Entrevista a Carlos Quiroga no Portal Galego da Língua:
“Em mais um fevereiro, numa sala hiper lotada de público, no hotel Axis-Vermar da Póvoa de Varzim, espaço que junto com o Teatro Almeida Garrett, constitui o epicentro das reunions e das apresentaçons de livros do encontro anual de escritores de expressom ibérica, as Correntes d’Escritas, Carlos Quiroga conversou com Sabela Fernández e Daniel Amarelo com motivo do lançamento do seu novo livro de ensaio, publicado em Através Editora: Raízes de Pessoa na Galiza. O Pessoa Galego.
– P: O título posto parece sugerir que o tronco da imensa árvore pessoana finca as suas raízes na Galiza… Casualidade? Ou entom, o Fernando Pessoa era galego-português?
– Carlos Quiroga (CQ): Pessoa é e será, quase enjoativamente, do mundo. Quanto às raízes, sim, se entendidas em primeira instância genealógicas, tem sentido chamar de galego-portuguesas, pois na ascendência familiar hai sangue galego. Algo que por outra parte acontece com outros escritores portugueses. O título da publicaçom que isso documenta, como se poderá suspeitar, nom tem nada de casual. O autor teria preferido dar à luz em Portugal, dada a natureza do assunto, e aí para evitar suscetibilidades chauvinistas, inerentes a este tipo de abordagens, o título e a capa seriam mais cautos. Mas acabando por sair antes na Galiza, e sendo essa leitura inevitável, nom tenho pudor e assumir o chauvinismo pareceu-me o coerente. (…)
– P: Além da procura genealógica das raízes familiares do Fernando Pessoa na Galiza, o livro é um valiosíssimo documento sobre a intrahistória dos heterônimos do Fernando Pessoa: o Álvaro de Campos e o Alberto Caeiro…
– CQ: Pois tamém acho. Nom é que todo o relativo a essa parte seja absolutamente novo, mas apontar um Caeiro galego como referente real é novo e ousado –um Caeiro cónego da catedral publicamente bem conhecido, especialmente pelas vésperas e posteriores faustos do ano Santo Compostelano, e até parodiado por outros artistas como Asorey em escultura. Tamém é novo e ousado, ainda que mais relativamente porque já fora insinuado, defender que Pessoa publicou na Galiza um texto da campanha do Orpheu, traduzido por Enrique Dieste. Quanto ao resto, como a galeguidade, tanto de Caeiro como de Álvaro de Campos em origem, os dados estavam à vista, mas atenuados quando nom encostados. Reconstruir as relaçons com Guisado e acompanhar o processo de intermediaçom deste talvez resulta algo cansativo na leitura, mas era necessário para pôr em valor e fundamentar bem essa intrahistória galega. (…)
– P: Raízes de Pessoa na Galiza. O Pessoa galego nom deixa de se entroncar também com o teu anterior ensaio, A imagem de Portugal na Galiza…
– CQ: Certamente. O papel de Guisado e a precoz mençom de Pessoa e do Grupo Orpheu em 1914 em Vida Gallega, antes que se editasse a revista, já aparece nesse livro. Os dados já os tinha, o Pessoa galego nom é mais do que a amplificaçom extrema de detalhes aludidos no livro anterior, polo menos na segunda parte. Aquele era mais divulgativo, breve e condensador de séculos de relacionamento galego-português. Este é umha levitaçom budista à volta de umha fava chamada Fernando Pessoa, e já se sabe que os budistas som capazes de ver paisagens inteiras numha fava…! (…)”
Arquivos da etiqueta: Portal Galego da Língua
“Agália encerra etapa com a publicaçom dos volumes 113 e 114”
Desde o Portal Galego da Língua:
“Os volumes 112 e 113 da Agália som publicados com umha distribuiçom similar, respetivamente com seis e nove artigos fruito de investigaçons realizadas em universidades brasileiras e mais um trabalho de documentaçom procedente da Galiza em cada caso. A correspondência trocada entre Victoriano Garcia Martí e Ramón Otero Pedrayo em relaçom com a publicaçom polo primeiro das Obras Completas de Rosalia de Castro, no volume 112, e a correspondência de Manuel Maria Fernández Teixeiro com os seus editores Emilio e Xosé María Álvarez Blázquez entre 1955 e 1975, no primeiro volume de 2016, constituem os dous trabalhos da nova seçom de «Documentação» iniciada no volume 112.
Por seu lado, o último volume desta série da Agália (o 114) contém oito trabalhos procedentes de universidades brasileiras. Os três primeiros estám referenciados no campo artístico e abordam as relaçons entre arte e mercado, artesania e religiom, e arte e filosofia; os três seguintes procedem do campo dos estudos literários e focam outras tantas figuras centrais do cânone fixo da literatura brasileira; e os dous últimos estám localizados no campo dos estudos linguísticos, quer para estudar a construçom sexual da realidade operada através da linguagem quer para abordar empiricamnte a aquisiçom da norma culta no campo do ensino.
Com o número 114 a Agália conclui umha etapa da revista iniciada em novembro do ano 2010 sob a direçom do professor Roberto Samartim, da Universidade da Corunha (UdC). Umha vez finalizado em 2015 o compromisso assumido pola atual direçom, e tal como acordado na Assembleia Geral da Associaçom Galega da Língua (AGAL) celebrada em abril de 2016, será explorada agora a possibilidade de estabelecer um convénio com a Universidade de Santiago de Compostela (USC) para que esta universidade galega possa vir a acolher no seu sistema de ediçom digital em formato aberto a revista da AGAL. Se isto se efetivar, a Agália dará continuidade ao atual projeto científico e editorial sob a direçom das professoras Felisa R. Prado (da USC) e Cristina M. Tejero (da Universidade de Lisboa), envolvidas na direçom da publicaçom já desde o ano 2012. Se isto nom for possível, a Associaçom que sustenta e edita a Agália desde há mais de trinta anos decidirá oportunamente de que maneira a revista pode continuar a ser útil aos objetivos marcados pola AGAL desde a sua criaçom em 1981. Seja como for, até o novo sistema ficar operativo a Agália mantém fechada a receçom de contributos. (…)”
Teresa Moure: “Um elefante no armário é um romance sobre a verdade”
Entrevista de Teresa Crisanta Vasques Pilhado a Teresa Moure no Portal Galego da Língua:
“(…) – Portal Galego da Língua (PGL): Na apresentação pública do teu romance [Um elefante no armário] na Culturgal fizeste menção ao reto que para ti supus alcançar uma escrita menos barroquizante. Poderias precisar o alcance e objetivos desse propósito e ainda, trata-se dum desafio estritamente retórico ou tem dimensões compositivas, estruturais, etc.?
– Teresa Moure (TM): Um elefante no armário é um romance sobre a verdade. Ao fundo, as teorias deflacionistas que pretendem diminuir o peso desse conceito na ciência ou no pensamento, também na política. Porém, a protagonista, que é uma filósofa especializada nesse assunto, e que abandonou anos atrás toda atividade académica, deve regressar lá, à indagação, mas em contextos quotidianos, nas relações pessoais, na interpretação da própria vida. Essa temática obrigou-me a usar, especialmente nas partes narradas por Ana Brouwer, um estilo mais conciso, quase poético. O procedimento tem a ver com a procura da autenticidade porque a verdade é isso: revelar o que está oculto, com a intencionalidade única de o conhecer. Trata-se apenas duma questão de estilo. Na estrutura, o romance é complexo: tem seis partes que incluem seis pontos de vista e nenhuma das vozes narradoras está em possessão da Verdade com maiúsculas; quem ler deverá decidir qual é a versão dos factos correta. É mesmo um desafio.
– PGL: Do meu ponto de vista, acho que em Um elefante no armário podemos encontrar vários elementos de ficção muito semelhantes com sucessos que de facto são reais. Por outro lado, podemos ler no romance que a verosimilitude é uma qualidade que não predicamos da realidade, mas sim temos uma certa tendência a exigi-la na literatura. Podes ser que estejas a ficcionalizar elementos da realidade para ver até que ponto uma e outra –é dizer, ficção e realidade– se podem distinguir?
– TM: Sempre que publico um romance, observo que @s leitor@s pretendem encontrar lá elementos autobiográficos ou episódios realmente acontecidos. Porém, literatura é literatura. Histórias são histórias. Provavelmente escritores nadamos num caldo cultural que implica nem só conceitos, também episódios, mas nem agora nem nunca pretendi ficcionar nada real. Porém, respondendo a tua pergunta num sentido mais geral, a literatura é esse espaço onde o imaginado e o real se confundem. E, com efeito, a vida surpreende-nos com histórias muito mais esquisitas do que aquelas que aparecem nos romances. Como diria Maurício Almeida, um dos protagonistas de Um elefante no armário, Deus, como escritor, não passa do nível de amador. (…)
– PGL: A propósito da tua tradução dos poemas da Ana Brouwer em Chan da pólvora (Não tenho culpa de viver), como é que concebes a autoria?
– TM: Em Um elefante no armário incluem-se fragmentos dum livro de filosofia que Ana Brouwer escreve. Apanhei alguns desses fragmentos (demasiado toscos talvez para serem verdadeira poesia, demasiado poéticos para serem verdadeira filosofia), num poemário ainda inédito que intitulei O dia em que comprei mentiras por catálogo. Antón Lopo, da chancela Chan da pólvora, soube da sua existência e propus publicar oito deles, numa escolha pessoal de editor, nesse livrinho Não tenho culpa de viver. Isso permite que saiam ao mesmo tempo a minha obra e a obra de Ana Brouwer. É um jogo sobre autorias que se explica só. A criação nunca vem do nada nem é estritamente individual. Fazemos parte sempre dessa coral de textos que nos constroem como indivíduos e que constroem a cultura como artefacto coletivo que nos representa e que nos modela. (…)”
Entrevista a Manuel Portas no Portal Galego da Língua
Desde o Portal Galego da Língua:
“(…) – Portal Galego da Língua (PGL): Como achas que mudou na Galiza a situação sociolinguística, ou não, desde a publicação do teu livro Língua e sociedade na Galiza em 1990?
– Manuel Portas (MP): É difícil condensar em poucas palavras… Não há razões para sermos otimistas, pois o fenómeno mais importante para o futuro, o processo de assimilação linguística que padecemos, continua avançando na transmissão intergeracional. A potência com que os novos sistemas de comunicação social e as TICs estendem línguas como o inglês e o espanhol, os retrocessos experimentados pelo galego no ensino, a inanição com que é castigado o mundo da cultura, quando mais necessário era o apoio institucional, estão a potenciar essa tendência populacional à deserção linguística. Contudo, não podemos esquecer que o coletivo social que usa a língua com consciência continua a crescer, que os novos quadros de comunicação social são, além de um perigo, também uma oportunidade se os soubermos aproveitar. Cumpre mais que nunca renovarmos discursos e um grande pacto pela língua, quanto menos entre os que a defendemos, na procura desses mínimos comuns, quiçá executando com decisão e mais meios o Plano Geral aprovado também por unanimidade no Parlamento.
– PGL: Como era vista e percebida a língua portuguesa naquela altura e como pensas que o é na atualidade?
– MP: O português era –e continua a ser em grande medida- uma realidade desconhecida para uma parte importante da nossa sociedade. Do mesmo jeito que acontece em Portugal (para além da raia está a Espanha, e na Espanha fala-se espanhol), aqui, na Galiza, os tópicos simplistas e os preconceitos sobre o português alentavam um discurso similar de afastamento. Nestes últimos anos, e mercê à pressão do galeguismo linguístico tem-se avançado muito no reconhecimento da potencialidade que tem para nós. A guerra normativa não contribuiu para que fossem vistos com objetividade os benefícios que para a Galiza representa o português, independentemente da orientação normativa dos setores confrontados. É preciso acabarmos com os preconceitos e procurarmos salientar as indubitáveis vantagens que nos fornece o domínio do português, seja este concebido como variante do sistema linguístico comum ou como língua independente da nossa. (…)”
Teresa Moure: “O futuro convida a centrar os nossos esforços na tarefa de dar cabo do Apartheid ortográfico, de procurarmos um público sem prejuízos, de ganharmos espaços”
Entrevista a Teresa Moure no Portal Galego da Língua:
“(…) – Portal Galego da Língua (PGL): Vens de dar começo a um blogue pessoal de crítica literária, A tecer aranheiras. Ti própria diz fazê-lo “quando blogues já não estão na moda, quando ninguém tem tempo para ler”, fazendo um apelo à resistência. De que jeito pode a crítica, hoje, edificar uma resistência?
– Teresa Moure (TM): A cada dia que passa mais sou persuadida pela ideia de que fica pouco tempo para um certo tipo de literatura. O pessoal devora textos on-line, mas acha não ter um momento propício para outros formatos mais clássicos. Nesse sentido, é possível que a palavra resistência se module mais uma vez entre nós. O meu objetivo consiste, portanto, em tecer uma rede de cumplicidade entre criador@s que ainda tentamos construir mundos ou enviar mensagens para o público, embora tantas dificuldades. A tecer aranheiras concentra-se especialmente em livros invisíveis pelo seu género (poesia, ensaio), ou pela temática e o estilo; livros pouco divulgados nos meios convencionais ou declaradamente proscritos do núcleo oficial da cultura. Tem muito de subversão, de denúncia dos circuitos diminutos da crítica neste país, e também muito de brincadeira pessoal.
– PGL: Do mesmo ponto da crítica (que é sempre, mesmo em sentido inverso, também o da instituição), qual achas que é o estado das letras reintegracionistas? Quais os seus caminhos mais fecundos em clave de futuro?
– TM: Toda a literatura galega é um produto contrapoder por definição. Assim nasceu, como uma reivindicação nacional, e dalguma maneira esse é seu perfil caraterístico, visto que continua a ser vetada na maioria das montras das livrarias. Num tal contexto, a literatura galega reintegracionista constituiu mesmo as margens das margens. Porém, nos últimos tempos, timidamente, e devido a circunstâncias externas a seus criadores, parece visualizar-se um bocado. Como tais produtos literários, as criações em normativa reintegracionista têm a garantia duma vontade de língua, que é um motor importante nesta arte. O futuro convida a centrar os nossos esforços na tarefa de dar cabo do Apartheid ortográfico, de procurarmos um público sem prejuízos, de ganharmos espaços. A qualidade e as vontades de tantas criadoras e criadores não podem ser inúteis. (…)
– PGL: Bolcheviques (1917-2017), livro coordenado por ti e editado por Através e Xerais, vem de ser escolhido como um dos melhores ensaios do ano pelos leitores de Fervenzas Literarias. Agora que têm passado já umas semanas desde a sua aparição, e que começaste a fazer lançamentos da obra, como avalias a experiência?
– TM: Os volumes de Bolcheviques, um único livro com duas editoras, constituem uma experiência sem precedentes na nossa história editorial e bastante esquisita em qualquer lugar. As grandes editoras dum país pequeno e culturalmente ocupado por outra língua decidem uma política sem fendas: só publicam numa normativa isolacionista, rejeitando as possibilidades económicas e a difusão internacional que teria a ortografia histórica. Em consequência, no lado escuro, xorde uma alternativa editorial para dar voz à dissidência, por assim dizer. Perante uma tal situação, quando alguém quer organizar um volume de autoria coletiva sobre determinado tema, vai bater com que os autores e autoras especialistas de facto escrevem em normativas diferentes. Uma resposta possível, que também não é assim tão imaginativa, consiste em propor que cada autor(a) utilize a normativa da sua preferência e que o livro seja editado por duas editoras, que podem manter, desta maneira, as suas políticas ortográficas. Utilizei no prólogo a metáfora do rei Salomão com certa ironia. Desta vez, o Salomão decidiu partir a criança, a metade para cada mãe. Pretendíamos visualizar assim que, quando existir vontade, é possível procurar a via. A minha esperança é que no futuro imediato apareçam mais projetos onde a convivência das normativas dê nas vistas, experimentando com novas fórmulas. Porque nós, reintegracionistas, queremos lá estar, na cultura galega; não fazer parte dum grupo de exílio forçado.
Num sentido diferente, acho muito engraçado que seja eu (nem militante dum partido comunista, nem historiadora) a coordenadora. Ter escrito um romance sobre Inessa Armand e Lenine deu-me hipótese de partilhar opiniões políticas e históricas com boa parte da esquerda deste país. No ano passado fui convidada a participar num Comité para a celebração do centenário da revolução russa e lá propus que o meu contributo poderia consistir em publicar um livro. Eis o livro. (…)”
Eli Rios: “Porque a palavra é o meu lugar no mundo”
Entrevista de Maria José Castelo Lestom a Eli Ríos no Portal Galego da Língua:
“(…) – Portal Galego da Língua (PGL): Como entendes a literatura em geral e a poesia em particular? Para que achas que podem valer nesta época convulsa e constrita em tudo quanto faz referência a direitos e liberdades?
– Eli Rios (ER): A poesia é inútil. Não serve para comer e também não para possuir milhões que alimentem caixas ou bancos. A poesia só é útil para sentir-se humana, para encontrar a nossa parte mais afetiva e lutar contra o esquecimento (de nós mesmas/da história). No tempo em que o corpo é o meio para os ganhos e os trabalhos, a poesia pergunta qual é a matéria bruta dessa corporeidade e de que estão feitos os seus sonhos e desejos. A poesia só é uma ética que acompanha no caminho. Uma forma de ver e apreender o quotidiano. (…)
– PGL: Na obra Marta e a píntega experimentas com a rutura dos corsés de género que a literatura infantil foi criando também como o cinema e o resto da produção cultural destinada a consumo infantil, qual foi a necessidade que viste para introduzires o feminismo?
– ER: Porque sou mulher, porque também quero identificar-me com uma protagonista, porque a voz de mulher tem o mesmo espaço que a do homem(algum dia), porque nom acredito em que uma menina seja um objeto, porque nom acredito que uma menina seja só uma roupa, porque nom acredito em que uma menina seja menos capacitada que um menino para imaginar aventuras. Porque é e será necessário para terminar com o inferno no que crescem e moram as mulheres.
– PGL: Não apenas aqui, mas em toda a tua obra temos uma fonda impronta do feminismo, da necessidade da deconstrução social do género, dos preconceitos, dos tabus que nos trouxeram onde hoje estamos. Como achas que a literatura pode nos ajudar a sairmos desta encruzilhada?
– ER: Criando referentes nos que possamos deitar a nossa olhada, levantando as figuras das mulheres ignoradas na História não só reclamamos um espaço mas também a possibilidade de que as meninas tenham ícones científicos, literários, etc, e nem só de beleza patriarcal ou de costumes ancestrais. (…)”
Carlos Taibo: “A derrota é esteticamente muito mais bela do que a vitória”
Entrevista a Carlos Taibo no Portal Galego da Língua:
“(…) – Portal Galego da Língua (PGL): O futebol não é questão de vida ou morte: é muito mais importante do que isso. Como diz o Bill Shankly. Como foi Carlos Taibo marcado por O penálti de Djukic?
– Carlos Taibo (CT): Foi um trauma rapidamente superado. A derrota é esteticamente muito mais bela do que a vitória. Os campeonatos para os outros… Nós não estamos interessados.
– PGL: No livro colocas os dous “protagonistas” na subalternidade duma escolha totalmente alheia ao sentir do sitio onde vivem. Crê que existe uma posição auto-afirmativa na escolha?
– CT: Não. O seu é mais bem um diálogo socrático. Além disso, o prologuista explica que suprimiu das mensagens dos correios as partes que não faziam referência expressa ao Desportivo. O seguinte volume resgatará a vida sexual dos protagonistas. Será muito breve.
– PGL: A personagem do professor lisboeta adepto do Desportivo é muito ficcional ou poderia existir, ou talvez até exista?
– CT: Depois de ter lido «Gargantua e Pantagruel» e «Anna Karénina», todas as personagens literárias são para mim obscenamente realistas. O professor existe, naturalmente. É um dos quatro milhões de desportivistas. (…)”
Igor Lugris: “Para que vale hoje a poesia? Vale, como o resto das artes, para interpretar o mundo”
Entrevista a Igor Lugris no Portal Galego da Língua:
“(…) – Portal Galego da Língua (PGL): Toda a tua obra tem um sentido de intervenção mas também é marcadamente metaliterária. É um conjunto que se retro-alimenta: es um poeta crítico e um crítico poético… que valor tem para ti a poesia?
– Igor Lugris (IL): Neste sentido, sigo considerando válida a resposta que em 2001 dava à pergunta que me formulava um jornalista com motivo da apresentação de Mongólia:
Para que vale hoje a poesia? Vale, como o resto das artes, para interpretar o mundo. Para a sua transformação há outras possibilidades. A literatura deve valer para explicar as coisas que, num mundo capitalista, não são o que parecem, e parecem ser o que não são.
Disso é do que continuo a falar. Intentando explicar, intentando compreender, o mundo: este mundo no que vivemos, e que, estou convencido, deve ser transformado.
– PGL: O Curso de Linguística Geral. Que sentido tem o livro, como foi a recepção, da gente, da crítica?
– IL: O livro saiu publicado em Fevereiro deste ano, e o acaso fez que coincidisse com o 100 aniversário da publicação do Curso de Linguística Geral de Ferdinand de Saussure, que como todo o mundo sabe é um livro que ele não escreveu, mas que foi escrito polos seus alunos e publicado com o seu nome a partir dos apontamentos das suas aulas.
Estou satisfeito da acolhida que tivo o livro e da sua repercussão. Surpreendem-me positivamente algumas das críticas ou comentários recebidos polas pessoas que o foram lendo durante todo este tempo, e ainda há um par de semanas num curso sobre a literatura galega do século XXI foi citado por uma das ponentes indicando que o empregaria nas suas aulas de secundaria para introduzir alguns temas de linguística, concretamente o achegamento à fonologia.
Durante o mes de Novembro, estão previstos diversos atos de lançamento e promoção do livro por curso-dediversas pontos do país (Trasancos, A Corunha, Ourense,…) que se sumarão aos já realizados (em Compostela, Lugo, Ponferrada,…) (…)”
Ponteareas: I Encontro Cultores e Cantares da Língua Galega e Portuguesa
Desde o Portal Galego da Língua:
O Encontro Cultores e Cantares da Língua Galega e Portuguesa está organizado polo Instituto Galego de Estudos Internacionais e da Paz, cos seguintes actos destacados:
Sexta-feira, 3 Local Salón Nobre do Concello.
– 19:30 h. IGESIP – “Uma visão Lusófona e Internacional dentro da Paz”. Orador: Artur Alonso (Presidente IGESIP – Instituto Galego de Estudos Internacionais e da Paz). Leitura do Texto: “ Da alethopoiésis de Rosalía de Castro”, da Dra. Lúcia Helena Alves de Sá – Presidenta da Casa Agostinho da Silva (Brasilia – Brasil).
– 20:00 h. Concerto musical de Isabel Rei.
– 20:30 h. Presentación de A imagem de Portugal na Galiza, de Carlos Quiroga, publicado por Através.
– 21:15 h. Recitado Poético – Círculo aberto. Local Café Onde Sempre. Participan, entre outras e outros, as poetas: Isabel Blanco, Rosanegra, Cruz Martinez, Manuel Blanco Rivas, Alexandre Insua, Artur Alonso. Guitarra: Andrés Fernández Rodríguez.
Sábado 4 Junho. Salón Nobre do Concello.
– 18:30 h. Guerra da Cal – Primeira Ponte Literária. Palestra de Joel R. Gômez: “Ernesto Guerra Da Cal, de refugiado político em Nova Iorque a internacionalizador das culturas galega e portuguesa”.
– 19:00 h. Rosalia de Castro – mulher universal dentro da literatura galego-portuguesa. Palestra da poeta Iolanda Aldrei: “O bem comum em Rosalia de Castro.”
– 19:30 h. Conversa Literaria, coas escritoras Concha Rousia e Iolanda Aldrei.
– 21:30 h. Concerto. Local Auditorio Reveriano Soutullo. Grupo de Fados Os Teimosos.
Carlos Quiroga: “Portugal foi um signo potente no imaginário galeguista, talvez fundamento até da própria natureza dele. Mas temo que hoje, se ocupa algum lugar –no que seja possível chamar de galeguismo atual– é apenas retórico ou residual, zero”
Entrevista a Carlos Quiroga no Portal Galego da Língua, sobre A imagem de Portugal na Galiza:
“(…) – Portal Galego da Língua (PGL): Contudo, é inegável que, polo menos para certa parte da população, Portugal tem significado um fetiche de cultura e custódio da língua. Poderíamos falar de termos pecado de certo sebastianismo?
– Carlos Quiroga (CQ): Certo. Os ‘Iagos’ da peça, a outra ponta da polaridade, é a minoria que gosta de «portuguesadas» e para quem Portugal tem sido uma espécie de Paraíso perdido. Parte da consciência da Galiza, pequena, teima em reverter as consequências de circunstâncias históricas concretas que a separaram de Portugal. Uma minoria que tem achado nessa ligação um ponto de apoio fundamental para construirmos a nossa identidade. E aí ativa-se realmente e de novo, mas à inversa, a mesma chave: Portugal recorda para essa minoria a ancestralidade das marcas em que está interessada, e talvez tenha esperado de Portugal cumplicidade, entendimento, olhar redentor. Mas obviamente o estado lusitano está noutra, esquecediço de um passado histórico e ciente dos seus problemas atuais –que qualquer iniciativa de proximidade da sua parte à Galiza, fora do quadro euro-regional, só poderia incrementar! (…)
– PGL: Dadas estas relações, que lugar ocupa hoje Portugal no imaginário galeguista?
– CQ: Portugal foi um signo potente no imaginário galeguista, talvez fundamento até da própria natureza dele. Mas temo que hoje, se ocupa algum lugar –no que seja possível chamar de galeguismo atual– é apenas retórico ou residual, zero.
– PGL: Neste sentido, o galeguismo histórico, antes do regime franquista, tinha com Portugal as mesmas relações que apresenta agora?
– CQ: Um século atrás, como já apontaram bastantes trabalhos sobre o assunto e se resume na epígrafe “Portugal redentor na lusofilia de princípios de século”, o galeguismo incipiente entusiasmou-se com Portugal. É o tempo das «Irmandades da fala» (1916), de Nós (1920), do «Seminário de Estudos Galegos» (1923), é a altura de Risco, Viqueira, Vilar Ponte, Pedrayo. O movimento procede de finais do século XIX e podem-se discutir intensidades, mas todos os estudos coincidem em que nunca como neste momento se tinha feito um esforço deste tamanho. As duas primeiras gerações de intelectuais galegos do século XX voltam os olhos para Portugal encarado em prolongamento fraterno. Nesta altura histórica existe ademais reciprocidade, por coincidir e sintonizar com a geração portuguesa organizada à volta da A Águia, que acaba por gerar o movimento Renascença Portuguesa de grande amplitude. A correspondência intensa entre Teixeira de Pascoaes e Risco, as visitas, o saudosismo, representam não só afinidades individuais, pois a proliferação de declarações públicas a favor da aproximação e conhecimento das duas culturas, a organização de eventos conjuntos, as homenagens cruzadas a personalidades galegas e portuguesas, os atos de confraternização, o estabelecimento de intercâmbios e acolhimento de intelectuais como membros de número em instituições de um e outro lado, ilustram o início de uma aventura de entendimento coletivo inédito entre os dois povos. Jornais e revistas portuguesas recebem colaboração galega e o mesmo acontece nas publicações deste lado. Enfim, uma época seguramente irrepetível. (…)”