Artigo de Susana Sánchez Arins na Plataforma de Crítica Literaria A Sega:
“Abro as lapelas de Oroonoko e leio os biodados de Aphra Behn. Uma vida muito chamativa, lá no século XVII. Leio a contracapa e merco imediatamente o livro, já que no ressumo aparece-se como uma mui interessante denúncia do sistema escravagista.
Leio. E não gosto. Leio. E reflexiono. Muito.
Oroonoko narra a história de um príncipe de Coramantien, na costa da atual Ghana, que partilha apaixonamento com o rei do lugar. Este, para ficar com a mulher, atraiçoa ao moço e vende-o como escravo. A ela também. Oroonoko é trasladado ao Surinam, onde o conhece a narradora, inglesa que viajou com o pãe, representante do governo británico. Ela é que conta os factos. No início da estadia na fazenda, Oroonoko reconhece a sua amada numa escrava admirada pola sua beleza e recatamento. Casam e aguardam ser libertados dada a sua origem nobre, como muitas pessoas, entre elas a narradora, lhe prometem. Vendo que a libertação tarda e Imoinda está prenhe, Oronooko argalha uma fuga, que fracassa, é salvagem e exemplarmente torturado polo capataz do seu amo; desiludido, sem esperança de futuro, decide fugir novamente para suicidar-se após assassinar a sua parelha.
Recomendaria este romance? A autora é mulher, a primeira escritora inglesa profissional, uma precursora. Fez teatro, poesia, novelas e traduções. Foi uma grande defensora da igualdade de direitos das mulheres.
Porém avanço na leitura e não consigo aderir. (…)”
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Ao aghinaldo imos ao ghinaldo andamos, por Susana Sánchez Arins
Artigo de Susana Sánchez Arins na Plataforma de crítica literaria A Sega:
“(…) Foi uma enorme surpresa quando, uma tarde de novembro ou dezembro, não lembro, Pablo veu buscar-nos à casa. Combinara no teleclu com Virucha e Carmem da Quenlha. O teleclu do Fojo era uma casinha com paredes de papel que naqueles tempos malarranjaramos para ter como local próprio e juvenil. Ensaiavam vários grupos musicais e a estética do espaço era do tipo casa okupada: móveis resgatados dos faiados e das palheiras, asseio básico, cartões de ovos nas paredes e cheiro a tabaco. Para as línguas marmuradoras, espaço de vício e perdição. Por isso, que Virucha e Carmem foram ao teleclu era uma surpresa. E mais surpresa foi saber a razão: iam aprender-nos uns cantos de reis.
Se no Fojo ninguém sabia cantar… (…)
A gravação foi divertida (ainda existe o CD que o corrobora) porém o melhor foi a festa. Porque o 5 de janeiro de 2001 lá nos juntamos todas para cantarmos os reis polas casas do Fojo e polas da volta. Começamos na de Virucha, que não dava creto ao que escuitava e via: gente moça celebrando os reis passados mais de 50 anos. Não se animou a acompanhar-nos, mas sim Carmem, que foi a segunda a quem lhe pedimos o aguinaldo, castanhas, chouriços, fabas e torresmos. E assim como para nós foram inesperadas cantadoras Carmem e Virucha, nas casas do lugar foi grande a surpresa do chamado noturno. Nalguma acirraram os cães pensando-nos ladras (também o faziam quando corriamos o entroido). Em muitas abriam as portas amedonhadas para depois convidar a passar, e lamentavam não saber da visita para ter preparado um biscoito, uma rosca, o aguinaldo. Porque em todas as cozinhas, de súbito, emergia a memória daquelas noites de reices arrombadas em faiados e palheiras, como os móveis do teleclu, para serem substituidas por programação televisiva especial.
Para nós cantaram Carmem e Virucha, mais antes o figeram, em fevereiro de 1981, para Dorothé Schubarth, Cecilia, de 71 anos e outra Carme, de 67. Eram do lugar de Fontenlo, em Codeseda, e cantarom o Caminito, tal qual o aprendemos nós. Também o cantou em Calhobre e fragmentado, Mercedes, que em 1979 tinha 79 anos, é dizer, era vinte anos mais nova que Carmem da Quenlha. E no Cancioneiro de Dorothé aprendo que o nosso Caminito não é outra cousa que um canto sobre um dos temas do ciclo natalício, a fugida a Egito da Virgem, José e o Meninho, e dentro deste, o encontro com o cego. A que nós chamavamos Los pajarillos é uma versão, que não encontro literal no Cancioneiro, do nascimento de Jesus. Parece-me diferente das que recolheu Dorothé porque variam as assonâncias. (…)”
Caderno do I Día das Galegas nas Letras
Desde a plataforma de crítica literaria A Sega:
“O pasado 15 de agosto celebramos no Areal de Berres, na Estrada, o I Día das Galegas nas Letras para render homenaxe a Dorothé Shubarth, compiladora do Cancioneiro Popular Galego. Foi unha romaría na que nos xuntamos, falamos e cantamos para saudar a dignidade da literatura de tradición oral e o labor silenciado de todas as cantadoras que lograron manter vivo até hoxe o acervo musical que nos alimenta.
No marco desta celebración editamos un caderno con colaboracións de diferentes autoras: Andrea Nunes Brións, Mercedes Peón, Olga Kirk, Isabel Rei Sanmartim, Olga Nogueira, Susana Sánchez Arins, Chévere e Ugia Pedreira.
Compartímolo aquí para que poida ser lido e descargado.”
Compostela: Levantémonos! Verbas feministas. Recital poético
O xoves 12 de xuño, ás 20:30 horas, na Zona C (Rúa San Domingos de Bonaval, 1) de Santiago de Compostela, terá lugar o recital poético Levantémonos! Verbas feministas, no marco da exposición Levons-Nous! O himno das mulleres. As poetas convidadas son Xiana Arias, Marta Dacosta, Rosa Enríquez, Lucía Novas e Susana Sánchez Arins.
Susana Sánchez Arins: “Estou a fazer o meu pequeno contributo para despirolizar a AGAL”
Entrevista a Susana Sánchez Arins no Portal Galego da Língua:
“(…) – Portal Galego da Língua (PGL): Várias escritoras impulsastes um espaço de crítica na rede, A Sega, onde conviveis autoras que tendes diversos pontos de vista sobre língua. Que tal está ser a experiência?
– Susana Sánchez Arins (SSA): A experiência d’A Sega é para mim definível com duas palavras: aprendizagem e alegria. Somos críticas literárias que partimos de dous pontos em comum: a galeguidade e o feminismo. E mesmo nessas partilhas somos mui diferentes, como bem indicas, ainda que eu não considero que tenhamos diversos posicionamentos linguísticos mas diferentes estratégias normalizadoras.
O grupo, que funciona de maneira virtual, em vez de viver essa diversidade como uma problemática, vive-o como riqueza. Aprendemos muitíssimo umas das outras. E passamo-lo mui bem. Quando abro a conta do gmail, fago-o com um sorriso e pensando a ver se alguma segadora escreveu algo… Assim é um gosto! Temos experiências, vitais, formativas, profissionais, mui diversas e cada vez que temos que fazer alguma cousa entre todas, de maneira colaborativa, nascem matizes, facetas e brilhos que nenguma das nossas individualidades poderia aportar sozinha. Num espaço assim, a diversidade linguística também não é vivida como problema. Levamos um ano de funcionamento e eu só sei que me sinto mais sábia e melhor acompanhada que antes. (…)
– PGL: És uma mulher de interior, mas conheces excecionalmente bem a cultura marinheira. Considerando a tua experiência, tens a impressão de que existem duas Galizas, uma, ou muitas?
– SSA: Que conheço mui bem a cultura marinheira duvido… Admito que sou curiosa e gosto de fazer parte dos lugares onde vivo. E habitar uns anos a Arousa deu-me possibilidade de aprender muito das minhas vizinhas. Descobrim uma parte da minha língua e da minha cultura que me eram desconhecidas, mas em que pudem entrar sem problema porque contava com as chaves que me dava a minha rural galeguidade. Uma das minhas amizades carcamãs vem de fazer a viagem inversa e também não encontrou problemas. Obtém a mesma felicidade entre as abelhas da Terra de Montes que entre as bateias do Salnês. Por isto não acredito que haja duas Galizas, penso que há quase tantas como paróquias. E isso é uma maravilha. Temos uma cultura enormíssima e dá gosto pensar que sempre, algures, resta algo por aprendermos de nós mesmas. (…)”
A lúa da colleita. Críticas de Susana Sánchez Arins e Marga do Val
Desde A Sega:
“Susana Sánchez Arins: Anxos Sumai convida-nos, segundo a informação da contracapa, a acompanhar as férias da protagonista do seu romance A lúa da colleita. Aquelas que iam ser umas simples semanas de descanso, anuncia, acabarão sendo algo mais. A protagonista, Nuria, questionará-se tudo quando a rodeia, até o ponto de duvidar que é realidade que é ficção.
Justo aí encontrei eu o problema.
Renxe-me a personagem de Nuria. Não acaba de entrar-me. Não acabo de acreditar na sua existência. E já sei que é ficção, mas a essência do jogo está em eu acreditar pessoas as personagens, vidas as tramas, lugares os decorados. E Nuria renxe-me. (…)
E Anxos Sumai remexeu tudo isso em mim e logrou fazer-me ver que não sempre é possível perceber onde a necessidade do re-encontro com nós mesmas. Que não sempre é possível aceder à espoleta que faz rebentar mudanças. Que não sempre é possível atender com plena consciência às búsquedas persoais. Que não sempre é possível deixar migalhinhas de pão para que outras, nós mesmas, as sigamos. (…)
Marga do Val: Anxos Sumai é unha autora que me interesa moito, non só polo magnífico uso da lingua, polo ensarillamento da lírica na súa prosa, por suposto ledicias para a lectura, interésame por esa arquitectura que vai construíndo con imaxes, polos espazos labirínticos que nos obriga a transitar cando a lemos, ese mundo onírico, atmosfera de marabilla e de aversión. Interésame sobre todo a soidade que habita nas personaxes que (con)moven os seus textos, unha soidade que nos convida a estar con Anxos de Garda que resiste no arquivo da Melodía de días usados, que en Así nacen as baleas faísca como voaxa e ocupa todos os recunchos, porque o nacer das baleas convértese na morte de Ramón e asolaga o relato, esa terríbel inocencia que (se) destrúe, que anega e/ou expulsa, que obriga ou convida ao camiño, un camiño imposíbel de compartir. Unha vertixe. Mais nas súas obras non se pode pensar en que é o azar o que provoca esa señardade, en que é unha condena externa, falamos dunha busca das personaxes, na soidade de quen vai limpando carreiros con conciencia, de quen se mergulla para buscarse, unha soidade que dialoga coa daquel rianxeiro que foi Manuel Antonio e que falou co seu doppelgänger naquel poema “Ao afogado” (…)”.
“Maternosofía: suficiência racional vs. instinto maternal”, por Susana Sánchez Arins
Desde A Sega:
“A maternidade, vista do ponto das mães, é uma dessas grandes ausentes no repertório literário galego, cousa lógica, se atendemos á (minguada) presença feminina nesse repertório. Por isso agradecem-se textos que abordem essa temática, e de entrada merecem ser celebrados. Até que os lemos.
Haverá quem diga que é por não sermos mães nem termos intenção de o ser. Mas não. É por aguardarmos deles sensações que não nos são transmitidas, questionamentos que não encontramos, análises não realizadas, tabus que não são tocados e mesmo literaturizações que não achamos. E a decepção acompanha a leitura enquanto esta avança.
Beatriz Gimeno perguntava-se há pouco se a maternidade mudou para seguir a ser o mesmo discurso prescritivo obrigando-nos a ser mães, embora mães modernérrimas.
E esta lampedusiana sensação é que me estremeceu durante a leitura de Maternosofía.
A base da decepção está na leviandade: a autora para em conflitos superficiais que mantenhem ocultos os substanciais, os que afectam à configuração da identidade das mulheres e ao mantemento da ordem social no seu conjunto. E isto contado desde o feminismo práctico (pág. 34).
Inma López Silva constrói o seu discurso em base á dicotomia que preside este artigo: a sua racionalidade perante ao cacarejado instinto maternal com o que somos educadas e coagidas as mulheres desde tempos imemoriais. E é marcada a obsessão em não deixar que a gravidez anule ou embote esse seu espírito lógico. Não animal. Não mulheril. Esta oposição recorre todo o texto: E malia non sentir esa emoción inexplicábel da que falan as sentimentais, e ser capaz dun xeito perfectamente racional de describir o que sinto… (pág. 75).
Mas, insistimos, esse conflito não deixa de ser banal, evidenciando no avanço do discurso a asunção como naturais de toda uma série de atitudes e comportamentos, nunca questionadas, e que em realidade, apontalam e fortalecem a discriminação estrutural das mulheres. (…)”
Compostela: presentación de Maria, de Eli Ríos
A sexta feira 4 de abril, ás 20:30 horas, na Libraría Lila de Lilith (Rúa Travesa, 7) de Santiago de Compostela, preséntase Maria, de Eli Ríos, publicado por O Figurante. No acto, xunto á autora, participan Carlos Quiroga e Susana Arins.
Compostela: presentación de Politicamente incorreta, de Teresa Moure, na Festa de Através
O sábado 29 de marzo, entre as 17:00 e as 20:00 horas, no Centro A Gentalha do Pichel (Rúa Santa Clara, 21), de Santiago de Compostela, terá lugar a Festa da Através Editora, coa presenza de autoras e autores dos libros publicados, concursos, música e a presentación do novo libro de Teresa Moure, Politicamente incorreta, ás 18:30 horas. Previamente, ás 17:50 horas, terá lugar un recital poético de Susana Sánchez Arins e Eugénio Outeiro.
Cozer, cortar, empacar, azeitar, por Susana Sánchez Arins
Artigo de Susana Sánchez Arins, desde A Sega:
” Uqui Permui gravou um documentário de título Doli, doli, doli… coas conserveiras. Rexistro de Traballo em 2010. Nele conta a luita das trabalhadoras de Odosa, conserveira da Arousa, que em 1989 se pugeram em greve de fame por denunciar o desmantelamento da sua fábrica. Visionando o filme descubrim que conhecia parte das protagonistas: a que não tinha crianças na minha escola, vinha comigo a aulas pandeireta, navegava comigo em dorna ou preparava a ementa do dia que eu jantava as terças; porém eu desconhecia a existência de Odosa, e claro é, do seu conflito laboral. O silenciamento das luitas é a principal arma dos opressores, está visto. Lembro ter-lhe pedido àquelas com as que tinha confiança que nos contaram dos tempos de Odosa e rememorárom estórias de escravitude, sofrimento, abuso mas também de amizades, risos e dignidades.
A Loli, Benita, Mari ou Juana volvim vê-las o outro dia sobre um cenário. Os seus nomes não eram esses, mas podiam ser. Porque as atrizes d’As do Peixe [obra teatral de Cándido Pazó] lográrom reviver em mim, em nós, memórias próprias e alheias.
Quatro mulheres, Conchi, Begonha, Lisa e Tere, juntam-se para ensaiar uma obra teatral; na sessão revisam o texto e preparam cenas importantes. Discutem os diálogos, modificando aquilo que “não era assim”, interpretam diferentes personagens, incluídas elas mesmas quando moças e reflexionam sobre o trabalho na conserva. (…)”