A Coruña: recital de Baldo Ramos e Maram al-Masri no Ciclo Poetas Di(n)versos

A segunda feira 16 de decembro, ás 20:30 horas, no Auditorio do Centro Ágora (Rúa Ágora, s/n) da Coruña, terá lugar unha nova edición do Ciclo Poetas Di(n)versos, coordinado por Yolanda Castaño e promovido polo Concello da Coruña, cun recital de obra propia nun man a man de Baldo Ramos e a poeta siria Maram Al-Masri. Máis información aquí: Folleto Poetas Di(n)versos decembro 2019.

Tiago Alves Costa: “Espero que este livro seja acima de tudo uma proposta de revolução”

Entrevista de Daniel Amarelo a Tiago Alves Costa no Portal Galego da Língua:
“(…) – Portal Galego da Língua (PGL): Ao longo de todo o livro [Žižek vai ao ginásio] parece que a forma ganha a batalha contra o conteúdo. Lemos e importamo-nos mais com como se sente e como se passam as cousas do que com o que se sente e o que se passa. Achas que nestes tempos de desmaterialização – do trabalho, dos relacionamentos, até do corpo – a poesia vai sair prejudicada ou fortalecida? Qual o papel da poesia na nossa contemporaneidade?
– Tiago Alves Costa (TAC): A poesia será sempre um meio de revigorar uma época, seja ela qual for. Neste momento e mais que nunca a poesia é uma urgência. Sob o limiar da falência das palavras, neste espetáculo diário de humilhação, expostos aos olhares dos outros à procura da melhor pose, a poesia é uma linha de fuga contra o delírio dos nossos dias. Ainda sem distinguir se somos personagens ou pessoas – nós somos os protagonistas, dizem os lemas publicitários – a poesia surge como um elemento transfigurador deste tempo narcísico, onde o Eu se assume numa clara posição de centralidade não dando espaço ao “outro”, aos outros, à diferença, ao estranho; daí surgem também os discursos xenófobos, que aliás, já pendem sob as nossas cabeças.
– PGL: Qualquer leitora deste livro terá reparado, no fim, em que é até certo ponto uma obra meta-literária, que brinca com muito humor com o próprio papel do poeta, o seu lugar no mundo, o seu habitus. Que relação tens com o poema? Como surgiram estes aqui presentes, que conformam o Žižek?
– TAC: Tenho uma relação com o poema que vai do desejo à rejeição. A maioria das vezes não nos damos bem, ou, talvez, façamos de conta que não nos conhecemos, como se fossemos duas pessoas que se cruzam na rua e se olham, conheço-te de algum lado. Eu fico a olhar para ele, ele fica a olhar para mim, há uma tentativa de aproximação, imaginamos que qualquer coisa de singular poderá acontecer, e, de repente, afastamo-nos. Os poemas de Žižek vai ao ginásio seguem um fio condutor de Mecanismo de Emergência, são fruto da investigação que tenho desenvolvido nos últimos cinco anos e que se traduziram nestes dois livros que a Através Editora teve a enorme coragem de publicar; é um processo que passa por escavar na própria imprevisibilidade das coisas, no quotidiano, nos fenómenos comuns, farejando a vida numa tentativa de demolir-me a mim mesmo e revolucionar silenciosamente o meu modo de ver o mundo. (…)
– PGL: Aquilo que se impõe à (imagem de) liberdade parece percorrer sibilinamente o corpo deste livro-sistema nervoso. Qual é o fundamento político último desta tua obra?
– TAC: Gosto muito dessa tua definição de livro-sistema-nervoso. Quanto a esta questão, a Agustina Bessa-Luís tinha uma frase que me tem acompanhado ultimamente: Um país fabricado em miséria, é um país condenado à política. A poesia é uma forma de expressão cultural, sendo perfeitamente concebível o uso de uma estética poética para traduzir um conjunto de inquietudes políticas que invariavelmente marcam a minha obra. Espero que este livro seja acima de tudo uma proposta de revolução, ou até mesmo um último reduto de liberdade.
– PGL: Afirma-se no prólogo, após citar um dos poemas mais brilhantes do livro, que “as palavras contêm tudo: a denúncia e a citação, o relato e as suas feridas”. Escreve-se contra a linguagem, através da linguagem ou apesar da linguagem?
– TAC: Escreve-se sobretudo contra as amarras da linguagem. A própria leitura de poesia pode convocar um deliberado mal-entendido ou potenciar um conflito na linguagem ou mesmo ações que estourem com a domesticação da palavra que vive ao serviço do poder, seja ele qual for. Pensar a poesia também é mudar de posição relativamente à própria linguagem, ou como diria Gaston Bachelard, não olhar sempre da mesma maneira para as palavras; apesar da linguagem.”

Susana Sanches Arins: “Só a partir do teu eu mais eu podes chegar aos eus de qualquer outro lugar”

Entrevista a Susana Sanches Arins en aRi[t]mar:
“(…) – aRi[t]mar: Como valoras a situaçom atual da poesia galega?
– Susana Sanches Arins (SA): Acho que se numa cousa somos boas as galegas é na poesia. É um tópico e uma realidade a um tempo. Às vezes eu fago a piada de que na Galiza, se levantas uma laje, sai-che nom uma lagarta, mas uma poeta. Contamos com uma enorme variedade de vozes, de estilos diversos, com trajetórias longevas e experimentadas a combinar-se com novos talentos, das quais a seleçom do aRi(t)mar é um bom exemplo: aparece a merecidíssima Prémio Nacional (sic) de Poesia Pilar Pallarés a carom de Carlos Lixó, voz novíssima entre as novas, ou Celso F. Sanmartín, a voz nascida da tradiçom oral, a carom de Lucía Aldao, que traz o mundo urbano nos seus poemas.
Há uma figura retórica a que lhe dizem sobrepujamento. Consiste em falar muito bem das contrincantes para elevar o teu próprio valor. Pode parecer que é o que estou a fazer eu agora e nom há detrás essa intençom, mas a de manifestar o meu orgulho por fazer parte de um sistema tam produtivo e rico e diverso.
– A: Que fortalezas encontras no uso do idioma galego como escritora?
– SA: A de utilizar a ferramenta que melhor domino e que mais me liga com o mundo, pois é a minha língua. Nom pensei nunca em termos de fortaleza e debilidade, que é algo que se deduz da pergunta. Nom fiz uma análise DAFO antes de decidir que língua usar para a escrita. Uso a minha língua de vida, a do meu quotidiano, aquela com me relaciono com o meu entorno.
Sei que também há implicaçons políticas, pois ao ser utente também do castelhano, há uma escolha, um posicionamento, mas essas reflexons vêm depois da passagem natural de escrever na língua com que leio e apreendo a vida. A fortaleza? Nom há melhor maneira de fundir o pessoal com o global: só a partir do teu eu mais eu (e isso inclui a língua) podes chegar aos eus de qualquer outro lugar.
– A: Que transmitirias à gente que está a começar na poesia?
– SA: Que escreva. Muito. Que leia. Muito também. Mas que, sobretodo, atenda ao mundo. Que observe. Que abra olhos, orelhas, boca e pele. Porque é no quotidiano mais aparentemente banal onde se aparecem os melhores versos. (…)”