Teresa Moure: “Uma autora que abandona a literatura oficial para se situar nas margens não é amável”

EntrevistaTeresa Moure 2015 a Teresa Moure no Portal Galego da Língua:
“(…) – Portal Galego da Língua (PGL): Não é habitual a génese da história ser parte da própria história. Porque este recurso em Ostrácia?
– Teresa Moure (TM): A cápsula do romance histórico está superada, acho. Que alguém sente a escrever sobre a vida e milagres de gentes do passado, embora calme a angústia do presente, tem um ar hagiográfico perigoso. Cada ano publicam-se centos de romances históricos que se, ademais, versam sobre mulheres apagadas da história, têm o público assegurado. Mas essa revisão pode ser mesmo reacionária; serve para deslocar-nos do presente, que é o que temos a obrigação ética de mudar. Por isso, à hora de escrever sobre personagens «reais», e com alto valor simbólico, pensei que havia que romper o subgénero do romance histórico e deixar entrar as dúvidas de quem se está a documentar. Como há muita incerteza e falta de concordância entre as biografias de Inessa Armand e de Lenine, como é impossível, aliás, saber o que realmente aconteceu na sua intimidade, uma maneira de evitar que o romance exigisse uma erudita leitura historiográfica era introduzir no relato os próprios problemas que teria uma autora à hora de empreender o seu trabalho. Isso evita a ótica omnisciente e concede profundidade ao assunto da receção, porque eu sabia que um romance sobre leninismo afastaria muit@s hipotétic@s leitor@s da Ostrácia. O leninismo não é amável. Uma autora que abandona a literatura oficial para se situar nas margens também não é. Sabendo que Ostrácia ia ser recebida e interpretada nesse contexto, pensei que estava obrigada a ter a coragem de contar tudo isso. E introduzi uma personagem parcialmente autobiográfica –em parte um piscar de olhos a quem conhece a autora– para assim situar-me à mesma altura de Lenine e Armand. Se eu ia farejar na sua intimidade, o qual é delicado, exibir umas supostas vulnerabilidades minhas era o único exercício eticamente coerente.
– PGL: Ostrácia é um «ajuste de contas» com a história que apaga ou, no mínimo, assombra a figura de Inessa Armand, mas também ajusta outras dívidas…
– TM: Sempre que um ser humano é interpretado como personagem, por intranscendente que for essa condição de personagem, passa por uma etiquetagem. As etiquetagens são preconceitos e, portanto, negativas. É bastante evidente que a Inessa Armand, com um pouco que se pesquise sobre ela, era uma mulher adiantada ao seu tempo. Após ter casado com um homem de certa posição social e ter quatro filhos com ele, após ter fundado algumas sociedades protofeministas, um dia deixa que a casa vá pelo ar simplesmente porque namora… do seu cunhado, treze anos mais jovem do que ela. E vai embora com ele, mantendo os filhos e filhas consigo e conservando sempre uma magnífica amizade e cumplicidade com quem fora o seu marido. Mas torna-se numa mulher de péssima reputação, ao conviver com Volódia, numa relação que se manterá até a morte dele. Nessa época entra a fazer parte do partido Social-Democrata e tem uma atividade política de escassa intensidade, do ponto de vista revolucionário –na sua casa imprimia-se propaganda marxista e organizavam-se reuniões anti-czaristas, não muito mais–. Porém, isto é suficiente para a Okhrana, a polícia czarista, a enviar quatro anos para Mezem, como desterrada, como presa política. Só depois de todos estes episódios é que conhece Lenine e inicia essa relação que se narra em Ostrácia. Embora desempenhe importantes cargos na cúpula bolchevique e no governo revolucionário, Inessa Armand apenas vai ser conhecida, e pouco, como «a amante de Lenine». Não se trata, então, de que eu pretendesse fazer uma leitura em chave feminista, onde se revisasse a sua importância na história da revolução russa; a sua condição de deliberadamente esquecida está fora de dúvida. Foi apagada conscientemente no período estalinista para não sujar a imagem de Lenine. Mas ao narrar e atrever-me a romper a cápsula do género de que falávamos antes, saíam algumas conexões engraçadas entre a Inessa e eu, biográficas e psicológicas, e eu notava essa identificação. Inessa teria desejado uma segunda oportunidade, teria desejado, acho, que não só lhe correspondesse fazer os trabalhos sujos da política, e também que Lenine rompesse com a Nádia por ela. E a autora inevitavelmente via-se obrigada, à medida que reconstruia o relato histórico, a pensar em si própria como autora que estava a dar uma segunda oportunidade ao romance histórico com protagonista feminino e tinha, para ser tão coerente como a Inessa, que explicar a sua posição frente a algum texto que escrevera, de que não renegava em absoluto, mas que fora incorretamente etiquetado como «narrativa histórica feminina».
Eu escrevi Herba Moura e continuo a identificar-me com esse texto. Mas também tenho que enfrentar a realidade: nunca me será permitido nesta sociedade escrever outro texto que seja considerado «tão bom como» Herba Moura. Por ser reintegracionista, evidentemente, percebo como o que escrevo agora tem muitas mais dificuldades para se abrir passagem. Agora a minha escrita pertence a uma dissidência política que já tem nome. Está bem: era algo que assumi quando decidi vir para o lado escuro das normativas ortográficas. Não posso concorrer a prémios porque cometo o delito de escrever com «nh», que é um delito coletivo de todo o reintegracionismo, mas no meu caso tem o agravante de ter renunciado a uma certa consideração oficial. Não é assim tão fácil agora ser traduzida nem participar dos saraus da cultura, embora também não estou a chorar: o movimento reintegracionista há de conseguir a sua visibilidade em pouco tempo. Mas provavelmente sucederia igual se não tivesse dado esse passo. Para além de Herba Moura, publiquei outras 20 obras, por isso é estranho para mim quando chego a um sítio e sou mencionada como a autora desse romance, como se o texto me tivesse devorado… É que todo o pessoal gosta de romances histórico-feministas? Estranho! Outros textos mais elaborados, traduzidos também a outras línguas, não são mencionados nunca. Não gosto, por recato, de expor este tipo de dados mas é possível que o reintegracionismo precise fazer análises detalhadas e agora que o Mário Herrero está a ser tão valente, vou tentar apoiar a sua reivindicação sem falso pudor. Sou a autora de Herba Moura, mesmo se publiquei em todos os géneros literários, se me dediquei por duas vezes a um género tão pouco tratado por autoras femininas como o teatro, se uma obra de teatro minha para além de vários prémios, conseguiu ter toda uma temporada de representações continuadas em muitas vilas galegas a cargo duma companhia prestigiosa como Teatro do Atlántico ou se escrevi seis ensaios, dois deles ganhadores do único prémio de ensaio em galego. Se esse apagamento do resto do que estou a escrever fosse por um assunto de qualidade, ficaria descansada. Mas é que Herba Moura gostou porque recebeu uma leitura domesticada, como se fosse politicamente correto aceitar alguma vez um romance alternativo em chave moderadamente feminista, quando a meu ver as distintas edições, não necessariamente a de Xerais, foram acusando uma castração que pode comprovar-se no desenho da capa, no título ou na mutilação parcial do texto nas diferentes traduções; algo que a crítica, superficial, contribuiu a acrescentar. Havia razões para revistar o meu ponto de vista que alerta contra as censuras do nosso sistema literário e contra as suas manipulações. Finalmente, tentar que seja aceite o próprio ponto de vista é uma tática leninista. Há uns dias saiu uma crítica de Ostrácia onde o caro Mário Regueira declarava que eu tentava impor a minha leitura sobre a tensão da receção. Era atinado. Mas surpreendia-me que Regueira não advertisse o jogo: se escreves sobre Leninismo, tens que procurar essa hegemonia: erradicar os mencheviques. Não ficava outra possibilidade; fazia parte do projeto como jogo literário. (…)”

Pontevedra: actividades literarias destacadas do venres 4 no Culturgal

DoCulturgal 4 ao 6 de decembro, no Pazo da Cultura de Pontevedra, e con horarios de 11:00 a 21:00 horas o venres 4 e sábado 5, e de 11:00 a 20:00 horas o domingo 6, terá lugar o Culturgal 2015. O prezo das entradas é o seguinte:
– Xeral: 2 euros (1 día) | 3 euros (3 días).
– Menores de 12 anos: 1 euro (1 día) | 2 euros (3 días).
– Menores de 3 anos: gratis.

As actividades literarias destacadas do programa para o venres 4 son:
11:30 h. Encontro con Pere Tobaruela e Andrés Meixide, autores de Formig4s, publicados en Xerais. Espazo Foro. Actividade concertada con centros escolares.
12:45 h. Encontro con Ledicia Costas, autora de Escarlatina, a cociñeira defunta, publicada en Xerais. Espazo Infantil. Co ilustrador Víctor Rivas. Actividade concertada con centros escolares.
12:45 h. Sopa de estrelas. Urco Editora. Espazo Foro. Actividade concertada con centros escolares.
16:00 h. Asociación Galega da Crítica. Programa profesional. Aulas.
17:45 h. Presentación de Historia de Galicia, de David Pérez. Edicións do Cumio. Espazo Libro.
18:15 h. Presentación de Ostrácia, de Teresa Moure e Seique, de Susana Arins, publicados por Através Editora. Espazo Libro.
18:30 h. Presentación de Teño uns pés perfectos, de María Solar, publicado por Kalandraka Editora. A autora será entrevistada pola actriz e narradora Beatriz Campos. Espazo Foro.
19:00 h. Conversa ao redor do libro colectivo Tempos chegados? Sobre o futuro político de Galiza, publicado por Galaxia. Modera Víctor F. Freixanes, coa participación de Xavier Vence, Justo Beramendi, José Antonio Portero Molina e Joám Evans. Espazo Libro.
19:00 h. Sinaturas de Santiago Cortegoso, Elena Gallego Abad, Fran P. Lorenzo e Ledicia Costas. No stand de Xerais.
19:30 h. Presentación de Raclette, de Santiago Cortegoso, publicado en Xerais. Lectura dramatizada feita polo elenco da obra teatral. Espazo Libro.
20:00 h. Conversa con Fran P. Lorenzo, autor de Cabalos e lobos, e Ledicia Costas, autora de Un animal chamado néboa, publicados por Xerais. Conduce o xornalista Ramón Rozas. Espazo Libro.
20:30 h. Conversa con Antón Riveiro Coello, autor de Os elefantes de Sokúrov, publicado por Galaxia. Conduce o xornalista Ramón Rozas. Espazo Libro.

Bueu: presentación de Ostrácia, de Teresa Moure

ATeresa Moure quinta feira 26 de novembro, ás 20:00 horas, na Sala Amalia Domínguez Búa de Bueu (Rúa de Eduardo Vicenti, 2), a Asociación para o Debate Ricardo Gómez Buceta organiza a presentación de Ostrácia, de Teresa Moure, publicado en Através. No acto participan, xunto á autora, Carlos Eirea e Lucía Novas.

Taboleiro do libro galego XXXVII (outubro 2015), por Ramón Nicolás

Desde o blogue de Ramón Nicolás, Caderno da crítica:
“Nova entrega do Taboleiro do libro galego que, nesta ocasión, se articula mercé á colaboración das seguintes once librarías: Libros para Soñar, Andel, Casa do Libro e Cartabón de Vigo; O Pontillón de Moaña, Miranda de Bueu, Biblos de Betanzos, Trama de Lugo, Sisargas e Suévia da Coruña, Pedreira de Compostela e, finalmente, Cronopios de Pontevedra, a quen lle damos a benvida.

NARRATIVA
1º-. Morena, perigosa e románica, de Pedro Feijoo, Xerais.
2º-. A praia dos afogados, de Domingo Villar, Galaxia.
3º-. Cabalos e lobos, de Fran P. Lorenzo, Xerais.
4º-. Xeixos, de Suso Lista, Embora.
5º-. Interferencias, de Manuel Seixas, Xerais.
6º-. De remate, de Héctor Cajaraville, Xerais.
7º-. Por que as sombras non teñen ollos, de Luís Manuel García Mañá, Xerais.
8º-. Ostrácia, de Teresa Moure, Através.
9º-. seique, de Susana Sánchez Arins, Através.
10º-. A morte en Venecia, de Thomas Mann (tradución de Laureano Xoaquín Araújo Cardalda), Rinoceronte.

POESÍA
. Celebración, de Gonzalo Hermo, Apiario.
2º-. A boca da terra, de Manuel Rivas, Xerais.
3º-. Bazar de traidores, de Elías Portela, PEN Club.
4º-. Unha viaxe de ruminantes, de Baia Fernández de la Torre, autoedición.
5º-. Dez anos na Porta, A porta verde do sétimo andar.

ENSAIO-TEATRO
-. As mulleres do monte, de José Antonio Gurriarán, Galaxia.
2º-. Un cesto de mazás, de Montse Fajardo, autoedición.
3º-. A utilidade do inútil, de Nuccio Ordine, tradución de Carlos Acevedo, Faktoría K.
4º-. Indecencias e corruptelas, de Manuel Monge, Corsárias.
5º-. Lembranzas do meu vivir II, de Ramón Otero Pedrayo, Galaxia.
6º-. Poesía hexágono, Apiario.

XUVENIL
-. Como unha áncora, de Iria Collazo, Galaxia.
-. Dragal IV, de Elena Gallego, Xerais.
-. Non hai luz sen escuridade, de Andrea Barreira, Urco.
-. O álbum de Garrincha, de Beatriz Maceda, Galaxia.
-. Madonna e outros contos de inverno, de Manuel Rivas, Xerais.
-. Tes ata as 10, de Francisco Castro, Galaxia.
-. Ons, de Carlos Meixide, autoedición.
-. Bicha, de Eli Ríos, Deputación de Ourense.

INFANTIL
-. Escarlatina, a cociñeira defunta, Ledicia Costas – Víctor Ribas, Xerais.
-. O valente coello que quixo soñar, de Miguel Ángel Alonso Diz – Luz Beloso, Nova Galicia Edicións.
-. O meu pesadelo favorito, de María Solar, Galaxia.
-. Once damas atrevidas, de Oli e H. Thomassen, Kalandraka.
-. O monstro de cores, de Anna Llenas, Flamboyant.

LIBROS CD-DVD
-. Alegría!, Sérgio Tannus – Luís Barbolla (ilustracións), Galaxia.
2º-. Un conto ao revés, Chuches Amil, Galaxia.
3º-. Xiqui Xoque, fiú fiú!, de Uxía, Galaxia.
4º-. Unha viaxe polo mundo, de As Maimiñas, Galaxia.
5º-. Traca-Traco, de Paco Rivas e Alfonso Otero Regal, Edicións do Cumio.

BANDA DESEÑADA
1º-. O bichero V, de Luís Davila, Edición do autor.
2º-. O papiro do César, de  René Goscinny, Albert Uderzo, Jean-Yves Ferri e Didier Conrad, (trad. de  Xavier Senín e Isabel Soto), Xerais.
3º-. Marcopola 2, de Jacobo Fernández Serrano, Xerais.

Teresa Moure: “O Amor escreve-se em maiúsculas e o amor é entrega”

EntrevistaTeresa Moure de Xosé Mexuto a Teresa Moure en Sermos Galiza:
“(…) – Sermos Galiza: Por que o teu interesse pela figura de Lenine e os seus avatares sentimentais?
– Teresa Moure: Não me interesso pela figura de Lenine e, aliás, parece-me perigoso que se possa fazer essa leitura. Eu interesso-me pela figura de Inessa Armand que é uma bolchevique que passa à história infelizmente apenas como a amante de Lenine. Foi muito maltratada pela historiografia oficial, também pela marxista. Mas como acontece tantas vezes, quando narras a vida duma mulher importante na história, aparece aí um homem e todas as olhadas se concitam para vê-lo a ele.
Eu sabia que havia essa dificuldade, mais acho que Inessa vale tanto a pena que mesmo vou correr o risco de que se calhar os leitores não se sintam convocados por Ostrácia porque invoca o leninismo, a Lenine e por tanto o leninismo. E vou-no correr porque ela merece uma restituição histórica. E, bom, há uma série de circunstâncias pessoais que me levaram a me interessar por Inessa Armand que já estão relatadas no próprio romance. (…)”