamento do resto do que estou a escrever fosse por um assunto de qualidade, ficaria descansada. Mas é que Herba Moura gostou porque recebeu uma leitura domesticada, como se fosse politicamente correto aceitar alguma vez um romance alternativo em chave moderadamente feminista, quando a meu ver as distintas edições, não necessariamente a de Xerais, foram acusando uma castração que pode comprovar-se no desenho da capa, no título ou na mutilação parcial do texto nas diferentes traduções; algo que a crítica, superficial, contribuiu a acrescentar. Havia razões para revistar o meu ponto de vista que alerta contra as censuras do nosso sistema literário e contra as suas manipulações. Finalmente, tentar que seja aceite o próprio ponto de vista é uma tática leninista. Há uns dias saiu uma crítica de Ostrácia onde o caro Mário Regueira declarava que eu tentava impor a minha leitura sobre a tensão da receção. Era atinado. Mas surpreendia-me que Regueira não advertisse o jogo: se escreves sobre Leninismo, tens que procurar essa hegemonia: erradicar os mencheviques. Não ficava outra possibilidade; fazia parte do projeto como jogo literário. (…)”

O profesor Isaac Alonso Estraviz, premio Arraiano Maior 2015

Desde oIsaac Alonso Estraviz Portal Galego da Língua:
“A associação cultural Arraianos concedeu o Prémio Arraiano Maior 2015 ao lexicógrafo Isaac Alonso Estraviz. O galardão será entregue num ato que decorrerá no sábado, 19 de setembro, na capela da Nossa Senhora do Jurês, em Lóvios; e a seguir haverá um jantar de confraternização num restaurante da localidade. Ainda, Estraviz receberá a guilhada e a pucha que o reconhecem como Arraiano Maior, bem como um diploma do coletivo português Porta XIII, premiados na anterior edição.
Da associação destacam o lexicógrafo como «pessoa de bem, referente ético e comprometido com a cultura e o territorio arraiano» e salientam o seu «trabalho sem descanso» para que o galego recuperasse o seu esplendor. (…)”

Valentim Fagim: “O que escrevim e escrevo é para tornar evidente o que as instituições teimam em ocultar”

EntrevistaO-galego-impossível-ainda-mais-capa-670x1024 a Valentim Fagim no Portal Galego da Língua:
“No ano 2001, Valentim Fagim publicou O galego (im)possível, um livro que logo se converteu em referência para uma geração de reintegracionistas. Quinze anos depois vê a luz O galego (im)possível. Ainda mais, revisão daquele marcante trabalho. O autor explica nesta entrevista o que mudou no livro… e o que mudou na Galiza neste tempo.
– Portal Galego da Língua: Foi necessário fazer muitas correções para adequar O galego (im)possível. Ainda mais ao presente? Apesar das necessárias emendas, achas que o livro, em geral, resistiu bem a passagem do tempo?
– Valentim Fagim: Nesta edição tentei sobretudo tirar densidade a algumas partes. De facto, dois capítulos foram reescritos porque não me satisfaziam, não eram diretos. Outro dos focos foi atualizar informações que ficaram desfasadas. Quinze anos dão mais de si desde que existe a Internet.
O livro é atual porque os argumentários, quase sempre lugares comuns, descansam no possibilismo, essa doença de quem ninguém está a salvo seja no âmbito ambiental, de género, político ou qualquer outro. É aquela desculpa de «As cousas deviam ser assim, mas…». A vida social, como se sabe, está cheia de «mas» que a tornam bem mais pobre.
De resto, trabalhamos para que este livro seja desnecessário, que seja visto algum dia com olhos de antropologista e que alguém exclame «como se aborrecia o pessoal. Tantas páginas para dizer obviedades!». (…)”

Verónica M. Delgado: “O reintegracionismo foi quem de construir um nicho de mercado para os pequenos projetos de edição independente”

EntrevistaVerónica Martínez Delgado 2 a Verónica Martínez Delgado no Portal Galego da Língua:
“(…) – Portal Galego da Língua (PGL): Obra individual, mas também muita obra coletiva. Com observas a participação em obras coletivas? É apenas contextual ou também é uma necessidade de pertencer a um grupo, geração…?
– Verónica Martínez Delgado (VMD): As gerações são um invento para simplificar até ao extremo o que não pode e não deve ser simples. Embora a vida humana não possa ser resumida com um recurso tão pobre, é bem certo que, durante a existência duma pessoa, os relacionamentos que se vão produzindo são muito importantes. É esse um motivo das obras coletivas, deixarem pegada desses relacionamentos. Foram esses grupos de amigas e de amigos, de colegas, que propiciaram a minha participação nestas pequenas obras coletivas. Por outra parte, os grupos são importantes para aumentar a dimensão do trabalho criativo, num processo de criação coletiva. A obra individual vê-se em muitas ocasiões inserida num contexto, a recriação dum ambiente concreto enquanto se mexe com a obra parcial de outras autoras. Finalmente são pequenos testemunhos dum momento concreto, pequenas pegadas. (…)
– PGL: No teu caso, poesia feita por mulheres, poesia feminista ou simplesmente poesia numa sociedade que discrimina polo género, pola idade, pola língua, pola cor da pele, pola ortografia, polo capital económico…?
– VMD: Não existe uma ideologia única na qual incluir todo o feminismo, igualmente não existe uma única mulher a escrever poesia, nem uma ideia única que inclua o pensamento de todas as mulheres.
O que eu faço é poesia que fala dum contexto, dum tempo e dum lugar, em que o pensamento livre está a ser absolutamente aniquilado. Esse tempo e esse lugar em que o cristianismo pós-franquista continua a ser uma máxima inquestionável dentro da sociedade. A poesia deve fazer pequenos buracos para abrir um pouco de luz. Como mulher, o padecimento pessoal é enorme e, consequentemente, deve ser manifestado de forma contundente. (…)
– PGL: Finalmente, depois de uns anos tão prolíficos quanto a publicações e presença pública, de que falará a tua escrita no futuro? Aprofundar caminhos já abertos? Abrir novos caminhos?
– VMD: A criação é sempre um caminho aberto. A escrita foi sempre uma necessidade, pelo qual continuarei a me expressar desse jeito, mas creio que devo começar um tempo de descanso, de silêncio. Dar saída a outros projetos profissionais que têm ficado parados durante muito tempo, demasiado já.
Acho que escreverei sempre do que me despraz, do que me dói, continuarei a denunciar as situações injustas, também do gozo, das minhas pequenas coisas, mas nem sei se continuarei a publicar. Contudo, é difícil dizer por que percurso vai avançar a minha escrita nesta altura.”

Manuel Maria: Dia das Letras para um defensor do reintegracionismo

DesdeManuel María o Portal Galego da Língua:
“(…) Como já aconteceu em 2012 com Valentín Paz-Andrade, o Dia das Letras de 2016 será dedicado a umha pessoa que defendeu em vida a valia das teses reintegracionistas. (…)
No caso do escritor da Terra Chã, a defesa das teses reintegracionistas nom ficou apenas como declaraçom de intenções, pois publicou três poemários seguindo a normativa da Associaçom Galega da Língua (AGAL), constituída em 1981: Versos do lume e o vaga-lume (1983), A luz ressuscitada (1984) e Oráculos para cavalinhos-do-demo (1986). Precisamente, A luz ressuscitada levou o carimbo da AGAL, pois esta obra inaugurou a coleçom ‘Criaçom’ da editora da AGAL. (…)
Estas obras vírom a luz na década de oitenta. A própria RAG reconhece que nesta etapa literária Manuel Maria publicou «o seu mais rico córpus poético» e indica também que se envolveu «ativamente» em antividades de entidades como a AS-PG ou a AELG.”

Mário Herrero Valeiro: “O galego ILG-RAG foi concebido, desenhado e implementado para que nada mudasse, aparentando que tudo estava a mudar”

Entrevista A-normalização-linguística-uma-ilusão-necessária-capa-Mário-Herrero a Mário Herrero Valeiro no Portal Galego da Língua:
A Normalização Linguística. Uma Ilusão Necessária, é a última edição da Através, chancela editorial da AGAL. Conversamos com o autor, Mário Herrero, responsável autorial de Guerra de Grafias, Conflito de Elites, editado em 2011, obra intimamente ligada à atual.
– Portal Galego da Língua: Que vai encontrar o leitor de Guerra de Grafias neste segundo volume?
– Mário Herrero: Neste mundo curioso em que vivemos, as primeiras partes das obras acabam vendo a luz depois das segundas partes. É engraçado. Mas também é índice de precariedade. Contudo, a precariedade encoraja mais o pensamento do que superabundância. Neste segundo volume, o leitor de Guerra de Grafias vai encontrar, primeiro, a fundamentação teórica e a contextualização global desse velho livro e deste novo livro. O percurso lógico é ler primeiro o novo livro, Ilusões Necessárias, e depois Guerra de Grafias. Talvez alguém tenha a vontade de fazê-lo e, assim, acho que compreenderá muito melhor o que quis dizer em Guerra de Grafias. E o que quis dizer vai muito mais além da simplicidade que é estabelecer o axioma de a ortografia agir como índice ideológico e identitário. O controlo sobre as línguas, neste caso sobre a construção formal das línguas, cria realidades, muda o mundo das pessoas, condiciona as suas vidas. Não inventa apenas significados, mas também significantes. Visões do mundo profundamente ósseas mas, para o que agora me interessa, também puramente epidérmicas. E vivemos cada vez mais num mundo epidérmico, em que a primeira olhada pode chegar a definir a verdade, a compreensão das cousas, mesmo a sua eventual evolução ou transformação. O instantâneo, a pulsão inicial, o prazer banal do início das cousas, rege o mundo de muitas pessoas. É um mundo de visões primárias que não aprofundam porque aprofundar desconforta. Porque aprofundar dá medo. Sempre deu medo. Mas agora talvez mais do que nunca porque a tecnologia nos permite viver apenas num universo de imagens. A língua torna-se imagem e o controlo sobre essa imagem, que é apenas a epiderme da língua, torna-se essencial. Posso escrever um texto em norma ILG-RAG profundamente português, no sentido estrutural e simbólico, e nada ocorre, nada é subvertido, apenas talvez em pequenos cenáculos de poetas amantes da censura e de outros tipos de hibridação mais cool. Mas se escrevo um texto em Acordo de 1990 profundamente castelhanizado, tanto no estrutural como no simbólico, entram em cena imediatamente os mecanismos da censura global. O visual imediato como definidor da realidade, da normalidade, do desejável ou do permissível. A pós-modernidade ultrapassada. (…)”

Joel R. Gômez: “Guerra da Cal é um dos valores mais desaproveitados da cultura galega”

EntrevistaJoel Gômez Ernesto Guerra Da Cal a Joel R. Gômez no Portal Galego da Língua:
“No livro Ernesto Guerra Da Cal. Do exílio a galego universal, o jornalista e investigador Joel R. Gômez, estuda «uma personalidade muito valiosa e atrativa» do século XX. Ao valorizarem a sua produção, Otero Pedrayo assinalou-o de «mestre da nova galeguidade» (página 114); Antônio Houaiss de «gramático, lexicógrafo, filólogo, erudito do campo ibero-românico, professor sem jaça, Ernesto é homem múltiplo, que no fazer completa seu saber» (p.119); o ensaísta e diplomata português Eugénio Lisboa referiu-se a ele como «grande trabalhador e dinamizador da cultura, galaico-português de dimensões universais, mestre supremo de língua e literatura, sage sedutor, grande civilizado que é também um invulgar mestre de viver»v(p. 251); e o académico norte-americano Odón Betanzos Palacios frisou «su decidida voluntad y acción en defensa de la libertad» (p. 290). Publicado sob a chancela da editora Através, já teve lançamento a 10 de maio na Feira do Livro de Compostela e repetirá a 6 de junho na de Ourense. (…)
– Portal Galego da Língua: Guerra Da Cal é muito pouco conhecido na Galiza, embora a sua figura adquiriu uma grande importância em Portugal, no Brasil e mais nos EUA, todos eles lugares onde foi oficialmente reconhecido. A que achas que se deve isto?
– Joel Gômez: No livro referencio mais de 50 trabalhos muito valiosos sobre Da Cal publicados no nosso país entre 1959 e 1999, assinados por Fole, Otero, Piñeiro, Risco, Del Riego, Aquilino, Manuel Maria, Franco Grande, Ferrín, Alonso, Bodaño, Casanova, Xosé Estévez, Célia Díaz, Maceira, Durão, Alcalá, Montero Santalha, Henríquez, Posada, Rabunhal, Dacosta, Salinas, Guisán, Gil, Fontenla, Estraviz ou Carvalho, por citar alguns; os portugueses Jacinto Coelho, Lapa, Montezuma e Elsie Da Cal; e de historiadores e especialistas diversos; para além de volumes de homenagem das Irmandades da Fala de Galiza e Portugal e da Associaçom Galega da Língua, e citações em diferentes repositórios e estudos. E o reconhecimento acrescentou-se após 1999, com muitos outros trabalhos, mesmo com alguma distinção oficial, como dedicarem-lhe uma rua e homenagens que patrocinou o Concelho de Ferrol. E ele emerge frequentemente na atualidade galega. É, pois, valorizado, sobretudo como nome principal do exílio galego, como perdedor da Guerra da Espanha de 1936. (…)”