José Alberte Corral: “Nengum poeta galego com empatia e raizames com os humildes pode deixar de constatar a dor e o sofrimento em que estám mergulhados”

EntrevistaJosé Alberte Corral Iglesias a José Alberte Corral no Portal Galego da Língua:
“(…) – Portal Galego da Língua (PGL): Afirma Xulio López Valcárcel no prefácio que Gume de Navalha é «um desabafo nascido da “necessidade”». É tanto assim?
– José Alberte Corral (JAC): É. Gume de Navalha nasce da necessidade de me objetivar na veracidade existencial em que me encontrava nos momentos da sua escrita. Na iniludível olhada às esperanças, derrotas, vivências, experimentadas por mim desde as mais fundas cicatrizes que me conformam.
– PGL: Mais umha vez, o neoliberalismo selvagem e o imperialismo som alvo das tuas críticas, e um dos termos que mais se repete no texto é «infámia»…
– JAC: O neoliberalismo é em si mesmo a barbárie mais absoluta em que estamos envolvidos. É a ferramenta ideológica, política e económica do imperialismo anglo-sionista com a qual nom só nos escravizam, senom que também nos conformam na resignaçom e na cegueira. Infámia é a palavra com que descrevo a realidade perversa em que nos mergulham e ainda se chacoteiam de nós. Através dessa expressom pocuro dar um urro de arrebato pola nossa dignidade em tanto que povo e em tanto que classe. (…)
– PGL: A voz lírica de Gume de Navalha afirma que a sua vida decorreu «a golpes de cinzel». É umha mensagem autobiográfica?
– JAC: Todo ser humano existe nom só por razons biológicas, senom também por razons sociais e culturais. Somos em tanto que conhecemos e produzimos. Para conhecer é precisa a «palavra», é o instrumento que nos permite fazê-lo. E estes apetrechos venhem-nos dados de graça polos homens e mulheres que nos precedêrom e com os quais convivemos. Só podemos ser em tanto que é com os demais e nos demais; se nom, nom pode ser.
O que som atualmente é como conseqüência das minhas experiências com os outros e nos outros, das minhas vivências. Por razons que nom venhem ao caso, conhecim grandes traiçons e extraordinárias generosidades. O vivido, o compartido com os demais no transcurso do tempo fai-me ser o que som hoje, e isto manifesta-se na minha poesia e muito mais em Gume de Navalha, que é um livro de olhadas e de reflexons sobre o sonhado e vivido. (…)”