Lara Dopazo gaña o Certame Francisco Añón de Poesía 2015 con Ovella

DesdeFrancisco Añón o Portal Galego da Língua:
“Lara Dopazo Ruibal, natural de Marim, foi a ganhadora do certame Francisco Anhom de Poesia na ediçom de 2015, dotado com 1.200 €. Segundo o júri, o poemário ganhador, Ovella, salienta polo «trabalho de precisom» da autora, numha «esturtura longa, nada fácil de trabalhar» em que também «destaca o trabalho com as imagens».
O júri também concedeu dous accesit para os poemários Ani(vers)ario, de Vicente Vázquez Vidal (Melide) e Nomearte é morrer un pouco menos, de Manuel Otero Boquete (Ames).
Na seqüência do ato de entrega dos prémios participárom, entre outras pessoas, Verónica Martínez Delgado, autora do prefácio de Doe tanto a túa ausencia, de Eli Ríos, obra ganhadora em 2014. Também foi apresentada uma coletânea dos trabalhos apresentados em 2014.”

Compostela: abre as portas a Casa da Língua Comum

DesdeCasa-da-Língua-Comum o Portal Galego da Língua:
“A Casa da Língua Comum é um projeto ao serviço da promoção da língua e a cultura que abre as suas portas o dia 25 de abril. Fica situada na rua de Emílio e de Manuel, 3, r/c – 15901 Santiago de Compostela (Galiza).
Os promotores, pessoas e entidades da sociedade civil com longa experiência e provada implicação na criação cultural, a investigação e o desenvolvimento da comunidade linguística galega, entendemos o momento presente como uma oportunidade para consolidar um novo modelo baseado no entendimento entre diferentes sensibilidades, a colaboração mútua e o aproveitamento das sinergias, para melhor servir a sociedade em que nos inserimos. (…)
A Casa da Língua acolhe os escritórios da Academia Galega da Língua Portuguesa e da Através Editora, e oferece o seu espaço a atos culturais, apresentações de livros, exposições e debate, como serviço à sociedade.” Este é o programa:

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Ângelo Brea: “A ficção científica tem muitos elementos de que qualquer pessoa pode gostar, não apenas as viagens pelo espaço ou a visita a mundos desconhecidos”

EntrevistaÂngelo Brea a Ângelo Brea no Portal Galego da Língua:
“(…) – Portal Galego da Língua (PGL): O que te levou a enveredar pela ficção científica [Lembranças da Terra & Outras histórias de um futuro possível]?
– Ângelo Brea (AB): O meu interesse pela ficção científica vem desde a adolescência. Naquela época lia muitíssimos romances de ficção científica, desde as novelas tipo pulp a obras de grandes romancistas, em especial os clássicos do género. Tudo o que me caía nas mãos. Obviamente, não era a minha única área de interesse, mas lembro-me daqueles romances e novelas com muito carinho, porque sem elas não teria enveredado por estes trilhos.
– PGL: Além da ficção científica, dedicas-te a narrativas de outros géneros. Que trabalhos estão na gaveta “eletrónica” e em quais estas a trabalhar agora?
– AB: Em realidade, Lembranças da Terra e outras histórias de um futuro possível foi apenas uma escolha de todos esses textos que tenho na gaveta. Para dar algo de coerência ao volume, decidi recompilar apenas os relatos de ficção científica. Para outra ocasião ficarão os relatos pertencentes a outros géneros (o histórico, o terror, a intriga, etc…). Também tenho um par de romances rematados, que aguardo poder publicar nuns anos. O primeiro é um texto ambientado na história lendária da Galiza, num tempo de heróis e de deuses, que tem como protagonista Ith, filho de Breogão, da raça dos Gaedhail. O segundo é outro romance histórico, ambientado no Egito da IV Dinastia. (…)”

Até o 31 de decembro, Concurso para poetas de 18 a 30 anos para participar na antoloxía Emergente – Novos Poetas Lusófonos

Desde o Portal Galego da Língua:
“O escritor Samuel Pimenta lançou um concurso para poetas dos 18 aos 30 anos para a participação na antologia Emergente – Novos Poetas Lusófonos. A iniciativa é uma parceria com a editora Livros de Ontem e os trabalhos podem ser enviados até 31 de dezembro.
«Iniciativas como esta, viradas para jovens poetas, são pouco recorrentes no âmbito da Lusofonia. Por isso pretendemos seleccionar até 12 jovens poetas emergentes de todo o universo lusófono e reuni-los numa publicação anual. Queremos que a Emergente tenha uma voz plural e que seja representativa do português que se fala em todo o mundo», explica Samuel Pimenta.
Face às dificuldades que muitos jovens poetas encontram em afirmar-se no mercado editorial, a antologia Emergente pretende criar um espaço de oportunidade e de reconhecimento que possibilite a projeção nacional e internacional dos seus participantes. «Independentemente do local onde residam os poetas, a única condição é expressarem-se em português, qualquer que seja a sua variante». (…)”

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José Alberte Corral: “Nengum poeta galego com empatia e raizames com os humildes pode deixar de constatar a dor e o sofrimento em que estám mergulhados”

EntrevistaJosé Alberte Corral Iglesias a José Alberte Corral no Portal Galego da Língua:
“(…) – Portal Galego da Língua (PGL): Afirma Xulio López Valcárcel no prefácio que Gume de Navalha é «um desabafo nascido da “necessidade”». É tanto assim?
– José Alberte Corral (JAC): É. Gume de Navalha nasce da necessidade de me objetivar na veracidade existencial em que me encontrava nos momentos da sua escrita. Na iniludível olhada às esperanças, derrotas, vivências, experimentadas por mim desde as mais fundas cicatrizes que me conformam.
– PGL: Mais umha vez, o neoliberalismo selvagem e o imperialismo som alvo das tuas críticas, e um dos termos que mais se repete no texto é «infámia»…
– JAC: O neoliberalismo é em si mesmo a barbárie mais absoluta em que estamos envolvidos. É a ferramenta ideológica, política e económica do imperialismo anglo-sionista com a qual nom só nos escravizam, senom que também nos conformam na resignaçom e na cegueira. Infámia é a palavra com que descrevo a realidade perversa em que nos mergulham e ainda se chacoteiam de nós. Através dessa expressom pocuro dar um urro de arrebato pola nossa dignidade em tanto que povo e em tanto que classe. (…)
– PGL: A voz lírica de Gume de Navalha afirma que a sua vida decorreu «a golpes de cinzel». É umha mensagem autobiográfica?
– JAC: Todo ser humano existe nom só por razons biológicas, senom também por razons sociais e culturais. Somos em tanto que conhecemos e produzimos. Para conhecer é precisa a «palavra», é o instrumento que nos permite fazê-lo. E estes apetrechos venhem-nos dados de graça polos homens e mulheres que nos precedêrom e com os quais convivemos. Só podemos ser em tanto que é com os demais e nos demais; se nom, nom pode ser.
O que som atualmente é como conseqüência das minhas experiências com os outros e nos outros, das minhas vivências. Por razons que nom venhem ao caso, conhecim grandes traiçons e extraordinárias generosidades. O vivido, o compartido com os demais no transcurso do tempo fai-me ser o que som hoje, e isto manifesta-se na minha poesia e muito mais em Gume de Navalha, que é um livro de olhadas e de reflexons sobre o sonhado e vivido. (…)”

Vítor Vaqueiro: “A distinção entre ‘galego’ e ‘português’ depende da posição em que se colocar quem observa”

EntrevistaVítor Vaqueiro a Vítor Vaqueiro no Portal Galego da Língua:
“(…) – Portal Galego da Língua (PGL): Segundo explicas no teu artigo para o Sermos Galiza, a tua obra, Palavras a Espartaco, foi considerada a de maior qualidade, mas no final não resultou a ganhadora por se considerar que está redigida «em português». Isto, apesar de que nas bases do certame Victoriano Taibo só se especificava que as obras deviam estar redigidas em galego. Defendeu de alguma maneira o júri que a tua obra não estava em galego? Achas possível argumentar que algo é ‘português’ em lugar de ‘galego’?
– Vítor Vaqueiro (VV): Em realidade, eu não conheço as deliberações do júri, já que, segundo assinalo no próprio artigo, a notícia chega por uma via e numas circunstâncias excecionais, quase incríveis, porque o acaso existe e, como diria um conhecido matemático, John Allen Paulos, «é improvável não ocorrerem cousas improváveis». Quero dizer com isto que a pessoa que me informava mesmo desconhecia a minha participação no certame e nem sequer era integrante de dito júri. Acho, porém, que se julgou mais bem o texto pola sua aparência gráfica. Ora, estou totalmente certo de que nem todos os membros do júri pensam que o livro não está escrito em galego.
Quanto à segunda questão: não sei se é possível argumentar que algo é ‘português’ em lugar de ‘galego’. Sei, porém, uma cousa: que é impossível demonstrar que Palavras a Espartaco, o livro que concorre ao prémio, não é galego. A distinção entre ‘galego’ e ‘português’ depende da posição em que se colocar quem observa. Se considerarmos galego o que se fala na rua, então carretera, a leite, naranxo ou o ponte é galego. Às avessas, muitos textos publicados na norma ILG não são ‘galego’, porque a gente não diz prognóstico, nem árvore, nem luvas, nem hepatite, nem centos de vocábulos ou expressões que estão padronizados como galego. (…)
– PGL: Por último, como deve um autor ou autora reintegracionista enfrentar a hora de decidir participar num certame? Deve começar por contatar a organização e perguntar explicitamente se as pessoas reintegracionistas estão vetadas?
– VV: Bom, desejaria dizer antes de mais que eu decidira há uns 25 anos deixar de participar em certames, cousa que cumpri até este ano. Se concorri a este foi, em primeiro lugar, porque, por primeira vez depois de 35 anos, via-me sem editorial, tinha um texto de difícil publicação e as Bases do prémio mesmo garantiam a edição da obra ganhadora. Em segundo lugar, porque essas mesmas Bases não enunciavam, como ocorre na maioria dos prémios, nenhuma restrição normativa e achei que não se iam produzir critérios de exclusão e poderia ter alguma possibilidade de ver publicado o meu livro duma maneira quase automática. Se eu não decidisse há um ano e meio abandonar a norma ILG-RAG ou se o prémio Victoriano Taibo especificasse com claridade que só poderiam participar aquelas pessoas que seguissem o padrão ILG-RAG, neste momento não estaríamos a falar tu e mais eu.
Respondendo a tua pergunta: uma pessoa reintegracionista tem, do meu ponto de vista, que enviar o texto e aguardar o falho do júri, se é as Bases do prémio não proibirem a participação de quem não siga o padrão atual. Se o proíbem, então deve escutar a sua consciência, que lhe indicará abster-se ou participar, concorrendo para dar conta, no próprio interior do júri, da existência duma discrepância. (…)”

Adela Figueroa: “As lutas partilhadas com companheiras e colegas levantaram em mim a sensibilidade e necessidade de comunicar os meus sentimentos, assim nasceu o meu primeiro livro de poesia”

DesdeAdela Figueroa o Portal Galego da Língua:
“A escritora e ativista ambientalista galega Adela Figueroa respondeu as perguntas dos alunos do CEIP 121 Professor Joadélio Codeço de Marambaia (São Gonçalo do Rio de Janeiro). As respostas foram publicadas para o blogue da Revista Literária Pós-Moderna Plenitude.
Adela Figueroa explica que começou a escrever poesia pela necessidade de comunicar as suas emoções. Coloca como exemplo o seu primeiro livro de poemas, Vento de Amor ao Mar, que nasceu do grande impacto que lhe produziu o desastre ambiental do Prestige e a guerra do Iraque. Acrescenta que descobriu muito tarde que tinha essa capacidade e que agora faz poesia “por qualquer coisa”, porque “a vida é mesmo poesia e o Universo canta com a sua música particular das estrelas até o vibrar das moléculas”.
A autora também fala da sua obra poética mais íntima, dos poemas que escreveu para seus pais e seus filhos e do livro de contos que dedicou ao seu neto e que contém muitas poesias que após foram musicadas e reunidas no CD O Rei da Floresta. Neste grupo de poesias mais pessoais, salienta “Quen fose vela!”, escrita ante a perda de um grande amigo, e o primeiro poema de Atlântida, Mulher d’água, um livro que ainda está para ser publicado. (…)”

Susana Sánchez Arins: “Estou a fazer o meu pequeno contributo para despirolizar a AGAL”

Entrevista a Susana Sánchez Arins no Portal Galego da Língua:
“(…) – Portal Galego da Língua (PGL): Várias escritoras impulsastes um espaço de crítica na rede, A Sega, onde conviveis autoras que tendes diversos pontos de vista sobre língua. Que tal está ser a experiência?
– Susana Sánchez Arins (SSA): A experiência d’A Sega é para mim definível com duas palavras: aprendizagem e alegria. Somos críticas literárias que partimos de dous pontos em comum: a galeguidade e o feminismo. E mesmo nessas partilhas somos mui diferentes, como bem indicas, ainda que eu não considero que tenhamos diversos posicionamentos linguísticos mas diferentes estratégias normalizadoras.
O grupo, que funciona de maneira virtual, em vez de viver essa diversidade como uma problemática, vive-o como riqueza. Aprendemos muitíssimo umas das outras. E passamo-lo mui bem. Quando abro a conta do gmail, fago-o com um sorriso e pensando a ver se alguma segadora escreveu algo… Assim é um gosto! Temos experiências, vitais, formativas, profissionais, mui diversas e cada vez que temos que fazer alguma cousa entre todas, de maneira colaborativa, nascem matizes, facetas e brilhos que nenguma das nossas individualidades poderia aportar sozinha. Num espaço assim, a diversidade linguística também não é vivida como problema. Levamos um ano de funcionamento e eu só sei que me sinto mais sábia e melhor acompanhada que antes. (…)
– PGL: És uma mulher de interior, mas conheces excecionalmente bem a cultura marinheira. Considerando a tua experiência, tens a impressão de que existem duas Galizas, uma, ou muitas?
– SSA: Que conheço mui bem a cultura marinheira duvido… Admito que sou curiosa e gosto de fazer parte dos lugares onde vivo. E habitar uns anos a Arousa deu-me possibilidade de aprender muito das minhas vizinhas. Descobrim uma parte da minha língua e da minha cultura que me eram desconhecidas, mas em que pudem entrar sem problema porque contava com as chaves que me dava a minha rural galeguidade. Uma das minhas amizades carcamãs vem de fazer a viagem inversa e também não encontrou problemas. Obtém a mesma felicidade entre as abelhas da Terra de Montes que entre as bateias do Salnês. Por isto não acredito que haja duas Galizas, penso que há quase tantas como paróquias. E isso é uma maravilha. Temos uma cultura enormíssima e dá gosto pensar que sempre, algures, resta algo por aprendermos de nós mesmas. (…)”

Eli Rios: “A figura de Maria Solinha está amplamente tratada na nossa tradiçom mas (quase) todas som narradas com perspetivas masculinas”

Entrevista a Eli Rios no Portal Galego da Língua:
“(…) – Portal Galego da Língua (PGL): Vés de ganhar em 2013 o I Prémio de Poesia Figurante e de publicar na sua editora o poemário Maria. Que vai encontrar o/a leitor/a nesta obra?
– Eli Rios (ER): Um poemário que precisa da pessoa que lê. Nom há respostas mas sim perguntas sobre cada quem tem de voltar sobre elas (se quiger).
Nom estamos perante uma poesia intimista nem de costumes. Maria traz até a tona do verso temas tam complexos, e com múltiplas leituras, como a sociedade patriarcal, o lesbianismo, a maternidade, a crise económica, a indefensom aprendida, a transmissom numa voz feminina…
– PGL: Por que demorou tanto em ser umha mulher quem tratasse da figura de Maria Solinha, a priori, tam atrativa na perspetiva feminista?
– ER: A figura de Maria Solinha está amplamente tratada na nossa tradiçom: aí temos as músicas de Carlos Núñez e Teresa Salgueiro, Luar na Lubre, etc, a biografia feita por Encarna Otero, o filme A paixón de María Soliña… mas todas (excetuando a biografia antes mencionada) bebem da transmissom patriarcal, som narradas com perspetivas masculinas ou, simplesmente, repetem as estrofes escritas por Celso Emilio Ferreiro.
Maria nom procura o rigor histórico nem inventar nada. Só tenta fazer uma viagem ao futuro e “dar” uma oportunidade de “vingar-se” da injustiça a todas aquelas marias que nalgum momento foram silenciadas pela sociedade patriarcal. Recordemos que no processo contra Maria Solinho havia oito mulheres mais… Esta tentativa de “re-apropriaçom” da historia por parte das vozes femininas e a liberdade criativa usando umha personagem histórica é sempre bem vista na narrativa e com óticas patriarcais mas na poesia continua sendo “freak”. Por quê? Pois pelo mesmo que no tratamento informativo da morte dumha mulher se focaliza o “morbo”, pelo mesmo que as instituiçons acham que nom devemos gerir o nosso próprio corpo, pelo mesmo que um homem sente que nos agradam os comentários sobre o nosso físico quando caminhamos pela rua… Resta muito por andar nom só no feminismo mas também na educaçom das pessoas e isso nom se faz num dia. A literatura vai da mao da sociedade. Em pleno século XXI lembro o caso do Lusocuria da Verónica Martinez Delgado que trata o tema da sexualidade feminina e foi qualificado pela crítica como um libro “porco” dumha autora “frustrada”. Nessas estamos ainda aqui na Galiza… (…)”

Alva Martínez Teixeiro: “No âmbito português e brasileiro, quando sabem que sou galega, o comentário mais habitual é mas és quase portuguesa

Entrevista a Alva Martínez Teixeiro no Portal Galego da Língua:
“(…) – Portal Galego da Língua (PGL): Vens de publicar na Laiovento o ensaio Nenhum vestígio de impureza. Que vai encontrar o leitor nesta tua última obra?
– Alva Martínez Teixeiro (AMT): Nos últimos tempos, está a produzir-se, por um lado, uma intensificação no processo de divulgação e/ou no conhecimento da obra andreseniana, tanto no âmbito dos países de língua portuguesa, quanto no alargamento da difusão internacional da mesma segundo uma nova conceção. Nesta linha de pensamento, o objetivo geral que persegui neste ensaio foi o de dar a conhecer (de maneira mais aprofundada) a escrita de Sophia de Mello Breyner Andresen, figura central e basilar na poesia portuguesa do século XX.
Neste sentido de (re)descoberta plena da sua escrita complexa e plural, o leitor vai encontrar no ensaio a consensual admiração perante a palavra e o retorno poéticos à pura necessidade intelectual de beleza, verdade e sabedoria, absolutamente diferentes dos standards estéticos da sua época. Porém, encontrará também –e isto é relativamente novidoso– o espanto perante a obscuridade que se percebe sob a superfície luminosa da sua obra, ligada aos temas da consciência da quebra da unidade com o ideal ou da superficialidade e da pobreza espiritual do mundo contemporâneo.
Enfim, nas páginas do livro procurei explorar as diferentes possibilidades de interpretação desta obra paradoxal, com base no claro-escuro, para demonstrar a verdadeira dimensão da sua exigência de esclarecimento, a partir da oposição contra qualquer forma de mistificação ontológica e/ou moral, como a indiferença, a alienação, a mentira ou a injustiça. (…)
– PGL: E da ótica oposta, como é que vem a Galiza nesse âmbito [mundo académico portugués e brasileiro]?
– AMT: De modo geral, não existe um conhecimento muito aprofundado quanto à Galiza, mas há um certo sentido de proximidade, de facto, quando as pessoas sabem que sou galega, o comentário mais habitual que ouço é “Ah! Mas és quase portuguesa”…
Desde este ponto de vista, procuro aproveitar todas as oportunidades possíveis –e escassas– de divulgação da cultura galega entre os alunos de literatura e cultura brasileira, por exemplo, estabelecendo comparações entre o processo de formação da identidade brasileira e o processo de (re)construção da nossa identidade nacional nas aulas de Literatura do Século XIX ou, ao falar do ‘Orientalismo’ na literatura ocidental, referindo a figura de Cunqueiro ao lado de Borges, pois, se um dos alunos procura um livro de Cunqueiro na biblioteca da faculdade –aliás, uma biblioteca razoavelmente bem dotada de bibliografia galega–, já terá valido a pena. (…)”