Desde Nós Diario:
“Intervención da poeta palestina Shahd Wadi no acto de recollida do Premio Honorífico ‘Escritora Galega Universal’, concedido pola AELG, no marco da Gala dos Premios Follas Novas do Libro Galego 2025 o pasado 26 de abril.
Rosalía de Castro declara no seu poema:
“Din que non falan as plantas,
nin as fontes, nin os paxaros,
nin a onda cos seus rumores,
nin co seu brillo os astros,
dino, pero non é certo,
pois sempre cando eu paso,
de min murmuran e exclaman:
—Aí vai a tola soñando
coa eterna primavera da vida e dos campos”.
Também sou, sobretudo, uma tola soñando. Soñando com uma Primavera palestiniana que grita toda a liberdade às plantas às fontes e aos astros. E como Rosalía, sei que os pássaros falam. Sei que até há um Povo Pássaro que vive no meu poema.
“Povo Pássaro
E lá, atrás do muro, há um povo.
Vive nas árvores,
bebe água da chuva,
respira todo o vento.
Um povo só, ensina o mundo a bater asas.
Ainda não sabe voar,
mas já canta,
exatamente como os pássaros”.
Sou filha deste povo palestiniano que canta exatamente como os pássaros. Este povo palestiniano que ensina o universo a pintar, a escrever, a cantar e a bater asas, repetindo as palavras do seu poeta Mahmoud Darwish (Escritor Galego Universal de 2006): também nós amamos a vida quando podemos. O amor à vida talvez seja a arma mais poderosa que o povo palestiniano tem, e o que mais perturba o seu colonizador. Um amor à vida que também é um poema. Pode, porém, ocorrer-nos a pergunta: há lugar para a poesia durante o genocídio? É precisamente neste momento de selvajaria colonial sem precedentes, em que olhamos o poema como se fosse uma impossibilidade, esse povo, de versos incuráveis, atira um poema aos ouvidos deliberadamente surdos perguntando: ò mundo estás aí? Enquanto o mundo está oco, o povo palestiniano está poema. Todos os dias.
Apercebemos que ao lado da bomba, um mar, sobre os escombros, uma dança, no exilio, um regresso, entre uma morte e uma morte, uma memória cai sem aviso nos nossos entes: ser Palestina também é ser poema. A literatura e poesia palestiniana nascem feitas esperança num espaço que reclama a vida a partir da sua impossibilidade, acontece apesar da sua impossibilidade.
Queria agradecer à Associação de Escritoras e Escritores em Língua Galega e a todas as pessoas e entidades responsáveis pelo Prémio Folhas Novas por esta distinção como Escritora Galega Universal 2025, que, na verdade, sinto como uma homenagem ao povo palestiniano, especialmente aos escritores e escritoras que morreram escrevendo, a última, Fatima Hassouna, ainda este mês. Sou Escritora Galega Universal da Palestina ocupada, mas estou aqui perante vocês para prometer que serei sempre um poema para uma Palestina livre. Palestina livre, Palestina vida, Palestina poema.”